16/10/2024 - 17:28
Um estudo publicado na quarta-feira, 9 de outubro, na revista Science Advances, revelou que dois fósseis ligados ao artrópode Arthropleura foram encontrados em Montceau-les-Mines, na França. O fóssil é pertencente ao período Carbonífero – época em que os níveis de oxigênio na atmosfera da Terra aumentaram, contribuindo para que algumas plantas e animais atingissem tamanhos gigantes.
O Arthropleura era o maior artrópode conhecido até então, com cerca de 3,2 metros de comprimento, e habitava o que atualmente é a América do Norte e a Europa. Os pesquisadores já tinham conhecimento de seus fósseis desde 1984. Porém, pouco se sabia sobre detalhes mais profundos de sua anatomia, já que nenhum dos achados anteriores tinha a cabeça bem preservada.
O item arqueológico forneceu informações anatômicas que serviram de material para que os cientistas classificassem o artrópode como “milípede primitivo enorme”, além de determinarem que ele não era um predador, e sim um comedor de plantas. “É um animal bastante majestoso, seu gigantismo lhe confere uma aura peculiar, como a aura das baleias ou elefantes. Adoro imaginá-lo como a ‘vaca’ do Carbonífero, comendo durante a maior parte do dia, mas, é claro, uma vaca com exoesqueleto e muitas pernas a mais.” disse o autor principal do artigo, Mickaël Lhéritier.
Os exemplares achados são de certa forma recentes, de cerca de 305 milhões de anos atrás. Na época, o local onde viviam estava perto do equador, tinha clima tropical e ambiente pantanoso com muita vegetação. O Arthropleura era o gigante desse ecossistema, mas as estruturas encontradas são de indivíduos com apenas quatro centímetros de comprimento.
A descoberta também indicou que a cabeça dele era circular, com mandíbulas fixadas, antenas finas e olhos pedunculados, além de possuir dois conjuntos de apêndices – sendo o primeiro curto e redondo e o segundo alongado e com formato semelhante a pernas. Os espécimes tinham 24 segmentos corporais e 44 pares de pernas, tendo um corpo construído para locomoção lenta.
“Mesmo que tivesse algumas partes bucais de centopeia, a anatomia de seu tronco parece indicar que não era carnívoro como as centopeias modernas, pois não possuía forcípulas —’presas’ de centopeia— ou quaisquer apêndices construídos para caça. Ter dois pares de pernas por segmento, como os milípedes, afetou sua locomoção e significa que era um artrópode bastante lento,” comentou Lhéritier.
Os pesquisadores chegaram à conclusão que ele era um detritívoro, semelhante aos milípedes modernos – e não um predador como as centopeias.
Todas as novas evidências anatômicas mostraram que o Arthropleura era a junção de várias características dos artrópodes posteriores, o apelidando de “milípede ancestral”. “Essas características anatômicas são bastante marcantes porque, mesmo que o corpo de Arthropleura exiba características semelhantes às de piolhos-de-cobra —dois pares de pernas por segmento—, as características da cabeça são uma mistura de piolho-de-cobra e centopeia”, complementou Lhéritier.