Governo prometeu “ataque sem precedentes” em Khan Yunis, no sul do enclave palestino, onde vivem mais de 200 mil pessoas. Após pressão internacional, Netanyahu permite entrada “mínima” de ajuda humanitária.O exército israelense emitiu nesta segunda-feira (19/05) uma ordem de evacuação para os moradores da segunda maior cidade da Faixa de Gaza, Khan Yunis, onde vivem mais de 200 mil pessoas.

Avichay Adraee, um porta-voz militar, publicou a ordem em suas contas nas redes sociais, dizendo que toda a área “será considerada uma zona de combate perigosa” e que Israel prepara um “ataque sem precedentes”.

Também na segunda-feira, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reiterou que o país pretende controlar todo o território palestino.

“Há uma grande luta acontecendo. Vamos controlar todas as partes de Gaza. Mas temos que fazer isso de uma forma que não seremos parados”, disse Netanyahu em uma mensagem de vídeo.

Na gravação, o primeiro-ministro também afirmou que vai suspender o bloqueio à entrada de ajuda humanitária no território diante da pressão de aliados preocupados com “imagens de fome” no território palestino. A entrada de suprimentos, porém, será “mínima”.

Segundo ele, senadores americanos que ele conhece há anos como apoiadores de Israel, “nossos melhores amigos no mundo”, estavam dizendo a ele que as cenas de fome estavam drenando o apoio vital e levando Israel a se aproximar de uma “linha vermelha, um ponto em que poderíamos perder o controle”.

“Portanto, para alcançar a vitória, precisamos de alguma forma resolver o problema”, disse Netanyahu em uma mensagem aparentemente dirigida aos quadros de extrema direita de seu governo, que rejeitam a entrada de ajuda humanitária.

A mídia palestina disse que 50 caminhões transportando farinha, óleo de cozinha e legumes teriam permissão para entrar no pequeno território costeiro na segunda-feira, enquanto a mídia israelense disse que nove caminhões com alimentos para bebês deveriam entrar nas próximas horas.

A retomada de ajuda humanitária ao território devastado pela guerra acontece mais de dois meses após uma paralisação total da entrada de suprimentos básicos. Segundo Netanyahu, o bloqueio de bens — incluindo combustível, alimentos e remédios — tinha como objetivo aumentar a pressão sobre o grupo militante Hamas para a liberação de reféns.

A paralisação prolongada da ajuda agravou ainda mais a crise humanitária e levou a agências e países a alertarem para o risco de fome generalizada em Gaza.

Nova ofensiva militar

As decisões ocorrem em meio à nova operação militar de Israel em Gaza lançada há dois dias.

Ataques aéreos israelenses mataram pelo menos 40 palestinos nesta segunda-feira, de acordo com o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas. Os militares israelenses disseram ter atingido 160 alvos, incluindo posições antitanque, infraestrutura subterrânea e um ponto de armazenamento de armas, como parte do que foi chamada de “Operação Carruagens de Gideão”.

Um dos ataques matou sete pessoas em uma escola que abrigava famílias em Nuseirat, na região central de Gaza, e três em uma casa nas proximidades de Deir Al-Balah, segundo as autoridades de saúde locais. Nos últimos oito dias, 500 pessoas foram mortas em ataques em Gaza.

Fontes de ambos os lados informaram que não houve progresso em uma nova rodada de negociações indiretas de cessar-fogo entre Israel e o Hamas no Qatar.

Netanyahu disse que as discussões sobre o cessar-fogo abordaram uma nova trégua e um acordo de reféns, bem como uma proposta para encerrar a guerra em troca do exílio dos militantes do Hamas e da desmilitarização de Gaza.

Sami Abu Zuhri, oficial sênior do Hamas, culpou Israel pela falta de progresso nas negociações e disse que a intensificação da ofensiva seria “uma sentença de morte” para os reféns restantes.

A guerra devastou Gaza, deslocando quase todos os seus residentes e matando mais de 53 mil pessoas. O conflito eclodiu depois que militantes liderados pelo Hamas atacaram comunidades israelenses perto da fronteira de Gaza em 7 de outubro de 2023, matando cerca de 1.200 pessoas, a maioria civis.

gq (Reuters, AP)