24/04/2020 - 10:39
Arqueólogos da Flórida e da Geórgia (EUA) descobriram a localização do Forte San Antón de Carlos, lar de uma das primeiras missões jesuíticas da América do Norte. O forte espanhol foi construído em 1566 em Calos, capital dos calusas, a tribo nativa americana mais poderosa da região, na atual Mound Key, no centro da Baía de Estero, na costa do Golfo da Flórida e ao sul de Fort Myers. O artigo a esse respeito foi publicado na revista “Historical Archaeology”.
Arqueólogos e historiadores suspeitavam há muito tempo que o forte, cujo nome homenageia o santo católico padroeiro dos objetos perdidos, estava localizado em Mound Key. Os pesquisadores buscavam evidências concretas na área desde 2013.
“Antes do nosso trabalho, a única informação que tínhamos era de documentos espanhóis, que sugeriam que a capital dos calusas estava em Mound Key e que o Forte San Antón de Carlos também estava lá”, disse William Marquardt, curador emérito de arqueologia e etnografia do sul da Flórida no Museu de História Natural da Flórida. “Arqueólogos e historiadores haviam visitado o local e recolhido cerâmica da superfície, mas até que encontrássemos evidências físicas da casa e do forte do rei calusa, não podíamos ter certeza absoluta.”
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Os calusas eram um dos grupos politicamente mais complexos de caçadores-pescadores-coletores do mundo e resistiram à colonização europeia por quase 200 anos, disse Marquardt. Frequentemente considerados os primeiros “coletores de conchas”, eles usavam conchas como ferramentas, utensílios e joias, descartando os fragmentos em montes enormes. Eles também construíram estruturas maciças que atuavam como currais de peixes, fornecendo alimentos para sustentar projetos de construção em larga escala e uma população crescente.
Devastação por doenças
O reino de Calusa controlou a maior parte do sul da Flórida antes de ser devastado por doenças europeias. Os pesquisadores acreditam que, quando os espanhóis entregaram a Flórida aos britânicos, todos os calusas restantes já haviam fugido para Cuba.
Os pesquisadores continuam a questionar como os espanhóis sobreviviam em Mound Key e conseguiam os itens para suas necessidades diárias, apesar das remessas não confiáveis de suprimentos mínimos do Caribe e das relações tensas com os calusas, cujos suprimentos excedentes eram necessários para a sobrevivência. Único forte espanhol conhecido por ser construído em um monte de conchas, o Forte San Antón de Carlos foi abandonado em 1569, depois que a breve aliança dos espanhóis com os calusas se deteriorou, fazendo com que os calusas deixassem a ilha e os espanhóis os seguissem logo depois.
“Apesar de serem a sociedade mais poderosa do sul da Flórida, os calusas foram inexoravelmente atraídos pelos espanhóis para o sistema econômico mundial mais amplo”, disse Marquardt. “No entanto, mantendo-se fiel aos seus valores e modo de vida, os calusas mostraram uma resiliência incomparável à maioria das outras sociedades nativas no sudeste dos Estados Unidos.”
Pesquisadores da Universidade da Flórida, da Universidade da Geórgia (UGA) e estudantes da escola de arqueologia de campo da UGA usaram uma combinação de sensoriamento remoto, amostras de núcleo (coring), radar e escavações no solo para descobrir as paredes do forte e alguns artefatos, incluindo fragmentos e contas de cerâmica.
Arquitetura particular
O forte também é o exemplo norte-americano mais conhecido da arquitetura “tabby”, uma forma grosseira de concreto armado.
O “tabby” (também chamado de “tabbi” ou “tapia”) é produzido queimando conchas para criar cal, que depois é misturada com areia, cinzas, água e conchas quebradas. Em Mound Key, os espanhóis usavam tabby primitivo como argamassa para estabilizar os postes nas paredes de suas estruturas de madeira. O tabby foi usado mais tarde pelos ingleses em suas colônias americanas e nas plantações do sul.
Segundo Marquardt, embora a equipe tenha descoberto uma quantidade substancial de paredes que encontraram, ainda é apenas uma pequena amostra de todo o forte, e ainda existe muito mais para aprender e escavar.
“Ver as paredes retas do forte emergirem, apenas alguns centímetros abaixo da superfície, foi bastante emocionante para nós”, disse Marquardt. “Isso não apenas foi uma confirmação da localização do forte, mas também mostra a promessa de Mound Key de lançar luz sobre uma época na história da Flórida – e da América – que é muito pouco conhecida.”