16/07/2025 - 17:06
Vice-presidente Geraldo Alckmin e o chefe do Itamaraty, Mauro Vieira, criticam tarifas impostas por Trump e ressaltam que o Brasil compra mais do que vende aos EUA, mas propõem negociação.O governo brasileiro reagiu formalmente nesta terça-feira (15/07) à ameaça de sobretaxar em 50% as exportações do Brasil pelo presidente dos EUA, Donald Trump, em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em carta enviada ao secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e ao Representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o chanceler Mauro Vieira se disseram “indignados” pela decisão da Casa Branca, mas propuseram a abertura de um canal de negociação.
O texto foi divulgado nesta quarta-feira pelo Palácio do Planalto, embora tenha sido enviado no mesmo dia em que o escritório de Comércio americano chefiado por Greer abriu uma investigação por “práticas comerciais desleais” do Brasil.
É a primeira manifestação direta do governo desde a recente troca de farpas entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma carta anterior, confidencial, foi enviada pelo Brasil em maio, antes da escalada de tensões entre Brasília e Washington, mas não foi respondida pelos americanos.
Brasil manifesta “indignação”
“O governo brasileiro manifesta sua indignação com o anúncio, feito em 9 de julho, da imposição de tarifas de importação de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos, a partir de 1° de agosto”, diz a carta.
No documento, os ministros argumentam que a imposição das tarifas terá impacto “muito negativo em setores importantes de ambas as economias”, colocando em risco a parceria econômica histórica entre os dois países.
“Nos dois séculos de relacionamento bilateral entre o Brasil e os Estados Unidos, o comércio provou ser um dos alicerces mais importantes da cooperação e da prosperidade entre as duas maiores economias das Américas”, ressalta o texto.
Governo ressalta déficit comercial e boa-fé
A carta reitera que o governo brasileiro dialoga em boa-fé com as autoridades americanas, mas ressalta que o Brasil acumula déficit de 410 bilhões de dólares (R$ 2,2 trilhões) nas trocas comerciais com os EUA nos últimos 15 anos.
“Para fazer avançar essas negociações, o Brasil solicitou, em diversas ocasiões, que os EUA identificassem áreas específicas de preocupação para o governo norte-americano”, dizem as autoridades brasileiras na carta.
Apesar da crescente tensão entre os líderes, Alckmin diz no texto que o Brasil permanece pronto para “negociar uma solução mutuamente aceitável sobre os aspectos comerciais da agenda bilateral”, afirma a carta.
Minuta confidencial
A carta cita ainda uma minuta confidencial enviada por Brasília à Casa Branca no dia 16 de maio de 2025, na qual são apresentadas áreas de negociação que poderiam ajudar na busca por uma solução que agrade aos dois países.
Segundo o texto, o ofício, enviado em meio às primeiras ameaças americanas de taxação, não foi respondido.
“Com base nessas considerações e à luz da urgência do tema, o governo do Brasil reitera seu interesse em receber comentários do governo dos EUA sobre a proposta brasileira.”
EUA acusam Brasil de práticas desleais
Apesar da iniciativa brasileira, a Casa Branca não dá sinais de que pretende recuar na taxação.
Nesta terça-feira, o governo americano iniciou uma investigação sobre o que chamou de práticas comerciais “desleais” do Brasil. O Escritório do Representante Comercial dos EUA acusa o país de impactar empresas americanas, trabalhadores, agricultores e inovadores tecnológicos americanos.
Também critica “serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo” – uma referência ao sistema de pagamentos instantâneos Pix –, por temer que eles prejudiquem “a competitividade de empresas americanas que atuam no comércio digital e em serviços de pagamento eletrônico”.
gq/ra (Agência Brasil, OTS)