Incêndios florestais consomem área na Sibéria equivalente a dois terços da cidade de São Paulo. Altas temperaturas e chuvas escassas favorecem as chamas – para cientistas, um sinal claro das mudanças climáticas.Incêndios florestais de proporções monumentais na região ártica levaram as emissões de gases do efeito estufa ao seu terceiro maior nível das últimas duas décadas para o mês de junho, alertou nesta quinta-feira (27/06) o Copernicus, serviço de monitoramento climático da União Europeia.

Até então, as emissões no círculo ártico só haviam sido maiores em 2019 e 2020, com 16,3 megatoneladas e 13,8 megatoneladas, respectivamente. Em junho deste ano, as emissões foram até agora de 6,8 megatoneladas.

À medida em que as temperaturas sobem no Ártico, incêndios florestais passam a castigar também áreas de alta latitude, consumindo florestas boreais e tundras, e liberando vastas quantidades de gases causadores do efeito estufa que até então estavam confinados no solo.

A maior parte do fogo se concentra no nordeste da Rússia, em Iacútia, na região da Sibéria, onde grandes porções de floresta e estepe já foram destruídas no verão de 2021.

Dados das autoridades russas indicam que há 176 focos de incêndio, afetando uma área de 619 mil hectares – o equivalente a dois terços da área da cidade de São Paulo.

Mas o quadro pode piorar, já que o pico dos incêndios florestais no Hemisfério Norte do planeta só tende a ser atingido em julho e agosto.

Mudanças climáticas estão turbinando incêndios, alertam cientistas

Segundo o Copernicus, temperaturas muito acima do normal – até 7ºC acima da média registrada entre 1991 e 2020 – e chuvas escassas afetaram a região, favorecendo os incêndios. Esses eventos climáticos incomuns são exacerbados pela ação humana sobre o clima, alertou o órgão.

“Os incêndios crescentes na Sibéria são um sinal claro de alerta de que esse sistema essencial [o Ártico] está se aproximando de pontos críticos perigosos para o clima”, disse Gail Whiteman, professor da britânica Universidade de Exeter. “O que acontece no Ártico não fica ali. A mudança no Ártico amplifica o risco globalmente para todos nós.”

“O Ártico tem aquecido em um ritmo muito acima do ritmo do planeta como um todo. O resultado é que as condições em altas latitudes ao norte estão se tornando mais propícias aos incêndios florestais”, afirma Mark Parrington, do Copernicus.

A neve piora a qualidade do ar. Quando ela se deposita sobre a neve o gelo, também faz com que eles derretam mais rapidamente, liberando grandes quantidades de dióxido de carbono na atmosfera.

Estudo: incêndios no Canadá poluíram mais que a queima de combustíveis fósseis na Índia

Também nesta quinta, um estudo da Universidade de Maryland mostrou que os incêndios florestais em 2023 no Canadá liberaram mais dióxido de carbono no ar do que a queima de combustíveis fósseis pela Índia, país mais populoso do mundo. Também foram quase quatro vezes mais poluentes do que todo o tráfego aéreo do planeta em um ano inteiro – sendo que a aviação, responsável por 2,5% das emissões de carbono, é um dos maiores vilões do clima.

Segundo o James MacCarthy, um dos principais autores do estudo, as florestas removem muito carbono da atmosfera. “E isso fica armazenado nos galhos, troncos, folhas e meio que no solo também. Então, quando elas queimam, todo o carbono que estava nelas é liberado de volta na atmosfera.”

Isso, segundo MacCarthy, “definitivamente tem um impacto de escala global em termos de quantidade de emissões produzidas em 2023”.

Em 2023, os incêndios florestais no Canadá provocaram a perda de 27% de toda a cobertura florestal ao redor do planeta.

“Mesmo que a floresta eventualmente cresça de volta e retenha carbono, esse é um processo que vai levar no mínimo décadas. Então, há uma tremenda diferença entre o aumento de carbono na atmosfera por causa de um incêndio florestal e a eventual remoção de pelo menos parte disso pela floresta que volta a crescer. Ao longo dessas décadas, o impacto do fogo contribui para o aquecimento global”, afirmou à agência de notícias AP Jacob Bendix, da Universidade Syracuse.

ra (AFP, dpa, Reuters, AP)