A importância da formação de novos profissionais para a gestão ambiental das cidades é uma preocupação recente, tanto do setor público quanto do privado. As instituições de ensino se mobilizam para prover conhecimento e inovação, e os primeiros cursos de extensão já são oferecidos nos grandes centros urbanos, como projetos de construção sustentável, gestão de resíduos sólidos e gerenciamento de cidades. Alguns aspectos do processo de gestão urbana sustentável têm sido valorizados pelos órgãos públicos por meio de políticas, planos e programas: a mobilidade, as unidades de conservação e os parques urbanos, o sanea­mento básico, os recursos hídricos e, principalmente, a gestão dos resíduos sólidos.

Entretanto, o tema da construção civil manteve-se distante de uma agenda ambiental. Enquanto, em âmbito mundial, discute-se o peso que ela representa na política de mudanças climáticas e na busca de uma economia de baixo carbono, no Brasil as práticas de construção seguem as velhas cartilhas do desperdício e da abundância de insumos. O setor da construção civil, que representa cerca de 40% do consumo dos recursos naturais e mais de um terço das emissões globais, impacta fortemente o meio ambiente, clamando por urgente redução do consumo e mitigação de seus efeitos sobre os ativos ambientais.

Nos últimos dez anos, identificam-se algumas ações em prol da construção sustentável de empreendimentos imobiliários. Inicialmente, com a busca de parâmetros internacionais aplicados à certificação de grandes edifícios comerciais; hoje, progressivamente ampliada para outros campos da atuação, como obras públicas, condomínios residenciais e conjuntos de habitação social. A amplitude dos subtemas relacionados à construção sustentável é grande e envolve muitos atores da cadeia produtiva, exigindo expertise e conhecimento de profissionais multidisciplinares. Propomos dez tópicos como guia temático para a gestão da construção sustentável de empreendimentos imobiliários:

1) Estudos de implantação urbanística – sítio natural, infraestrutura instalada e assentamentos existentes;
2) Projeto arquitetônico para o conforto térmico e bioclimático;
3) Acessibilidade e desenho universal;
4) Eficiência energética;
5) Uso racional e conservação da água;
6) Ciclo de vida dos materiais: inovação de produtos e sistemas construtivos;
7) Gestão dos resíduos sólidos;
8) Gestão do pós-uso dos empreendimentos;
9) Responsabilidade social e empresarial;
10) Certificação e regulação governamental.

Para uma abordagem sistêmica desses pontos, é imprescindível a formação de profissionais de arquitetura e engenharia, gestores ambientais e técnicos em edificação, com visão multidisciplinar e que estejam alinhados às práticas de excelência em construção civil sustentável. Com esse preparo, eles podem fomentar a capacidade de o segmento imobiliário ser o indutor da melhoria da qualidade de vida urbana dos moradores, dos ocupantes e dos cidadãos em geral.