27/10/2015 - 9:40
As emissões de dióxido de carbono e outros gases que retêm o calor devem, futuramente, cair para zero a fim de estabilizar o clima global, de acordo com cientistas que conduziram a maior conferência científica internacional sobre o clima realizada antes da Conferência das Partes das Nações Unidas de Paris, programada para dezembro. Mas eles também demonstraram um cauteloso otimismo de que a crescente dinâmica política significa que o limite máximo de dois graus centígrados acima da média ainda está ao alcance. Essas conclusões foram alcançadas durante a conferência Nosso Futuro Comum sob a Mudança Climática, realizada em julho na sede da Unesco, em Paris.
Durante a sessão de encerramento, Laurent Fabius, ministro dos Negócios Estrangeiros e Desenvolvimento Internacional da França, prestou homenagem aos esforços rigorosos da comunidade científica e ao papel essencial que ela desempenhou no acionamento do alarme, lançando “uma chamada de advertência em todo o mundo para definir as facetas do conhecimento climáticas. A primeira é que as consequências da inação seriam devastadoras e irreversíveis. A segunda é que ainda podemos agir. E a terceira é que temos de agir agora”.
“Vocês identificaram os perigos e os desafios futuros e um roteiro de como eles podem ser evitados”, disse Flavia Schlegel, diretora-geral adjunta de Ciências Naturais da Unesco, agradecendo aos participantes por suas contribuições. “Por meio de suas ideias, de sua visão e de suas recomendações, podemos ficar mais confiantes hoje de que a jornada poderá ser segura, inclusive para os mais vulneráveis à mudança climática.”
Segundo uma declaração divulgada no dia do encerramento da conferência, há “uma probabilidade de dois para três de que manter o aquecimento em 2°C ou menos vai exigir um orçamento que limite as emissões futuras de dióxido de carbono a cerca de 900 bilhões de toneladas, cerca de 20 vezes as emissões anuais em 2014”. Na prática, limitar o aquecimento global a 2°C acima dos níveis pré-industriais exigirá a redução das emissões de gases que retêm o calor em 40%-70% abaixo dos níveis atuais até 2050, para chegar a zero ou a um saldo negativo no final deste século.
Capacidade tecnológica
A comunidade científica está confiante de que temos as tecnologias de que precisamos para colocar o planeta em uma trajetória sustentável se agirmos agora. No entanto, políticas e investimentos efetivos são necessários para implantá-las de forma eficaz e alcançar essa meta. O ano de 2015 é crítico, com muitas oportunidades para compromissos globais, incluindo a definição das novas Metas de Desenvolvimento Sustentável e as negociações climáticas na COP21, em Paris. Para terem sucesso, esses compromissos devem estar refletidos nos níveis nacional e local e baseados em uma visão de mundo que leve em consideração a equidade e o bem-estar de todos os povos.
Cerca de 2 mil cientistas de quase 100 países passaram quatro dias na Unesco apresentando formas baseadas em evidências tanto para reduzir as emissões como para construir sociedades resilientes. O compromisso mostrou o empenho de toda a comunidade científica em contribuir para uma visão de longo prazo voltada para um futuro sustentável, trabalhando com a sociedade e com todas as partes interessadas a fim de elaborar e avaliar uma série de opções inclusivas. “Entramos em uma nova etapa para a ciência do clima, na qual a agenda da ciência está mudando – não se trata mais exclusivamente de nos alertar para os riscos, mas de contribuir cada vez mais para soluções”, observou Hervé Le Treut, presidente da Comissão Organizadora e diretor do Institut Pierre-Simon Laplace.
A reunião científica, organizada sob a égide do International Council for Science (ICSU), Future Earth, da Unesco e das principais instituições de pesquisa francesas, com o apoio do governo francês, considerou novos aspectos de projeções de mudanças climáticas, incluindo os impactos sobre a vida dos oceanos e as atividades econômicas em função do aumento da temperatura e a acidificação dos oceanos, com plena consideração de formas de limitar e gerir a mudança.