É óbvio para muitos de nós que os irmãos costumam ser muito diferentes uns dos outros. Judy Dunn, professora emérita de psicologia do desenvolvimento no King’s College London, e Robert Plomin, professor de genética comportamental na mesma instituição, foram alguns dos primeiros estudiosos a começar a questionar por que isso acontece.

Com base nas diferenças que notaram nos filhos de Dunn, nos últimos 30 anos, eles testaram as variações de caráter e personalidade dos irmãos. Parece que eles chegaram mais perto da resposta de por que até mesmo gêmeos idênticos que vivem sob o mesmo teto às vezes podem ser completamente diferentes.

Quão geneticamente semelhantes são irmãos?

A genética geralmente prevê como os irmãos serão diferentes. “Como você e seu irmão são 50% semelhantes geneticamente, isso significa que vocês também são 50% diferentes geneticamente”, explicou Plomin.

Se fosse tão fácil, os irmãos seriam meio diferentes e meio iguais, mas a genética não é tão simples assim. Nem todos os genes são transmitidos da mesma forma, uma vez que passam por alguma reorganização durante o processo de reprodução.

E não são muitas as características previstas apenas por um gene. De acordo com os especialistas, mesmo uma característica tão simples quanto a cor dos olhos é ditada por uma combinação de genes trabalhando juntos.

Embora a cor dos olhos seja, na verdade, o resultado de cerca de 16 genes diferentes misturados, os traços de personalidade são decididos por um número ainda maior de genes meticulosamente ligados em combinações e fórmulas variadas. Mude apenas um gene e o resultado será completamente diferente. Assim, a personalidade é ainda menos hereditária do que outras características.

“Quanto mais hereditária for uma característica, como a altura, menores serão, em média, as diferenças entre irmãos. O peso, novamente, é surpreendentemente hereditário. Mas irmãos são um pouco mais diferentes quando se trata de habilidades cognitivas, que são menos hereditárias do que peso e altura, e ainda menos semelhantes quando se trata de personalidade e psicopatologia”, acrescentou Plomin.

De onde vem toda a diferença?

A genética ajuda a explicar as semelhanças entre irmãos, mas não tanto as diferenças. Fatores ambientais podem explicar o resto. Crianças que crescem com os mesmos pais, que frequentam as mesmas escolas, podem experimentar ambientes radicalmente diferentes, tanto subjetiva quanto objetivamente.

“Nas famílias, o ambiente funciona de maneira diferente do que pensávamos porque faz com que as crianças da mesma família sejam diferentes umas das outras. Na verdade, é um ambiente não compartilhado”, explicou Plomin. Sem falar nas diferenças que surgem naturalmente das relações extrafamiliares: um professor ou um amante, pode mudar completamente a vida de alguém.

Impacto do favoritismo do pais

Além disso, a maneira como os pais tratam seus filhos também pode afetar seu caráter. Um estudo liderado por Susan Marie McHale, professora de desenvolvimento humano e estudos familiares na Penn State University, argumenta que, desde o início, dois irmãos não podem vivenciar seus pais na mesma fase de suas vidas, seja romântica, financeira ou pessoal.

Como o primeiro ou segundo filho, as perspectivas podem mudar facilmente e a pesquisa mostrou que isso não é sistemático. Nem todos os irmãos mais velhos têm certas características, eles simplesmente têm experiências diferentes porque são mais velhos.

Diferenças de caráter em crianças provocam diferenças de caráter em seus cuidadores. “Descobrimos que quando os pais têm filhos de sexo misto, como um menino e uma menina, é mais provável que eles acreditem que seus filhos são mais influentes na forma como são tratados”, disse McHale.

O mesmo acontece com pais de adolescentes em comparação com pais de crianças, segundo ela. Em última análise, os pais também têm preconceitos, noções e crenças preconcebidas sobre seus filhos e os tratam de maneira um pouco diferente, mesmo que todos os pais digam que não.

A pesquisa de McHale publicada no Journal of Family Psychology, por exemplo, sugere que quando os pais pensam que um filho é mais talentoso do que o outro, as notas desse filho melhoraram mais do que seus irmãos, mas o contrário não acontece. Às vezes, quase se torna uma profecia auto-realizável, onde pequenas diferenças entre irmãos são exageradas por seus pais.

Em alguns casos, isso pode ajudar a entender as diferenças entre irmãos, de acordo com Plomin. Mas, estatisticamente, essas diferenças não parecem ser uma correlação suficiente entre todo o comportamento dos pais e todas as personalidades de seus filhos.

Em seu livro, Blueprint: How DNA Makes Us Who We Are, Plomin ainda sugere que, embora os pais sejam muito importantes no caráter de seus filhos, por causa da genética, as crianças ainda estão predispostas a ter certas personalidades e habilidades independentemente. O trabalho dos pais é encorajar seus filhos a se tornarem a melhor versão de si mesmos, segundo ele.