Usando a tecnologia de detecção a laser LiDAR em cerca de 1.680 quilômetros quadrados ao longo da Bacia Cárstica de Mirador-Calakmul, no norte da Guatemala, uma equipe de pesquisadores dos Estados Unidos, da França e da Guatemala encontrou 964 antigos assentamentos maias anteriormente desconhecidos por baixo da vegetação, datando predominantemente do período pré-clássico (cerca de 1000 a.C.-150 d.C.). A extensa rede apresenta centros cerimoniais, instalações esportivas, estradas e reservatórios.

Segundo as observações, os assentamentos da área eram densamente povoados. A descoberta diverge das teorias que sugerem que os primeiros assentamentos mesoamericanos tendiam a ter povoamento esparso. A conclusão dos pesquisadores, liderados pelo arqueólogo Richard D. Hansen, da Universidade Estadual de Idaho (EUA), é que vivia ali uma sociedade maia muito mais sofisticada, populosa e unificada do que o imaginado anteriormente. “O esqueleto da antiga estrutura política e econômica como um reino-estado nos períodos Pré-Clássico médio e tardio tem uma presença tentadora na Bacia Cárstica de Mirador-Calakmul”, escreveu a equipe em um artigo sobre as descobertas publicado na revista Ancient Mesoamerica.

Usando métodos arqueológicos tradicionais, a Fundação de Pesquisas Antropológicas e Estudos Ambientais (FARES), de Idaho, e o Mirador Basin Project já mapearam e escavaram 56 sítios arqueológicos únicos na Bacia Cárstica de Mirador-Calakmul nos últimos 40 anos. As descobertas feitas corroboraram suas análises mais recentes, que cobriram 85,8% dos cerca de 6.500 quilômetros quadrados da área entre 2015 e 2018.

Estruturas triádicas em El Mirador: (a) imagem LiDAR mostrando estruturas triádicas no centro cívico de El Mirador (a pirâmide do Tigre é a maior nesta seção da cidade); (b) Vista 3D LiDAR mostrando o complexo piramidal de La Danta, localizado no lado leste do centro cívico em El Mirador. Crédito: Ancient Mesoamerica (2022). DOI: 10.1017/S0956536122000244

Interconexão

Com o LiDAR foi possível identificar 775 assentamentos antigos na própria Bacia Cárstica de Mirador-Calakmul. Mais 189 assentamentos apareceram em torno de seus cumes.

Dos 964 assentamentos registrados, 645 ainda não têm nome. Antes de nomear esses lugares, os pesquisadores devem verificar como eles se encaixam, o que significa primeiramente delinear vilas e cidades. “A definição desses termos é uma questão espinhosa”, escrevem os autores no estudo. Alguns assentamentos que seriam considerados independentes sem o LiDAR agora parecem mais interconectados. Atualmente, a equipe condensou os 964 assentamentos em 417 entidades diferentes, de acordo com seis níveis, com base em elementos como superfície e arquitetura.

Algo que parece certo, no entanto, são as características de marcos individuais que encontraram. Eles incluem 30 quadras de jogo de bola, 195 reservatórios de cimento (alguns convertidos de centros cerimoniais subterrâneos para compensar a falta de lagos e rios da área) e 177 quilômetros combinados de calçadas elevadas feitas de misturas de cal e argila. Essas calçadas facilitavam o trânsito das pessoas pelos diferentes assentamentos, tornando viáveis esforços coletivos de trabalho.

Os pesquisadores exploraram também as ruínas da pirâmide de Danta, com 70 metros de altura, na cidade de El Mirador, que já foi o centro da metrópole e uma das maiores estruturas antigas dos maias. Um total de 158 trabalhadores teriam levado cinco anos apenas para extrair os 205.508 blocos de calcário que compõem a pirâmide, que provavelmente exigiu de 6 milhões a 10 milhões de dias de trabalho para ser construída.