25/11/2025 - 12:34
Em “The Berlin Apartment”, jogadores assumem papel de antigos moradores de um apartamento, vivenciando como a história marcou cotidiano na capital alemã, passando pela 2º Guerra, comunismo e pandemia de covid-19.A história do jogo de narrativa interativa The Berlin Apartment (“O Apartamento de Berlim”) começa em pleno isolamento social durante a pandemia de covid-19 na Alemanha , em 2020. Quase ninguém está nas ruas. Cafés fechados, centros de testagem surgindo em cada esquina.
Como as crianças não podem ir à escola, Dilara, uma aluna do segundo ano do ensino fundamental, acompanha seu pai, Malik, ao trabalho. Ele é um pedreiro que foi contratado para reformar um antigo apartamento em Berlim . Durante o trabalho, eles arrancam o papel de parede e quebram azulejos e, ao fazê-lo, descobrem vestígios de antigos moradores.
Pouco a pouco, os jogadores assumem os papeis dos personagens e embarcam em uma jornada de aproximadamente quatro horas através de cerca de 100 anos da história alemã.
Da Segunda Guerra Mundial à pandemia
As histórias se passam nos anos de 1933, 1945, 1967, 1989 e 2020. Elas abordam, entre outros temas, a perseguição aos judeus sob o nazismo, a destruição durante a Segunda Guerra Mundial , a sobrevivência no período do pós-guerra e a opressão na antiga Alemanha Oriental . Uma certa melancolia permeia quase todos os episódios.
A história de Mathilda é particularmente comovente. A jovem sente falta do pai, um soldado altamente condecorado que nunca retornou da guerra – a guerra iniciada pela Alemanha nazista . No Natal, ela decora o quarto que divide com o irmão e a mãe com os poucos pertences que possuem: estrelas de palha, medalhas e cartuchos que encontrou nos escombros. Durante um modesto jantar natalino no inverno de 1945, ela pergunta: “Mãe, nós somos os vilões?”
Até 1933, o apartamento da família pertencia a Josef, um judeu proprietário de um cinema que foi incendiado pelos nazistas. Os jogadores também assumem o papel dele, enquanto o personagem prepara sua mala para sua fuga para Paris.
O tique-taque de um relógio, gritos no corredor e batidas agressivas nas portas do prédio aumentam consideravelmente a tensão. Ao mesmo tempo, a última caminhada de Josef por seu apartamento é uma jornada através de sua vida e uma celebração do cinema e da arte.
Histórias fictícias em contexto histórico
As histórias dos moradores são fictícias. “Nós as inventamos para entreter, mas elas sempre se passam em um contexto histórico”, diz Florian Köhne, diretor do estúdio independente de jogos Blue Backpack, com sede em Berlim, responsável, entre outras coisas, pelo conceito e design do jogo. “Tentamos transmitir a história de uma forma que não exija muito conhecimento prévio”, explica.
Os que se envolverem com o jogo e explorarem meticulosamente o apartamento encontrarão muitas pistas que, gradualmente, formam um quadro completo.
Os jogadores terão uma ideia de como é viver como uma pessoa comum em tempos extraordinários. Através dos olhos dos moradores do apartamento (perspectiva em primeira pessoa), eles vivenciam em primeira mão o quanto os sistemas políticos restringem a vida pessoal e o progresso e aprendem a valorizar o privilégio de viver em paz e liberdade.
Destinos individuais em vez de jornadas heroicas
Não há histórias heroicas no jogo. Ninguém tem superpoderes, armas ou habilidades sobrenaturais. Todos estão simplesmente tentando sobreviver.
Muitos se desesperam com o sistema, como a escritora da Alemanha Oriental que queria escrever um romance espacial com uma protagonista feminina de personalidade forte, mas precisou reescrever seu texto repetidamente porque não agradava ao regime da Alemanha Oriental. Apesar disso, ela se sentava repetidamente à sua máquina de escrever, fumava, datilografava e, a contragosto, atendia às exigências das autoridades para que o livro pudesse ser publicado.
O jogo evita deliberadamente fazer julgamentos, como por exemplo, quem é bom, quem é mau, quem é um seguidor, quem apoia o sistema político. Não é disso que se trata, mas sim, da vida sob diferentes sistemas políticos; de quanto esses sistemas restringem a liberdade das pessoas e a que conclusões elas chegam a partir disso: elas fogem, se conformam com seus destinos ou simplesmente tentam tirar o melhor proveito da situação?
Quebras e continuidades
A ideia para o jogo surgiu para o diretor de arte e de jogos, Hans Böhme, num dia em que ele estava parado em frente janela de seu antigo apartamento em Berlim e se perguntou quantas pessoas antes dele poderiam ter estado naquele mesmo lugar, olhando pela mesma janela.
É bastante surpreendente o quanto a vista da janela para o cruzamento das ruas muda ao longo das décadas durante o jogo. Onde em 1933 os bondes ainda circulavam sob bandeiras com suásticas, havia no pós-guerra a chamada faixa da morte, cercada por muros e cercas na fronteira que separava Berlim Oriental de Berlim Ocidental.
Assim como os moradores, o apartamento e o cruzamento não existem na realidade. São composições de modelos da vida real. Os criadores do jogo se inspiraram em diversos apartamentos e museus antigos de Berlim, bem como em uma antiga padaria que permanece inalterada desde a década de 1950.
A inspiração para o jogo vem de games narrativos como What Remains of Edith Finch (“O que resta de Edit Finch”, em tradução livre”) de 2017, e Firewatch (2016). No primeiro, os jogadores exploram a casa vazia da família americana Finch na pele de seu último membro sobrevivente, mergulhando cada vez mais fundo na fascinante história da família. Em “Firewatch”, os jogadores assumem o papel de um guarda florestal que monitora uma área de mata e faz descobertas misteriosas durante suas patrulhas. Também nesse caso, uma narrativa emocional se desenrola gradualmente.
The Berlin Apartment pertence à categoria de jogos que antes eram chamados, de uma forma um tanto depreciativa, de walking simulators (“simuladores de caminhada”), porque os jogadores “apenas” caminham por um mundo onde precisam encontrar e coletar itens e, fora isso, têm pouco o que fazer. Esses games geralmente não trazem muitos desafios no que diz respeito à jogabilidade, mas são atraentes por se destacarem em termos de narrativa.
“Como eu teria agido?”
O fato de os personagens de The Berlin Apartment serem pessoas comuns permite que os jogadores se identifiquem facilmente com eles e se perguntem: “como eu teria agido? de que lado eu estaria? teria me submetido ao sistema político ou teria me libertado, mesmo correndo o risco de perder meu sustento, ser preso ou morto?”
Todas essas são questões que permanecem extremamente relevantes nos dias de hoje. Talvez não necessariamente na Alemanha, mas certamente em regimes autoritários e zonas de conflito ao redor do mundo, onde nem todos têm liberdade para viver.
“The Berlin Apartment” foi lançado em 17 de novembro de 2025 para todas as plataformas, dublado em alemão e inglês e com legendas em diversos idiomas, incluindo português do Brasil, francês, italiano, espanhol, turco, ucraniano, polonês, coreano, russo, japonês, chinês e tailandês.
