30/04/2019 - 10:22
Se um dia safári foi sinônimo de caça, hoje o termo está bem mais associado a passeios para apreciação de espécies em áreas preservadas. Afinal, está mais do que provado que os animais têm muito mais valor vivos do que mortos. Até a expressão “safári fotográfico”, que passou a ser usada para não deixar dúvidas sobre essa proposta, já está ganhando novas dimensões com as expedições especiais preparadas para as lentes dos apaixonados pela fotografia de vida selvagem e natureza.
O fotógrafo Luiz Carlos dos Santos Jr. descobriu quase que por acaso esse interesse de colegas profissionais e amadores. Depois de se aventurar por diferentes países da África para realizar seu sonho de infância, começou a vender imagens, a receber pedidos de palestras e de viagens que permitissem a mais gente viver a experiência de capturar a aura desses lugares e dos animais típicos dali.
Em vez de optar pelos tradicionais “lodges” africanos – hotéis de três a cinco estrelas – ou por acomodações ainda mais luxuosas dentro dos parques, Luiz Carlos montou uma estrutura alternativa de acampamento. Pela sua experiência, dormir e acordar no ambiente que se quer fotografar traz resultados infinitamente melhores.
Fora dos padrões
Ele conta com quatro profissionais locais em cada um dos seis países que conhece tão bem quanto o quintal de casa: África do Sul, Botsuana, Namíbia, Quênia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue. Eles montam as barracas e toda a estrutura ao redor; oferecem café, almoço, jantar, além do conhecimento de quem nasceu e cresceu na região. “E ainda entendem de fotografia – o que faz toda a diferença. Eles sabem definir o melhor posicionamento do jipe em relação à luz do momento”, afirma.
Formados por no máximo seis pessoas, os grupos viajam por 12 dias, em média. Embora seja um pacote fechado, Luiz Carlos adverte que não é um produto comercial nos moldes tradicionais. “Não basta comprar, embarcar e conhecer o guia no dia do passeio. Faço entrevista com quem quer ir, existem alguns requisitos.” Para ele, é importante que os integrantes do grupo estejam em sintonia. “A fotografia requer muita atenção, inspiração e muito tempo de dedicação. Todo mundo fica muito calado, viajando nas cenas que está vendo e capturando. E a natureza não combina com conforto. Ela é implacável. Os perrengues são inevitáveis, mas eu chamo de ‘perrengues-coxinha’.”
Luiz Carlos também faz questão de fugir do estilo comercial nos destinos escolhidos. Lugares menos explorados são a preferência, como o Delta do Okavango, em Botsuana; o deserto de Kalahari, entre Botsuana, África do Sul e Namíbia; Victoria Falls, no Zimbábue; reservas de leopardo e rinoceronte, em Zâmbia; e a migração de gnus, zebras, gazelas e elandes, no ecossistema do Serengeti, que abrange Quênia e Tanzânia. “Esses países formam um corredor onde ainda existem muitos animais vivendo em estado natural, com uma vida selvagem muito ativa”, destaca.
Para surpresa do próprio Luiz Carlos, as pessoas mais interessadas nessa aventura têm sido as mulheres. “Elas representam 90% do meu público. Depois de conhecerem a proposta, as mulheres decidem e fazem a reserva, enquanto um homem leva seis meses para entrar numa viagem dessas. Impressionante.”
Sua “publicidade” também não segue os modelos comerciais. As imagens feitas por Luiz Carlos são bastante fidedignas dos lugares e dos animais que encontra. Ele não faz nenhuma edição nas suas fotos. “Eu trabalho a foto na câmera, na hora dos cliques. No máximo, um ajuste de cor muito sucinto na hora de imprimir. Eu nem tenho programas como Lightroom, Photoshop.”
Onde tudo começou
A fotografia teve início na vida de Luiz Carlos em 1988, ano em que se mudou para a capital inglesa, Londres. Mas foi em uma viagem para a Escócia que ele encontrou sua especialidade. “Eu sempre adorei estar no meio do mato, mas quando juntei câmera e natureza me deu o grande clique e acabei concentrando minhas lentes nisso. Na natureza, a inspiração vem muito mais fácil e flui muito melhor para mim.”
Quando ele voltou para sua terra natal, Santos (SP), em 1994, afastou-se da fotografia no dia a dia por longos anos. Só em 2010, quando conheceu a África, o hobby reconquistou espaço na sua vida, mas nunca foi seu sustento, embora hoje já lhe remunere bem. Há alguns anos com a galeria Wildlife Photography, e por conta de publicações, palestras e workshops, vendas de imagens e das expedições, iniciadas em 2015, hoje ele divide seu tempo quase pela metade entre os cliques e sua empresa SA Commodities, de pesquisa do mercado e fretamento de navios de açúcar e grãos do Brasil para o exterior.
Assim como no trabalho, as aventuras de Luiz Carlos estão sempre expandindo fronteiras. Agora ele está se preparando para desbravar a Mongólia. “Vou para as Montanhas Altai fotografar as águias caçadoras e a saída dos nômades daquela região no inverno.” E isso requer muito preparo. “Ir para a natureza sem conhecimento é sinônimo de desastre. É preciso conhecimento do seu assunto e do seu equipamento! E um parafuso a menos na cabeça para se meter nesses lugares…”, brinca.