07/06/2025 - 12:15
Em viagem oficial ao país, líder brasileiro saudou novos investimentos de empresas francesas, mas não conseguiu obter de Macron compromisso com o acordo entre Mercosul e UE.O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste sábado (07/06) que 15 empresas da França com negócios no Brasil em setores variados anunciaram planos de investir R$ 100 milhões em cinco anos no país.
O líder brasileiro está desde quarta-feira na França em uma extensa viagem oficial, e na sexta-feira participou em Paris do Fórum Empresarial Brasil-França, que reuniu autoridades e cerca de 600 empresários dos dois países.
“Em um mundo cada vez mais complexo, é fundamental que parceiros históricos se unam para enfrentar as incertezas e as instabilidades da economia global. Estamos determinados a alcançar o potencial dos dois países”, afirmou Lula.
Investimentos previstos
Uma lista completa dos investimentos anunciados não foi divulgada. A ApexBrasil, agência do governo brasileiro voltada à promoção de exportações e atração de investimentos, mencionou cinco deles:
A Engie, que atua no setor de geração de energia, planeja investir cerca de R$ 8,5 bilhões de 2025 a 2027 em conjuntos eólicos e fotovoltaicos e sistemas de transmissão.
O grupo CMA CGM, que atua no setor de transportes marítimos e comprou em setembro passado 48% da Santos Brasil, prevê novos investimentos no Tecon Santos, o maior terminal de contêineres do país, localizado no Porto de Santos.
A Total Energies, que atua no setor petroquímico e energético, planeja investir cerca de R$ 6 bilhões nos próximos cinco anos.
A multinacional francesa Lactalis, que atua no setor de produtos lácteos e é dona das marcas Itambé e Batavo, entre outras, prevê investimento de R$ 291 milhões para ampliar a sua unidade de Uberlândia (MG) até 2027.
A Vinci Highways, que tem concessões rodoviárias e venceu em setembro passado o leilão de um trecho de 594,8 km da BR-040 entre Belo Horizonte (MG) e Cristalina (GO), prevê investimentos de R$ 12 bilhões.
A França é atualmente o terceiro país no mundo com maior estoque de investimentos diretos no Brasil, com 66,34 bilhões de dólares em estoque, e o segundo maior europeu, atrás apenas da Holanda, segundo a ApexBrasil.
Críticas ao baixo fluxo comercial bilateral, defesa de acordo com UE
No quesito fluxo comercial, porém, a relação entre Brasil e França não é tão vistosa. Em 2024, o comércio entre dois países atingiu 9,1 bilhões de dólares, atrás, por exemplo, do Vietnã. Com a Alemanha, o fluxo comercial em 2024 foi de 19,5 bilhões de dólares.
“É uma vergonha que um país do tamanho do Brasil, oitava economia do mundo, e um país do tamanho da França, que é a quinta ou a sexta, só tenha fluxo de 9 bilhões de dólares. É pouco. Nós temos com o Vietnã, que é muito mais recente a nossa relação, 13 bilhões de dólares de fluxo comercial”, afirmou Lula.
A principal aposta do líder brasileiro para aumentar o comércio com a França é a assinatura do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE).
O texto enfrenta a oposição de um grupo de países do bloco liderado pela França, que considera que agricultores e pecuaristas europeus competiriam sob padrões ambientais e de saúde mais rigorosos do que os sul-americanos, gerando desigualdade. E Lula não conseguiu obter do presidente francês, Emmanuel Macron, um compromisso sobre o tema.
Mesmo assim, neste sábado, Lula afirmou que acordo será assinado antes do fim da presidência interina brasileira do bloco sul-americano, em 6 de dezembro. “O acordo será assinado antes da minha saída”, disse. Ele argumentou que isso seria também uma resposta ao “retorno do unilateralismo e do protecionismo tarifário”, referindo-se às tarifas impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
O tema foi tratado ao longo da semana com Macron, que manteve sua resistência ao acordo. “Não sei como explicar aos meus agricultores que, em um momento em que estou pedindo que eles cumpram mais normas, [e no outro] estou abrindo meu mercado em grande escala para pessoas que não cumprem nada”, afirmou o presidente francês na quinta-feira. “Não será melhor para o clima, mas destruiremos completamente nossa agricultura.”
Ao lado de Lula, Macron defendeu uma cláusula de reciprocidade, que aplicaria os mesmos padrões fitossanitários em ambos os blocos, e uma cláusula de “freio”, que paralisaria parte do acordo caso um setor específico fosse desestabilizado em decorrência de uma concorrência considerada desleal.
O brasileiro rebateu que o protecionismo é “coisa do passado” e expressou surpresa que os europeus, que estavam na vanguarda do livre-comércio há algumas décadas, sejam agora os defensores das barreiras comerciais. Ele também reforçou a preocupação brasileira em combater o desmatamento.
Apesar de os termos já terem sido aceitos pela Comissão Europeia em dezembro passado, o texto do acordo Mercosul-UE ainda precisa ser revisado juridicamente, traduzido, assinado e chancelado pelos membros dos blocos. Para ser aprovado, o acordo precisa do apoio de pelo menos 15 dos 27 estados da UE.
bl (EFE, ots)