Você está se sentindo triste? Pode ser porque seus segredos estão pesando sobre seus ombros, adverte um professor da Universidade Columbia (EUA).

“Nossos segredos podem nos machucar. Mas a parte difícil de tê-los não é termos de escondê-los; é que temos que conviver com eles em nossos pensamentos”, observa Michael Slepian, professor associado de liderança e ética na Escola de Negócios da Universidade Columbia e autor do livro recém-lançado The Secret Life of Secrets (Crown).

Nos últimos dez anos, Slepian conduziu centenas de estudos sobre segredos. Depois de pedir a 50 mil pessoas que se abrissem sobre o que mantinham oculto, ele descobriu que, quando as pessoas guardam segredos, podem sofrer danos físicos e emocionais. As pessoas que guardam mais segredos relatam que sua saúde está pior, têm menos prazer na vida e seus relacionamentos são mais fracos do que as pessoas que têm menos esqueletos em seus armários.

Evocação de vergonha

De acordo com Slepian, a maioria das pessoas acredita que é moral e boa, e quando se comporta em desacordo com essa imagem, esconde seus erros dos outros. “Ficamos mais do que felizes em compartilhar o que há de bom em nós mesmos com os outros. É assim que nos tornamos queridos”, escreve Slepian. “Quanto mais imoral você julgar seu segredo, mais ele evocará vergonha, uma punição particularmente dolorosa que as pessoas infligem a si mesmas. Os segredos podem fazer com que as pessoas se sintam isoladas e se isolem dos outros.”

Os segredos mais comuns são sobre mentira, comportamento sexual, desejos e família. Uma em cada três pessoas entrevistadas por Slepian admitiu a infidelidade, embora não necessariamente em um relacionamento atual. Um terço desse número disse que sempre manteria seus crimes ocultos. Outro terço disse que o compartilhou com terceiros. O restante confessou ao parceiro.

Muitas vezes perguntam a Slepian se contar a um parceiro sobre tal indiscrição é a melhor abordagem. “Se foi uma única vez, você está em uma posição melhor do que se tiver sido infiel muitas vezes”, disse ele. “A questão é: você acha que seu parceiro gostaria de saber o que aconteceu?”

Para encontrar a resposta, ele pesquisou pessoas em relacionamentos sérios e perguntou se elas gostariam de saber a verdade se seu parceiro fosse infiel apenas uma vez e se tivessem certeza de que isso nunca mais aconteceria. Três quartos queriam divulgação completa.

“Se algum tipo de segredo estiver afetando seu bem-estar, eu o aconselharia a pelo menos conversar com alguém em quem você confia”, recomenda Slepian.

Sentimento de culpa

Os segredos de algumas pessoas fazem com que elas se sintam culpadas e acreditem que escaparam injustamente da punição, afirma Slepian. Como resultado, eles se punem para expiar, muitas vezes negando a si mesmos o prazer.

As pessoas nessa situação podem assumir tarefas um pouco desagradáveis, como limpeza intensa da casa ou exercícios físicos, observa ele. “Isso pode fazer com que se sintam bem, mas o problema é que, enquanto seu segredo permanecer em segredo, elas sentirão que continuam escapando da justiça e, portanto, o ciclo de autopunição nunca termina.”

Outros ruminam sobre seus segredos, presos em pensamentos repetitivos persistentemente negativos sobre eles. “Como sombras, nossos segredos podem nos seguir onde quer que vamos. Parte do problema é que estamos viajando com eles sozinhos”, escreve Slepian.

Seus estudos descobriram que a maioria das pessoas deseja compartilhar sua angústia oculta com alguém que seja compassivo. Eles também querem que o ouvinte ofereça conselhos e os pressione a fazer o que precisa ser feito.

Perspectiva diferente

“É muito fácil encontrar maneiras inúteis de pensar sobre algo sozinho, mas também é fácil encontrar uma maneira útil de pensar sobre isso quando você está conversando com outra pessoa”, observa Slepian. “Elas têm uma perspectiva diferente. Elas normalmente acolherão sua vulnerabilidade porque isso oferece a chance de aprofundar a intimidade do relacionamento.”

Na opinião de Slepian, na maioria das vezes a abertura acaba bem porque as pessoas tendem a escolher seus confidentes com cuidado. Mas escolha alguém que não se escandalize. De acordo com seus estudos, alguém que ficar moralmente indignado terá mais chances de fofocar como forma de punir o guardião do segredo.

Também é importante distinguir entre os segredos prejudiciais e os que não são, diz Slepian. Se você está carregando um segredo que não está machucando ninguém, ele recomenda lembrar a si mesmo que isso aconteceu no passado e que o passado não pode ser mudado. Considere dar-se permissão para perdoar a si mesmo e seguir em frente com sua vida. “Em vez de ter vergonha de seu eu passado, reconheça as melhorias que você fez e as maneiras pelas quais você cresceu”, afirma ele.

Slepian concede um crédito à falecida psicóloga social indiana-americana Nalini Ambady, uma das principais especialistas em comportamento não verbal e percepção interpessoal e sua orientadora na Universidade Tufts (EUA), pelo papel fundamental em sua pesquisa. “Ela sempre foi útil quando se tratava de projetar estudos. Ela me ensinou maneiras criativas de olhar para as perguntas”, diz ele. Ambady era professora associada de psicologia na Universidade Tufts e continuou a aconselhar Slepian depois que ela ingressou no corpo docente da Universidade Stanford.

Experiência própria

Slepian sabe por experiência própria sobre o bem que pode advir quando as pessoas revelam segredos profundos. Por 26 anos, seus pais esconderam dele e de seu irmão mais novo o conhecimento de que foram concebidos por meio de inseminação de doadores.

Seus pais planejaram nunca contar o fato a seus filhos. Quando adolescente, Slepian obteve respostas vagas quando perguntou a seus pais quais características eles achavam que ele havia herdado. Enquanto isso, seus avós, tias e tios sabiam a verdade. Finalmente, sua mãe e seu pai reconsideraram sua decisão.

“Quando aprendi como era manter esse segredo, isso mudou minha compreensão do sigilo. Mas só depois de escrever meu livro comecei a fazer mais perguntas sobre isso. Obtemos conhecimentos sobre nossos segredos quando os discutimos com outras pessoas e aprendemos sobre nós mesmos também”, diz Slepian. “Podemos não querer que nossos segredos sejam conhecidos, mas queremos que nós mesmos sejamos conhecidos.”