02/12/2025 - 7:42
Informações pessoais, dados de pagamentos e segredos de governo são transmitidos pelo fundo do mar. Tensões crescentes com a China expõem fragilidades do sistema.Eles são a espinha dorsal da globalização: cabos submarinos , que se estendem no fundo no mar, conectando países e continentes. De acordo com a plataforma Total Telecom, cerca de 500 cabos desse tipo atravessavam os oceanos em 2021, atingindo uma extensão de 1,3 milhão de quilômetros. Desde então, esse número aumentou ainda mais.
“Toda nossa troca de informações mundial está sendo transmitida por esses cabos”, diz Johannes Peters, coordenador do Centro de Estratégia e Segurança Marítima da Universidade de Kiel, na Alemanha. “A internet, dados de pagamento e informações de todas as formas imagináveis, todo o tipo de comunicação verbal – tudo isso passa quase exclusivamente por esses cabos”, afirma Peters. “Ou seja, somos dependentes deles, e isso em nível global”.
Entretanto, essa estrutura de comunicação está em risco. Não por causa de desgaste natural, mas por ameaças de destruição intencionais. Foi o que ficou claro mais recentemente no Mar Báltico. Segundo um estudo da Universidade de Washington em Seattle, desde 2022 foram rompidos cerca de dez cabos submarinos , sete deles entre novembro de 2024 e janeiro de 2025. Nos últimos meses, mais cabos foram destruídos.
A Rússiafoi citada várias vezes como a principal responsável por esses estragos. Indícios como marcas de âncoras ou movimentos suspeitos de navios reforçam essa suspeita. No entanto, até o momento, a responsabilidade de Moscou não foi comprovada de forma conclusiva, assim como também não há provas de que os danos foram realmente intencionais, já que eles também podem ter sido causados por acidentes ou mesmo por negligência.
Além da Rússia, outro país suspeito de ter destruído cabos subterrâneos no Mar Báltico é a China. No final de novembro de 2024, a Suécia solicitou ao país asiático que colaborasse na investigação de um caso semelhante.
Preocupações no Pacífico
Já na Ásia, crescem as preocupações em relação ao Pacífico. Pelo oceano passam redes de cabos conectam Japão, Taiwan, Coreia do Sul e EUA. Esses países temem que, em caso de um conflito com a China, os cabos submarinos também possam ser destruídos como infraestrutura crítica.
De acordo com um relatório do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington, a China desenvolveu um navio capaz de cortar cabos a profundidades de até 4 mil metros. Isso, juntamente com as crescentes tensões em áreas marítimas com infraestrutura crítica, indica que a China ampliou seu arsenal com um instrumento para romper esses cabos com precisão.
Outras instituições chegaram a conclusões semelhantes. Uma delas é a Comissão de Revisão Econômica e de Segurança EUA-China (USCC), que indicou isso no último relatório anual apresentado ao Congresso americano.
“A China tem participado cada vez mais de atividades de corte de cabos submarinos, que são usados como meio de pressão na zona cinzenta. Ao mesmo tempo, há cada vez mais indícios de que Pequim está desenvolvendo novas tecnologias para cortar cabos que podem ser usadas em caso de guerra.”
Destruição com enormes consequências
Um caso como esse teria um enorme impacto, afirma Kenny Huang, presidente do Conselho Executivo do Asia Pacific Information Center (APIC), órgão responsável pelo registro de domínios da internet na região Ásia-Pacífico. “Se o cabo principal for danificado, você perde toda a conexão com a Internet”, diz Huang.
“A região afetada se torna um vácuo de informações, pois também não há mais acesso à rede interna”, disse Huang, que também é presidente do Taiwan Network Information Center.
Para Taiwan, um cabo submarino interrompido teria um impacto enorme, alerta o pesquisador. “Isso isolaria Taiwan completamente do mundo exterior. O acesso à informação seria impossível. Isso teria consequências não apenas para a comunicação, mas também para muitos setores, como educação, economia, forças armadas, agricultura e muitos outros.”
O mesmo se aplica a outros países da região. Os cabos podem não só ser destruídos, mas também interceptados, segundo um relatório da revista online Global Defense Insight. “Países rivais podem explorar essas vulnerabilidades para obter informações ou vantagens estratégicas em conflitos de segurança marítima. A Coreia do Sul precisa melhorar sua estrutura de segurança cibernética e a cooperação internacional para proteger essas infraestruturas críticas”, diz a publicação.
Laboratório de testes
A destruição de cabos submarinos não exige nenhum esforço gigantesco, explica Johannes Peters, da Universidade de Kiel. “Basta apenas lançar no fundo do mar uma espécie de âncora, que pode puxar os cabos – que são, assim, rompidos em algum momento. Não é preciso ter nenhum navio particularmente poderoso”, complementa ele.
Segundo Peters, por causa disso, é preciso observar os desdobramentos no Mar Báltico de uma perspectiva mais ampla. “A China estará observando com muita atenção como o Ocidente reagirá aos ataques a cabos submarinos. Ela vai tentar identificar os problemas correspondentes dos países ocidentais – além dos problemas técnicos, também os jurídicos, decorrentes do direito marítimo internacional. Nesse sentido, o Mar Báltico é atualmente uma espécie de laboratório de testes para a guerra híbrida marítima, o que também se observa em outros lugares do planeta.”
Medidas de proteção
Um dos pontos que precisa ser aprimorado é a proteção jurídica aos cabos, diz Kenny Huang, do Asia Pacific Information Center. “Agora, é preciso aprovar leis que permitam aplicar penas mais severas ao corte intencional de cabos submarinos”, afirma.
O desenvolvimento de medidas técnicas também é necessário, diz Huang. “Quando um cabo é danificado, o tráfego de dados normalmente acaba redirecionado para outro cabo ou outro provedor. Um plano de backup em várias etapas para as operações diárias pode ajudar bastante. Mas mesmo com um plano de backup, isso nem sempre é possível. No caso de um ataque militar a um cabo submarino, não há nenhuma instalação que possa repelir uma ofensiva”, diz.
Por esse motivo, os países da região estão optando cada vez mais por medidas preventivas. De acordo com um relatório do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington, o Japão e seus aliados estariam excluindo empresas chinesas de projetos de cabos submarinos nos quais estão envolvidos investimentos e empresas americanas. Além disso, o Japão estaria instalando os cabos a uma distância considerável uns dos outros, para que um ataque não destrua todo o sistema.
Os países também poderiam designar certas áreas que os navios só poderiam atravessar com autorização, por causa dos cabos que estão instalados nesses locais, diz Peters. “Os próprios cabos também podem ser parcialmente protegidos, por exemplo, com tecnologia de sensores adequada”, conclui.
