01/12/2025 - 8:45
Fabricantes de armas nunca faturaram tanto como em 2024, aponta levantamento do instituto Sipri. Montante chegou a 679 bilhões de dólares no ano passado.As empresas fabricantes de armas nunca faturaram tanto quanto em 2024, mostra um relatório do Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (Sipri).
As receitas com a venda de armas e serviços militares das cem maiores empresas de armamento do mundo totalizaram 679 bilhões de dólares no ano passado, o que representa um aumento de 5,9% em comparação com 2023, já considerada a inflação.
Em 2023 o aumento das tensões geopolíticas e, sobretudo, a guerra na Ucrânia já haviam elevado a demanda por armamentos, e essa tendência se acelerou ainda mais em 2024.
Para o setor armamentista, a guerra na Ucrânia “com certeza” é boa para os negócios, comenta o especialista do Sipri Nan Tian, um dos autores do relatório. “Nos últimos dois anos, essas empresas aumentaram significativamente suas receitas”, afirma.
Topo da lista está nos EUA
As cinco fabricantes de armamentos mais importantes do mundo, segundo as estatísticas do Sipri, são a Lockheed Martin (que fabrica os caças F-35), a RTX (antiga Raytheon Technologies, fabricante de motores aeronáuticos e drones), a Northrop Grumman (mísseis de longo alcance), a BAE Systems e a General Dynamics (submarinos nucleares e mísseis).
Com exceção da britânica BAE Systems, todas têm sede nos EUA. Esta é a primeira vez desde 2017 que uma empresa que não tem sede nos EUA aparece entre as cinco maiores.
O braço militar do consórcio europeu Airbus ocupa a 13ª posição entre as cem empresas de maior receita, enquanto a alemã Rheinmetall ocupa a 20ª.
Em 2024, quatro dessas cem empresas tinham sede na Alemanha: além da Rheinmetall, são elas a Thyssenkrupp, a Hensoldt e a Diehl. Juntas, elas geraram receitas de 14,9 bilhões de dólares. A Rheinmetall, por exemplo, registrou um aumento de 47% na receita proveniente de tanques, veículos blindados e munições.
Crescimento elevado entre empresas alemãs
Das cem empresas da lista, 39 estão sediadas nos Estados Unidos, que é, de longe, o país com o maior número. As empresas americanas geram quase metade da receita mundial proveniente dos negócios com armas.
No entanto, seu crescimento anual de 3,8% é até modesto se comparado ao das 26 empresas europeias (excluídas as russas), que, juntas, registraram um aumento de 13% na receita.
As empresas alemãs foram especialmente bem-sucedidas, com um crescimento de 36%, o que se deve quase inteiramente à guerra na Ucrânia. A demanda por parte da Bundeswehr (Forças Armadas alemãs) aumentou, explica Nan Tian. Empresas como a Rheinmetall e a Diehl fabricaram tanques, veículos blindados de transporte de pessoal e munição para substituir o que foi enviado como ajuda militar à Ucrânia e também para repor seus próprios estoques.
Economia de guerra na Rússia
A Rússia é listada separadamente no ranking do Sipri, e não surpreende que as empresas russas tenham tido um crescimento particularmente forte. Embora suas receitas de exportação tenham diminuído devido às sanções internacionais, o aumento acentuado da demanda interna mais do que compensou as perdas.
Mas a Rússia é um caso especial, pois todos os recursos do país foram canalizados para o esforço de guerra. “O país mudou completamente suas prioridades. A economia se transformou numa economia de guerra nos últimos três anos”, comenta Nan Tian.
Apenas um exemplo: a Rússia aumentou sua produção de projéteis de artilharia de 152 mm em 420% entre 2022 e 2024, passando de 250 mil para 1,3 milhão, segundo o relatório do Sipri.
Mas, devido às sanções internacionais, a indústria armamentista russa sofre com a falta de componentes importados, especialmente eletrônicos para aeronaves. No entanto, a expectativa de que a economia russa entraria em colapso por esse motivo provou-se falsa, afirma Nan Tian. “O país certamente está numa situação muito pior do que estaria se não tivesse invadido a Ucrânia, pois nesse caso não haveria sanções. No entanto, a Rússia demonstrou grande resiliência diante das sanções e dos problemas econômicos.”
Nan Tian observa que a transformação da economia russa foi tão acentuada que, se a guerra na Ucrânia acabasse, o país teria dificuldades para retornar a uma economia sem guerra.
Queda nas receitas na China
As empresas asiáticas foram as únicas a apresentar receitas inferiores às de 2023, com destaque para a queda de 10% entre as empresas chinesas. Em nenhum outro país houve uma queda tão acentuada. Segundo Nan Tian, isso se explica pelas inúmeras denúncias de corrupção contra empresas chinesas de armamento, o que levou ao cancelamento ou adiamento de grandes encomendas.
Já as empresas do Oriente Médio registraram um aumento de 14% na receita. Com nove empresas, essa região nunca teve tantas listadas no relatório anual do Sipri. Três delas estão sediadas em Israel, com forte demanda por drones e sistemas de defesa aérea israelenses.