09/12/2025 - 15:36
País tenta voltar à normalidade após fracasso de tentativa de golpe de Estado, que provocou turbulência naquela que era umas democracias mais estáveis da África Ocidental.Quando um grupo de militares invadiu a emissora estatal do Benim no último domingo (09/12) para anunciar um golpe de Estado, o pânico se espalhou entre os cidadãos do país e na África Ocidental . Muitos temiam que outro regime democrático tivesse caído.
A reação rápida das Forças Armadas do Benim à tentativa de golpe trouxe algum alívio, embora os analistas permaneçam preocupados.
“Nos últimos três ou quatro anos, imagens como estas, de soldados invadindo a emissora de TV nacional, se tornaram comuns na maior parte da África Ocidental, uma sub-região que, por duas ou três décadas, havia testemunhado um progresso considerável em termos de governança democrática”, disse Christopher Fomunyoh, do Instituto Nacional Democrático, com sede em Washington, DC.
O último golpe no Benim ocorreu em 1972. Desde então, o país vinha sendo aclamado como um modelo de progresso democrático. Assim sendo, o que motivou a tentativa de golpe, especialmente considerando que o país terá eleições gerais em abril?
Militares descontentes buscam mudanças
Os militares golpistas disseram que suas ações foram motivadas pela deterioração da segurança no norte do Benim, alegando “promoções injustas” dentro do Exército e o “questionamento disfarçado das liberdades fundamentais” por parte do governo.
O analista político Regis Hounkpe, no entanto, rejeitou essas alegações. “Um golpe militar não é e nunca será uma solução, seja no Benim ou em qualquer outro lugar. O Benim vive hoje sua trajetória democrática, com suas falhas, mas também com seus acertos. Somos um país em meio a uma transformação estrutural socioeconômica”, afirmou à DW.
A analista de segurança Beverly Ochieng questionou por que os conspiradores não esperaram pelas eleições do próximo ano e alertou para graves consequências caso o golpe tivesse sido bem-sucedido.
“Ao suspender as instituições, impede-se a realização da eleição, deslegitimando o processo e criando mais desconfiança pública”, disse ela à DW.
Revolta contra reformas constitucionais
No mês passado, o Parlamento do Benim aprovou reformas constitucionais que estendem os mandatos presidencial e legislativo de cinco para sete anos, mantendo o limite de dois mandatos por cargo eletivo. O presidente Patrice Talon deverá deixar o cargo após as eleições do próximo ano.
As reformas também propõem a criação de um Senado com 25 a 30 membros, incluindo ex-chefes de Estado e membros indicados pelo presidente. Essas mudanças aguardam a aprovação do Tribunal Constitucional.
Grupos de oposição expressaram descontentamento e, segundo Ochieng, os golpistas tentaram explorar essas queixas.
“Eles [os golpistas] falaram sobre uma suposta má gestão do país por Talon e uma repressão à oposição”, disse a especialista. “Parecia que estavam tentando alcançar o maior número possível de pessoas para expressar as queixas que correm o país, algumas das quais foram minimizadas pela consolidação do poder pelo próprio Talon.”
Quem conduziu a tenativa de golpe?
Os golpistas, que se autodenominavam Comitê Militar para a Refundação, eram liderados pelo tenente-coronel Tigri Pascal, supostamente próximo ao ex-presidente Thomas Boni Yayi. Ochieng, no entanto, observou que “não havia ligações claras entre a tentativa de tomada de poder e os antigos líderes e a oposição.”
A Nigéria confirmou o envio de tropas para auxiliar as forças do Benim a frustrar o golpe. A Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) também enviou tropas para estabilizar a situação.
“É realmente lamentável que estejamos retornando a uma era de golpes militares e contragolpes”, disse o analista político Fomunyoh. “Sabemos que o Benim tem sido um país pioneiro em relação aos esforços de democratização na África Ocidental, e os cidadãos Benimenses aprenderam a encaminhar suas queixas através de processos políticos.”
Horas depois da tentativa de golpe, o presidente Talon apareceu em rede de TV nacional assegurando aos cidadãos que a situação estava sob controle e elogiando o Exército. “Nos mantivemos firmes, retomamos posições até eliminarmos os últimos focos de resistência dos amotinados. Esse comprometimento e mobilização nos permitiram derrotar esses aventureiros e evitar o pior para o nosso país. Esse crime não ficará impune.”
O que vem a seguir para o Benim?
Analistas dizem que a forma como Talon lidará com a crise e com o período que antecede as eleições será crucial.
“Minha impressão é que, agora que os militares levaram a melhor e o presidente Talon reassumiu o comando, ele encontrará alguma maneira de acertar as contas. Seria bastante lamentável se a situação fosse administrada de uma forma que agravasse ainda mais as tensões dentro das Forças Armadas”, disse Fomunyoh.
Enquanto isso, a analista de segurança Ochieng prevê incertezas. “É provável que vejamos mais pessoas sendo presas em conexão com essa tentativa de golpe, pessoas que podem ter apoiado o suposto líder golpista.”
Fomunyoh enfatizou a necessidade de processos democráticos e que as medidas “sejam tomadas com total respeito ao Estado de Direito”.
Tendência preocupante na África Ocidental
Analistas alertam que os eventos recentes no Benim refletem um retrocesso democrático mais amplo na África Ocidental.
Mali, Burkina Faso e Níger permanecem sob regime militar, sem indícios de um rápido retorno à governança constitucional.
No mês passado, Guiné-Bissau se juntou a essa lista cada vez maior depois que soldados tomaram o poder horas antes do anúncio oficial dos resultados das eleições.
“Temos visto que muitas das aspirações dos africanos ocidentais de serem governados com justiça não foram atendidas pelo fraco desempenho de alguns líderes”, disse Fomunyoh.
“Portanto, há um nível de frustração na sociedade, e é por isso que, às vezes, quando esses golpes acontecem, os cidadãos se mostram indiferentes ou aplaudem.”
