14/02/2024 - 16:03
No dia 20 de fevereiro de 1824, o naturalista e teólogo inglês William Buckland se dirigiu à Sociedade Geológica de Londres, descrevendo uma enorme mandíbula e ossos de membros desenterrados em uma pedreira na vila de Stonesfield, perto de Oxford.
Buckland reconheceu que os fósseis pertenciam a um enorme réptil do passado e deu-lhe um nome científico formal: Megalosaurus, ou “grande lagarto” em latim. Foi nessa ocasião então que o primeiro dinossauro foi oficialmente identificado, embora essa palavra específica só viesse a ser cunhada alguns anos depois, na década de 1840.
“Foi o início do nosso fascínio pelos dinossauros”, conta Steve Brusatte, paleontólogo da Universidade de Edimburgo. “Seu anúncio abriu portas e deu início a uma corrida aos fósseis. As pessoas começaram a procurar por outros ossos gigantes na Inglaterra e em outros lugares.”
Os dinossauros caminharam pelo planeta entre 231 milhões e 66 milhões de anos atrás, durante a era Mesozoica. Seus descendentes, os pássaros, existem até hoje.
“A nossa compreensão dos dinossauros mudou significativamente desde o século 19”, diz a paleontóloga Emma Nicholls, do Museu de História Natural da Universidade de Oxford, que abriga os fósseis do Megalossauro.
“Buckland e outros cavalheiros naturalistas do início do século 19 ficariam surpresos com o quanto sabemos sobre os dinossauros”, acrescenta Brusatte.
O Megalossauro é um bom exemplo. Na época, Buckland pensava que se tratava de um lagarto com cerca de 20 metros de comprimento, que andava em quatro patas e que poderia viver na terra ou na água.
Os cientistas sabem agora que ele não era um quadrúpede e nem um lagarto, mas que pertencia ao grupo dos terópodes, que inclui dinossauros carnívoros como o Tiranossauro e o Espinossauro. Em relação ao seu tamanho, estima-se que ele tinha cerca de 9 metros de comprimento.
Buckland, como outros de sua época, não conseguia estimar há quanto tempo os dinossauros teriam habitado o planeta, acreditando que a Terra em si tinha apenas alguns milhares de anos. Os cientistas sabem agora que o planeta tem cerca de 4,5 bilhões de anos e que o Megalossauro teria vivido há cerca de 165 milhões de anos.
“Foram necessárias várias décadas para os geólogos compreenderem que a Terra era verdadeiramente antiga e que a vida evoluiu ao longo de vastos períodos. Os dinossauros e outros fósseis descobertos foram um grande impulso nesta mudança”, diz Brusatte.
Grandes avanços
O naturalista inglês Richard Owen reconheceu que os fósseis de Megalossauro encontrados no sul da Inglaterra e de dois outros grandes répteis terrestres, o Iguanodon e o Hylaeosaurus, formavam um grupo comum, chamando-os de “Dinosauria” em uma conferência de 1841, e em uma publicação do ano seguinte.
A subsequente descoberta de fósseis de Hadrosaurus e Dryptosaurus no estado americano de Nova Jersey demonstrou que pelo menos alguns dinossauros eram bípedes, mudando a percepção de que se assemelhavam a rinocerontes. Na década de 1870, os primeiros esqueletos completos de grandes dinossauros apareceram, primeiro no oeste dos Estados Unidos, depois na Bélgica e em outros lugares, demonstrando a anatomia distinta e a diversidade dos dinossauros.
Na década de 1960, a identificação do Deinonychus, um pequeno dinossauro carnívoro, abalou a paleontologia e inaugurou um período de pesquisa denominado “Renascimento dos Dinossauros”. Ele mostrou que esses animais também podiam ser pequenos e ágeis. Alguns eram notavelmente semelhantes anatomicamente às primeiras aves, como o Archaeopteryx, fortalecendo a ideia de que as aves teriam evoluído a partir de pequenos dinossauros com penas.
Também provocou um debate sobre se os dinossauros tinham sangue quente como os pássaros, contradizendo a visão antiga de que eram lentos, desajeitados e de sangue frio.
“Nas décadas seguintes, houve um aumento no trabalho sobre o crescimento dos dinossauros, o uso de tomografias computadorizadas, métodos analíticos para reconstruir as relações evolutivas e a função biomecânica, tudo isso ajudou a criar uma visão mais dinâmica e biológica dos dinossauros como seres vivos”, diz Thomas Holtz, da Universidade de Maryland.
Os paleontólogos colocam fósseis cranianos em scanners para construir modelos digitais de cérebros e até sentidos de dinossauros, como visão, audição e olfato. Os cientistas agora também conseguem dizer até a cor dos dinossauros se a pele ou penas estiverem bem preservadas a ponto de reterem bolhas microscópicas de melanossomos contendo pigmentos nas células
Existem atualmente mais de 2 mil espécies de dinossauros conhecidas, e a paleontologia é uma ciência vibrante e internacional. Descobertas surpreendentes foram feitas em lugares como China, Argentina, África do Sul, Mongólia e também no Brasil.
enk/md (Reuters, ots)