29/10/2025 - 13:40
Cláudio Castro diz que só policiais que morreram em confrontos são considerados vítimas. Organizações de direitos humanos denunciam massacre perpetrado pelo Estado.O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, chamou nesta quarta-feira (29/10) de “um sucesso” a megaoperação policial na Zona Norte da capital fluminense que resultou em mais de cem mortos.
A Defensoria Pública do Rio afirmou que o número de mortos na megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha é de 132. Castro reduziu o número oficial de mortos de 64 para 58, dos quais quatro são policiais.
Moradores do Complexo da Penha acharam nesta quarta-feira ao menos 72 corpos numa área de mata. Mais de 60 foram levados para a Praça São Lucas, no centro da comunidade, onde ficaram expostos para registro da imprensa e depois foram cobertos com lençóis.
“A maior operação da história das polícias. Muitos ensinamentos foram tirados. Ontem [terça-feira], pode ter sido o início de um grande processo no Brasil. Temos convicção que temos condições de vencer batalhas. Mas sozinhos não temos condições de vencer essa guerra. Guerra contra um poder bélico e financeiro”, disse o governador.
Castro afirmou ainda que somente os quatro policiais mortos durante a operação são vítimas e que a megaoperação, “a maior da história”, representou “um dia importante para o Rio de Janeiro”.
“Temos muita tranquilidade de defendermos tudo que fizemos ontem. Queria me solidarizar com a família dos quatro guerreiros que deram a vida para salvar a população. De vítima ontem lá, só tivemos esses policiais”, afirmou.
Castro alegou também que recebeu apoio dos governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e de Goiás, Ronaldo Caiado.
ONU se declara “horrorizada”
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) declarou-se “horrorizado” com a megaoperação no Rio de Janeiro contra o grupo criminoso Comando Vermelho.
De acordo com as Nações Unidas, “essa operação letal reforça a tendência de consequências extremamente mortais das ações policiais nas comunidades marginalizadas do Brasil”.
“Recordamos às autoridades as suas obrigações ao abrigo do direito internacional dos direitos humanos e apelamos a investigações rápidas e eficazes”, frisou o alto comissariado.
ONGs falam em massacre perpetrado pelo Estado
Vinte e sete organizações de direitos humanos declararam que a segurança no Rio de Janeiro “não pode ser alcançada por meio de derramamento de sangue”.
As ONGs que assinaram a declaração, incluindo a Anistia Internacional, Global Justice, Conectas e o Observatório das Favelas, afirmaram que a megaoperação policial desta terça-feira na capital fluminense, além de expor “o fracasso e a violência estrutural da política de segurança”, colocou a cidade “em estado de terror”.
Na declaração, as organizações acusaram Castro de ser responsável por quatro das cinco ações mais letais da história recente no estado brasileiro e afirmaram que o que o governador chamou de maior operação da história do Rio “é, na realidade, um massacre perpetrado pelo Estado brasileiro”, que faz parte da “trágica história de massacres cometidos por forças policiais” no Rio.
“A segurança pública deve garantir direitos, não violá-los. Os moradores das favelas têm direito à vida, à integridade física e à paz – e isso é inegociável”, conclui o comunicado.
as (OTS, Lusa, Efe)
