Exército de Libertação Nacional determinou confinamento de civis enquanto realiza exercícios militares ante “ameaças de intervenção” americanas. Grupo também tem presença na Venezuela e controla produção de cocaína.A guerrilha colombiana Exército de Libertação Nacional (ELN) estabeleceu um toque de recolher nesta sexta-feira (12/12) aos civis que vivem em regiões sob seu domínio para realizar exercícios militares em resposta às “ameaças de intervenção” do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Segundo comunicado divulgado pelo grupo, a população deverá ficar confinada por 72 horas a partir das primeiras horas de domingo.

“É necessário que os civis não se misturem com militares para evitar acidentes”, diz o texto difundido em redes de propaganda rebelde, no qual pede às comunidades que não transitem por estradas nem rios.

O grupo guerrilheiro, que controla regiões-chave para a produção de drogas, afirmou que lutará pela “defesa” da Colômbia, maior produtora de cocaína do mundo, segundo a ONU.

Em meio às tensões pela ofensiva militar que Washington leva adiante no Caribe e no Pacífico, Trump não descartou atacar bases do narcotráfico em solo colombiano. A guerrilha marxista acusa o presidente americano de ter um “plano neocolonial” com o qual “pretende recrudescer o saque dos bens naturais” da Colômbia.

Amplo controle do território

O ELN manteve negociações de paz com o governo de Gustavo Petro por dois anos, mas a política de “paz total” do presidente colombiano foi interrompida em janeiro diante da persistência dos ataques dos rebeldes.

O grupo, no entanto, não precisou se o paro armado afetará todas as regiões onde tem presença e capacidade de controle. O ELN ocupa mais de 20% dos mais de 1.100 municípios da Colômbia, segundo o centro de estudos sobre o crime Insight Crime. Um de seus bastiões é a região do Catatumbo, onde controla a produção de cocaína.

Além disso, vários estudos destacam a presença da guerrilha também em oito estados da Venezuela, onde se acredita que opere em aliança com as forças militares do regime de Nicolás Maduro.

Em toques de recolher como este, o ELN costuma restringir a mobilidade dos civis e ordenar o fechamento de comércios, além de cometer agressões e ameaçar quem não cumprir as restrições. A guerrilha, porém, assegurou que suas unidades “respeitarão os civis e seus bens”.

Tensões entre EUA e Colômbia crescem

Em novembro, a guerrilha também questionou os ataques das forças militares americanas contra embarcações que supostamente transportavam drogas e que até agora já somam mais de 80 mortos, denunciando que essas ações buscam “intimidar e chantagear para impor suas lógicas de saque”.

No comunicado divulgado nesta sexta-feira, o ELN defendeu a necessidade de que “as decisões sobre o país sejam tomadas na Colômbia e não em Washington’.

Diante das ameaças de Trump, o presidente colombiano também exigiu na semana passada que o americano não ameace a soberania da Colômbia. Enfrentamentos nas redes sociais entre Petro e Trump levaram Bogotá e Washington a enfrentar a pior crise diplomática em várias décadas.

gq (AFP, EFE, DW)