A descoberta de um minúsculo fóssil de inseto está desenterrando grandes questões sobre o movimento global de animais e a conexão com as mudanças climáticas e a movimentação dos continentes ao longo do tempo. O fóssil, com idade estimada em 50 milhões de anos, foi encontrado em rochas próximas à cidade de Kamloops, na Colúmbia Britânica (sudoeste do Canadá), mas hoje seus parentes vivem exclusivamente na Austrália.

A descoberta é a mais recente em um padrão de descobertas que estão levando os especialistas a contemplar uma conexão Canadá-Austrália não considerada anteriormente. Os paleontólogos Bruce Archibald, da Universidade Simon Fraser e do Museu Real da Colúmbia Britânica (Canadá), e Vladimir Makarkin, da Academia Russa de Ciências em Vladivostok, publicaram suas descobertas na revista “The Canadian Entomologist”.

De acordo com Makarkin, o fóssil faz parte da família Nymphidae. Pouco se sabe sobre esse grupo nos 66 milhões de anos após a extinção dos dinossauros. “Esses fósseis são raros”, disse ele. “Este é apenas o quarto encontrado neste período de tempo em todo o mundo e é o mais completamente preservado. Acrescenta informações importantes ao nosso conhecimento de como eles se tornaram modernos.”

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Os paleontólogos identificaram o fóssil pela rede característica de veias que cobriam suas asas. Eles enfatizam que fósseis como as novas espécies Nymphidae ajudam a entender os padrões em larga escala da distribuição moderna da vida em todo o mundo.

Continentes unidos

Insetos fósseis dessa era encontrados anteriormente na Colúmbia Britânica e no vizinho estado de Washington (EUA) mostraram conexões com o litoral do Pacífico da Rússia, a oeste, e com a Europa, a leste. Tais padrões não surpreendem, já que os continentes do norte estavam conectados na época.

Parente moderno do fóssil da Colúmbia Britânica: encontrado apenas na Austrália. Crédito: Dr. David Midgley/Wikimedia

“Cinquenta milhões de anos atrás, o nível do mar estava mais baixo, expondo mais terras entre a América do Norte e a Ásia, e o Oceano Atlântico não havia se ampliado, deixando a Europa e a América do Norte ainda unidas em altas latitudes”, afirmou Archibald. Segundo ele, o extremo norte também experimentou climas mais quentes, ajudando uma variedade de animais e plantas a se dispersar livremente entre os continentes setentrionais.

A conexão australiana é mais intrigante, pois não existe uma conexão terrestre clara. Naquele tempo, aquele continente estava mais perto da Antártida e mais distante da Ásia do que hoje. Havia, portanto, enormes barreiras oceânicas para a vida se dispersar entre ele e a costa oeste do Canadá.

O Nymphidae ancestral junta-se a outros fósseis de insetos da Colúmbia Britânica e de Washington cujos parentes modernos vivem apenas na região da Austrália. Isso inclui formigas do gênero Myrmecia, uma família de cupins e uma espécie de vespa parasitoide.

Clima pode ser a chave

Para Archibald, “está surgindo um padrão que ainda não entendemos, mas que tem implicações interessantes”.

Os pesquisadores sugerem que a resposta pode estar ligada ao clima. As florestas do antigo planalto temperado da Colúmbia Britânica onde viviam esses insetos Nymphidae tinham invernos muito amenos, provavelmente sem dias de geada.

O clima da Austrália moderna compartilha esses invernos amenos, mesmo em regiões temperadas. “Pode ser que esses grupos de insetos hoje estejam restritos a regiões do mundo onde os climas se assemelham a 50 milhões de anos atrás nas montanhas do oeste do Canadá”, afirmou Archibald.

Archibald e Makarkin enfatizaram que é importante entender as pequenas coisas para apreciar o quadro geral. “Quanto mais sabemos sobre esses insetos, mais podemos juntar a história de como o clima e o movimento dos continentes moldaram os padrões globais das distribuições de vida que vemos no mundo moderno”, afirmou Makarkin. “Para entender onde estamos hoje e para onde estamos indo com as grandes mudanças que estamos vendo no clima global, precisamos entender o que aconteceu no passado profundo.”