A organização de defesa do meio ambiente Greenpeace denunciou nesta segunda-feira (12/12) a existência de uma estrada clandestina com 150 quilômetros de extensão que teria sido aberta por garimpeiros ilegais no sul do estado de Roraima, na região Amazônica, que passa a menos de 15 quilômetros de uma tribo indígena que vive em isolamento.

Segundo a organização, a estrada abre espaço na região para o ingresso de maquinário pesado – a exemplo de escavadeiras hidráulicas –, algo considerado inédito e que amplia o potencial de destruição ambiental.

O povo indígena isolado que vive próximo da via é o moxihatëtëa, que não tem contato com homens brancos e habita uma área do território yanomâmi.

“Temos visto no território yanomâmi que a mineração ilegal de ouro alcançou outro nível”, afirmou Danicley de Aguiar, do Greenpeace Brasil.

A estrada foi descoberta pelos próprios yanomâmis, com os primeiros relatos feitos no início de novembro. Na semana passada, especialistas do Greenpeace sobrevoaram a região e confirmaram a existência da rodovia, que apareceu em um mapeamento por satélite em agosto deste ano, além da presença de quatro escavadeiras hidráulicas no entorno.

Uma operação conjunta do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Polícia Federal também identificou a estrada e destruiu retroescavadeiras e aviões usados pelo garimpo.

De difícil acesso, o território dos yanomâmis tem cerca de 10 milhões de hectares e fica nos estados de Roraima e Amazonas, caracterizando-se como a maior reserva indígena do país. Nela vivem em torno de 30 mil indígenas.

Aumento da exploração ilegal

Estima-se que pelo menos 20 mil garimpeiros atuem na região povoada pelos yanomâmis em busca de minérios como ouro. De 2016 a 2020, segundo o relatório Yanomâmi sob ataque, houve aumento de 3.350% na exploração ilegal dentro da reserva.

O levantamento foi divulgado em abril deste ano pela Hutukara Associação Yanomami e apontou também que 56% da população yanomâmi sofre algum tipo de impacto devido ao garimpo.

Entre os principais problemas enfrentados pelos indígenas está justamente a saúde, já que a exploração ilegal de minérios está conectada a casos de malária e desnutrição.

A líder indígena e deputada federal eleita Sonia Guajajara (PSOL) participou do sobrevoo na região e se manifestou sobre o tema.

“É inacreditável que tantos quilômetros de estrada possam ser construídos ilegalmente sob os olhos do estado em um território indígena. Essa estrada é uma ameaça real para os povos indígenas”, disse.

gb/bl (dpa, ots)