GHF anunciou encerramento de suas atividades 6 semanas após cessar-fogo. Entidade, apoiada pelo EUA e Israel e que tomou lugar de agências da ONU em maio, foi acusada de ser corresponsável por morte de palestinos.Criticada por supostamente gerir mal a distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza e atuar primariamente a serviço dos interesses do governo de Israel, a Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês) anunciou nesta segunda-feira (24/11) o encerramento definitivo de suas atividades no território palestino.

“A GHF hoje anunciou a conclusão bem-sucedida de sua missão de emergência em Gaza, após entregar mais de 187 milhões de refeições gratuitamente a civis que vivem em Gaza”, afirmou a entidade em nota.

Segundo o diretor da fundação, John Acree, a GHF passaria o bastão agora a um centro em Israel liderado pelos EUA encarregado de monitorar o cessar-fogo, que está em vigor desde 10 de outubro.

Criada com apoio dos Estados Unidos e de Israel, a GHF assumiu em maio a administração de pontos de distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, após Israel impor um cerco à região.

Na prática, a entidade tomou o lugar de agências da Organização das Nações Unidas (ONU), cuja atuação foi severamente restrita pelo governo israelense, sob o argumento de evitar o desvio de cargas de alimentos e medicamentos pelo grupo palestino Hamas.

A GHF começou administrando quatro centros em Gaza e era duramente criticada pelas agências da ONU, que até então mantinham 400 pontos de ajuda humanitária no território. A entidade teria sido “explorada para agendas militares e geopolíticas disfarçadas” , segundo alegado por um painel de especialistas da ONU em agosto.

Críticos da GHF afirmam que o modelo da fundação forçava palestinos desesperados por comida a arriscarem suas vidas para conseguir alguma ajuda, colocando-os na rota de tiro de militares israelenses .

O Escritório de Direitos Humanos da ONU afirma que centenas de palestinos teriam sido mortos assim . Já o exército israelense diz que apenas fez disparos de advertência para reagir a ameaças às tropas e evitar tumulto.

Casa Branca agradece

O Departamento de Estado dos EUA agradeceu à GHF pelo trabalho humanitário em Gaza, afirmando que ele foi decisivo para o cessar-fogo. “O modelo da GHF, em que o Hamas já não podia mais saquear e se beneficiar do roubo de ajuda humanitária, contribuiu enormemente para trazer o Hamas à mesa e conseguir um cessar-fogo”, afirmou um porta-voz via X.

Já o Hamas exigiu que a GHF seja responsabilizada por danos aos palestinos. “Apelamos a todas as entidades internacionais de direitos humanos, para que garantam que ela [a GHF] não escape da responsabilização após causar a morte e machucar milhares de palestinos e acobertar a política de fome praticada pelo governo [israelense]”, declarou um porta-voz via Telegram.

O Hamas, que liderou o ataque de 7 de outubro de 2023 contra Israel que deixou cerca de 1,2 mil mortos e desencadeou o atual conflito na Faixa de Gaza, é considerado uma organização terrorista por Estados Unidos e União Europeia, entre outros países.

ra (AP, AFP)