Pequim ataca Washington e declara Moscou seu “parceiro mais importante”. Mas essa não é uma parceria entre iguais. Xi Jinping é inteligente o suficiente para não expor publicamente a fragilidade econômica russa.O tom é novo: o chefe de Estado da China, Xi Jinping, denuncia os EUA, afirmando que Washington quer oprimir seu país, em discurso feito durante uma recente sessão do Congresso Nacional do Povo chinês. “Os países ocidentais, liderados pelos EUA, tentam conter, enquadrar e suprimir a China, o que gera desafios graves e sem precedentes ao desenvolvimento chinês”, afirmou o presidente, segundo a imprensa estatal.

Seu novo ministro do Exterior, Qin Gang, lançou um alerta para os Estados Unidos, avisando sobre o perigo de um conflito de “consequências catastróficas”.

Essas ameaças também poderiam ter sido ditas pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin. O chefe do Kremlin justifica a invasão da Ucrânia com a luta contra a Otan, os EUA e o “Ocidente coletivo”. Uma distorção dos fatos para a qual a China mostra publicamente compreensão, mas não abraça totalmente.

Putin, aos 70, e Xi, aos 69 anos, têm aproximadamente a mesma idade. Segundo a imprensa, eles se encontraram quase 40 vezes nos últimos dez anos. Ambos têm um estilo de gestão ditatorial. Eles estão há muitos anos incontestados no poder. Eles repetem como um mantra a “amizade” entre as duas potências nucleares, a “parceria estratégica”. Putin e Xi não fazem segredo do fato de rejeitarem a atual ordem mundial baseada em regras e de que querem quebrar a suposta hegemonia do Ocidente.

O olhar de Moscou para a China

E, no entanto, existem grandes diferenças entre os dois países. Com base no produto interno bruto (PIB), a China é a segunda maior economia do mundo depois dos EUA e uma nação exportadora de sucesso. A economia da Rússia é cerca de dez vezes mais fraca.

Moscou vive há décadas da exportação de matérias-primas. A modernização do país fracassou até agora. Putin aparentemente calculou mal seu ataque à Ucrânia: política, militar e economicamente. A unidade do Ocidente, sua capacidade de reduzir massivamente a dependência de gás, petróleo e carvão russos em um prazo muito curto, está forçando o Kremlin a alinhar sua economia com os países asiáticos, especialmente a China. Aqui Moscou não tem outras opções de ação.

Dependência crescente

Bem diferente é situação da China, que se beneficia da dependência de Moscou, por exemplo, obtendo petróleo e gás russos em condições especiais. Quanto mais tempo durar essa dependência russa da China, melhor para Pequim.

Já em 2014, a China driblou sanções ocidentais contra a Moscou que foram impostas pelos EUA e a Europa após a anexação ilegal da Crimeia pela Rússia. Ao mesmo tempo, a China promovia com sucesso a continuação das relações econômicas com o Ocidente.

Xi não depende da Rússia. Embora o chefe de Estado chinês envie ameaças aos americanos, Pequim ainda tem a opção de chegar a um acordo com Washington.

A estratégia de “zero covid” na pandemia desacelerou o crescimento da China em 2022, mostram as estatísticas oficiais do país. Mas com o fim dessa política, no entanto, a economia chinesa se estabilizou. É improvável que Xi esteja interessado em uma guerra comercial com os EUA e também – como consequência – com os europeus. Pequim está tentando criar um racha na aliança transatlântica, assim como Moscou tentou fazer. Até agora sem sucesso. Afinal, a guerra na Ucrânia ensinou aos europeus o quanto eles dependem da liderança americana.

Risco Taiwan

Rússia e China não é uma parceria entre iguais. Xi é inteligente o suficiente para não humilhar publicamente os russos. Ele não dá nenhuma declaração que os deixe sentir sua fraqueza econômica, sua dependência.

Economistas avaliam que o padrão de vida na Rússia continuará caindo nos próximos anos – também porque centenas de milhares de especialistas em TI deixaram sua terra natal desde o ataque à Ucrânia. Pode ser que Putin aceite o declínio econômico de seu país. Já Xi continua perseguindo o objetivo de, talvez um dia, ultrapassar os Estados Unidos economicamente.

Um novo estudo do Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP) relembra a visita aos Estados Unidos do então novo presidente Xi em 2012. Na época, ele falou de “um novo tipo de relação das grandes potências no século 21”. Os Estados Unidos e a China devem, segundo ele, ser potências iguais. A Rússia não aparece nessa parte.

Agora, conforme a liderança em Pequim, a Rússia é o “parceiro estratégico mais importante” da China que teria uma mesma visão em relação ao adversário EUA. O estudo do SWP cita a opinião do cientista político chinês Yan Xuetong sobre a posição chinesa no conflito da Ucrânia. Segundo o especialista, a China só poderia ser empurrada ofensivamente para o lado da Rússia se os EUA apoiassem militarmente uma declaração de independência de Taiwan.