31/07/2025 - 16:21
Um réptil de 247 milhões de anos, batizado de Mirasaura grauvogeli, ostentava uma crista de estruturas complexas ao longo de suas costas que não eram nem pelos nem penas.
A análise, detalhada em um novo estudo na revista Nature, revela que o animal pertenceu a um terceiro ramo evolutivo que desenvolveu apêndices de pele elaborados, desafiando a ideia de que essa característica era exclusiva dos ancestrais de mamíferos e dinossauros.
“Se o víssemos com olhos modernos, como um animal vivo, seria algo totalmente único“, afirmou Stephen Poropat, paleontólogo da Universidade Curtin, classificando a descoberta como “extraordinária”.
A criatura, que viveu no início do período Triássico, não pertencia à linhagem que deu origem aos dinossauros e, consequentemente, às aves. “Mirasaura era um tipo de réptil muito diferente dos dinossauros e seus parentes próximos”, explicou Stephan Spiekman, principal autor do estudo e pesquisador do Museu Estadual de História Natural em Stuttgart, Alemanha.
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Mistério de décadas
Os fósseis do Mirasaura foram originalmente encontrados na década de 1930, no nordeste da França, pelo paleontólogo Louis Grauvogel. Ele descobriu os esqueletos junto a impressões em forma de leque, que deduziu serem barbatanas de peixes ou asas de insetos.
Já em 2019, a coleção de Grauvogel foi adquirida pelo museu de Stuttgart. Com isso, pesquisadores liderados por Spiekman registraram que os esqueletos e estruturas em forma de pluma pertenciam ao mesmo animal, nomeando-o Mirasaura grauvogeli, que significa “réptil maravilhoso de Grauvogel”.
Usando recursos como raios X e microscópios eletrônicos, a equipe descobriu que a crista não era composta de penas verdadeiras. Embora contivessem “melanossomas” — células de pigmento com formato próximo às encontradas em penas –, as estruturas não tinham um sistema de ramificação característico das penas modernas.
Etapas de evolução
A existência do Mirasaura tem profundas implicações para a ciência. “Antes dessa descoberta, acreditava-se que apenas pássaros e dinossauros desenvolviam estruturas semelhantes a penas”, afirmou John Long, paleontólogo da Universidade Flinders. “É o terceiro grupo de animais já descoberto que na verdade possui estruturas semelhantes a penas como parte de sua pele”.
Os cientistas especulam que a crista do Mirasaura era usada para objetivos de comunicação, como atrair parceiros ou intimidar rivais. Sua presença em uma época de experimentação evolutiva, pouco após a maior extinção em massa da Terra, sugere que o mundo Triássico pode ter sido habitado por criaturas muito mais estranhas do que imaginamos.
“Como o tecido mole raramente é preservado, estamos obtendo uma imagem incompleta do passado. É bem possível que não possamos simplesmente aplicar pele escamosa à maioria dos répteis ou aos mamíferos precursores do Triássico”, concluiu Poropat.