Uma rica variedade de fenômenos meteorológicos ocorre na extensa atmosfera de hidrogênio de Saturno, um mundo com cerca de 10 vezes o tamanho da Terra. Eles nos ajudam a entender melhor características semelhantes na atmosfera da Terra. Entre esses fenômenos está o conhecido “hexágono”, uma incrível estrutura de ondas que circunda a região polar norte do planeta.

Descoberto em 1981 pelas sondas Voyager 1 e 2, da Nasa, o hexágono foi observado sem interrupção desde essa época, apesar do longo e forte ciclo de estações do planeta. Uma corrente de jato rápida e estreita flui dentro dessa gigantesca onda planetária, onde os ventos atingem velocidades máximas de cerca de 400 km/h. No entanto, estranhamente, a própria onda permanece quase estática; em outras palavras, mal muda em relação à rotação do planeta. Todas essas propriedades significam que o hexágono é um fenômeno altamente atraente para meteorologistas e pesquisadores da atmosfera do planeta.

A sonda Cassini, que esteve em órbita ao redor de Saturno entre 2004 e 2017, tirou uma grande quantidade de fotos de várias distâncias e ângulos de visão do planeta. Em junho de 2015, sua câmera principal obteve imagens de alta resolução do bordo do planeta, capazes de dar resolução a detalhes entre 1 km e 2 km; elas capturaram a névoa localizada acima das nuvens da onda hexagonal. Além disso, as fotos envolveram o uso de muitos filtros de cores, do ultravioleta ao (quase) infravermelho, permitindo que os pesquisadores estudassem a composição da névoa.

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Para concluir este estudo, os pesquisadores incorporaram imagens produzidas pelo Telescópio Espacial Hubble tiradas 15 dias depois que mostravam o hexágono de cima.

Segundo o estudo, cada camada de neblina tem até 18 km de espessura. Crédito: CGP/UPV/EHU/Cassini/ISS/Nasa/ESA/Universidade do País Basco
Pelo menos sete camadas

“As imagens da Cassini nos permitiram descobrir que, como um sanduíche, o hexágono possui um sistema de várias camadas de pelo menos sete neblinas que se estendem do cume de suas nuvens a uma altitude de mais de 300 km acima delas”, afirmou o professor Agustín Sánchez-Lavega, da Universidade do País Basco (Espanha), que liderou o estudo, publicado na revista “Nature Communications“. “Outros mundos frios, como Titã, satélite de Saturno, ou o planeta anão Plutão, também têm camadas de neblina, mas não em número tão grande nem regularmente espaçadas.”

A extensão vertical de cada camada de neblina tem entre 7 e 18 km de espessura e, de acordo com a análise espectral, elas contêm partículas minúsculas, com raios da ordem de 1 mícron. Sua composição química é exótica devido às baixas temperaturas na atmosfera de Saturno, variando entre -120 graus e -180 graus Celsius, podendo compreender cristalitos de gelo de hidrocarbonetos como acetileno, propino, propano, diacetileno ou mesmo butano nas nuvens mais altas.

A equipe também observou a regularidade na distribuição vertical das camadas de neblina. Os pesquisadores pensam que essas camadas são organizadas pela propagação vertical de ondas de gravidade que produzem oscilações na densidade e temperatura da atmosfera, um fenômeno bem conhecido na Terra e em outros planetas. Para a equipe, a própria dinâmica do hexágono e sua poderosa corrente de jato são responsáveis ​​por essas ondas de gravidade.

Na Terra, os pesquisadores observaram ondas desse tipo produzidas pela corrente de jato ondulante viajando a velocidades de 100 km/h de oeste para leste nas latitudes médias. O fenômeno pode ser semelhante nos dois planetas, embora as peculiaridades de Saturno signifiquem que seu caso é único no Sistema Solar. Esse é um aspecto que permanece sujeito a pesquisas futuras.