Países citam financiamento climático e pedem paz na Ucrânia. Texto é mais brando sobre super-ricos que o anterior, acordado no Rio de Janeiro. EUA boicotaram evento.Líderes mundiais presentes na cúpula do G20, na África do Sul, adotaram neste sábado (22/11) uma declaração sobre desafios globais, apesar da oposição dos Estados Unidos. O país boicotou o evento e fez pressão para que não houvesse resolução conjunta.

A medida rompeu com o protocolo, já que declarações deste tipo costumam ser chanceladas e divulgadas apenas ao final das cúpulas do G20. O atual encontro deve encerrar apenas no domingo.

A declaração de 122 pontos exigiu mais ação global para enfrentar as mudanças climáticas.

Aprovada no mesmo dia em que terminaram as negociações da COP30 no Brasil, os líderes reconheceram que investimentos e financiamento climático precisam ser ampliados “de bilhões para trilhões globalmente, a partir de todas as fontes.”

O texto também abordou a necessidade de reformar os sistemas financeiros internacionais para ajudar países de baixa renda a lidar com suas dívidas.

A linguagem sobre taxar os super-ricos foi mais branda do que na declaração anterior do G20, ocorrida no Rio de Janeiro, onde os líderes haviam concordado pela primeira vez em “garantir que indivíduos de altíssimo patrimônio líquido sejam efetivamente tributados.”

Os representantes também pediram uma “paz justa, abrangente e duradoura” na Ucrânia, Sudão, República Democrática do Congo e no “Território Ocupado da Palestina”, com base na Carta da ONU.

Embora a Ucrânia tenha aparecido apenas uma vez nas 30 páginas do documento, líderes ocidentais na cúpula se mobilizaram paralelamente para discutir um plano de paz proposto pelos EUA que encerraria a guerra em termos considerados favoráveis à Rússia.

EUA boicotam evento

A cúpula deste ano foi marcada pela decisão do presidente Donald Trump de não enviar uma delegação americana. Autoridades sul-africanas disseram que Washington pressionou o país a não adotar uma declaração em sua ausência. “Não devemos permitir que nada diminua o valor, a estatura e o impacto da primeira presidência africana do G20”, disse o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa em seu discurso de abertura.

Embora a maior economia do mundo tenha boicotado o encontro, Ramaphosa defendeu que o G20 continua desempenhando papel essencial na cooperação internacional.

“O G20 ressalta o valor e a relevância do multilateralismo. Reconhece que os desafios que enfrentamos só podem ser resolvidos por meio de cooperação, colaboração e parceria”, declarou o anfitrião da cúpula.

Apesar do otimismo de Ramaphosa, o presidente francês Emmanuel Macron observou que “o G20 pode estar chegando ao fim de um ciclo.”

“Vivemos um momento geopolítico em que temos dificuldade em resolver grandes crises juntos em torno desta mesa, inclusive com membros que não estão presentes hoje”, disse Macron.

O primeiro-ministro britânico Keir Starmer concordou com o alerta. “Não há dúvida, o caminho à frente é difícil. Precisamos encontrar maneiras de desempenhar novamente um papel construtivo diante dos desafios globais”, afirmou.

O premiê chinês Li Qiang, que participou no lugar do presidente Xi Jinping, declarou que “o unilateralismo e o protecionismo estão desenfreados”.

Lula defende troca de dívida por ação climática

Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a taxação de super-ricos e a troca de dívidas dos países mais pobres por investimentos em desenvolvimento e em ação climática consistente.

“Está na hora de declarar a desigualdade uma emergência global e redesenhar regras e instituições que sustentam assimetrias”, disse ao defender a proposta da África do Sul de criação de um Painel Independente sobre Desigualdade, nos moldes do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, debate liderado economista ganhador do prêmio Nobel Joseph Stiglitz.

Na ocasião, Lula também elogiou o esforço feito na COP30 para alcançar uma declaração que, segundo ele, é baseada na ciência. O objetivo inicial do Brasil de incluir no texto um “mapa do caminho” para o fim do uso de combustíveis fósseis, porém, não entrou no acordo final.

gq (DW, AP, AFP, Reuters)