27/01/2023 - 7:02
Nenhum outro acontecimento mobilizou tanto a opinião pública internacional nos anos 1960 e 1970 quanto a Guerra do Vietnã. Pela primeira vez na história, as atrocidades dos campos de batalha foram exibidas no horário nobre das TVs: vietnamitas queimados por bombas de napalm, o fuzilamento de um rebelde pelo chefe da polícia de Saigon com um tiro na cabeça, o massacre de My Lai por soldados americanos. Mais de um milhão de vietnamitas e 55 mil combatentes dos EUA morreram no conflito.
Em 27 de janeiro de 1973, a assinatura de um acordo de paz alimentou grandes esperanças. O pacto de cessar-fogo, firmado em Paris, deveria significar o fim da Guerra do Vietnã.
Com o acordo, o então presidente americano, Richard Nixon, pretendia terminar a intervenção militar dos EUA na Indochina: “Falo hoje à noite no rádio e na televisão para anunciar que fechamos um acordo que põe fim à guerra e deve trazer a paz para o Vietnã e o Sudeste Asiático.”
E prosseguiu: “Durante os próximos 60 dias, as tropas americanas serão retiradas do Vietnã do Sul. Temos de reconhecer que o fim da guerra só pode ser um passo em direção à paz. Todas as partes envolvidas no conflito precisam compreender agora que esta é uma paz duradoura e benéfica.”
Acordo previa um fim ordenado do conflito
O acordo de paz previa a retirada completa das tropas dos Estados Unidos. Em contrapartida, o Vietnã do Norte se comprometeu a soltar todos os prisioneiros de guerra americanos. Além disso, Hanói reconheceu o direito à autodeterminação do Vietnã do Sul.
Foi criado também um conselho de reconciliação nacional, presidido pelo chefe de Estado Nguyen Van Thieu, encarregado de convocar eleições livres no Vietnã do Sul, com a participação dos comunistas do Vietcong e outros grupos de oposição.
Os principais arquitetos do acordo de Paris foram os chefes das delegações do Vietnã do Norte e dos EUA, respectivamente Le Duc Tho e Henry Kissinger, encarregado especial de Nixon. Pelos seus esforços, os dois diplomatas foram agraciados com o Prêmio Nobel da Paz de 1973.
Foi principalmente Kissinger quem forçou uma mudança de rumo na política externa dos Estados Unidos, depois que os protestos dos pacifistas criaram uma situação insustentável para Washington. “Não é o Vietnã comunista que põe em risco os interesses americanos e, sim, o envolvimento dos EUA num conflito insolúvel”, argumentava.
O então chanceler federal alemão, Willy Brandt, elogiou o acordo de Paris num pronunciamento oficial: “As condições para a paz mundial melhoraram. Sentimos o efeito libertador do acordo para milhões de atingidos. Infelizmente, as pessoas no Vietnã tiveram de sofrer duramente sob a guerra civil ao longo de uma geração.”
Pouco antes do fim das negociações, Nixon ainda mandou bombardear o Vietnã do Norte. A chamada Campanha de Natal, iniciada no final de dezembro de 1972, foi um dos ataques aéreos mais pesados de toda a guerra. Com indiferença, o piloto de um dos bombardeiros B-52 descreveu assim a sua missão: “É apenas uma tarefa. Outras pessoas entregam leite, eu entrego bombas”.
Conflito se estendeu até 1975
O acordo de cessar-fogo, no entanto, não foi de fato implementado. Após a retirada das tropas dos EUA, as partes conflitantes tentaram ampliar pelas armas os territórios sob seu controle. O Exército do Vietnã do Sul desintegrou-se rapidamente, depois que os EUA suspenderam a sua ajuda financeira.
Em 21 de abril de 1975, o presidente Nguyen Van Thieu renunciou. Nove dias depois, em 30 de abril, Saigon foi tomada pelas tropas do Vietnã do Norte e do Vietcong. A pseudotrégua de janeiro de 1973 era letra morta, e, com a vitória do Norte sobre o Sul, a Guerra do Vietnã finalmente chegava ao fim.
O papel dos meios de comunicação
Existe a lenda de que os meios de comunicação decidiram a Guerra do Vietnã. Na prática, porém, não existiam imagens dos crimes cometidos pelas tropas americanas nem das ondas de execuções dos comunistas nos territórios por eles conquistados.
Diversos estudos científicos demonstraram que as imagens das batalhas militares, dos feridos e dos mortos mutilados representaram apenas 5% a 7% do noticiário de TV sobre o Vietnã. Além disso, a maioria das cenas de guerra foram fictícias, porque as equipes de TV não chegavam com seus equipamentos até os últimos rincões das florestas vietnamitas.
É certo que os correspondentes tiveram mais liberdade do que em outras guerras para escrever críticas ao governo. Mas, nas tevês, a maioria das reportagens de três a quatro minutos mostravam um conflito sem nexo, de forma distanciada.