20/10/2021 - 11:46
Em abril do ano passado, o indiano Suraj Kumar, de 28 anos, pagou 7.000 rúpias (cerca de R$ 520) por uma naja, uma das cobras mais venenosas do mundo. O comércio de cobras é ilegal na Índia, então Suraj fez a compra clandestina de um caçador de cobras, Suresh Kumar, no estado de Kerala, no sul do país.
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Ele fez um buraco no recipiente plástico para que o ar entrasse, colocou a cobra dentro e a levou para casa. Treze dias depois, ele colocou o contêiner em um saco e caminhou até a casa de seus sogros, a cerca de 44 km, onde sua esposa Uthra estava se recuperando de uma misteriosa picada de cobra.
Uthra ficou em um hospital por 52 dias e precisou fazer três dolorosas cirurgias para curar sua perna afetada. Ela foi mordia por uma víbora de Russell, uma cobra altamente venenosa, responsável por milhares de mortes na Índia todos os anos.
Enquanto ela ainda se recuperava, na noite de 6 de maio, dizem os investigadores, ela aceitou um copo de suco de fruta misturado com sedativos de Suraj. Quando a mistura a fez dormir, Suraj tirou a cobra do recipiente e largou a cobra de um metro e meio de sua esposa adormecida. Mas ao invés de atacá-la, a cobra deslizou para longe. Suraj a pegou e a jogou em Uthra, mas novamente ela escorregou.
Suraj não desistiu: em uma terceira tentativa, ele segurou o réptil pelo capuz que é sua marca registrada e pressionou sua cabeça perto do braço esquerdo de Uthra. A agitada cobra mordeu-a duas vezes. Em seguida, escapuliu para uma prateleira no quarto e ficou lá a noite toda.
Após o crime, Suraj lavou o copo de suco, destruiu o graveto que havia usado para lidar com a cobra com segurança e apagou registros de ligações incriminatórias de seu celular, de acordo com os investigadores.
Quando a mãe de Uthra entrou no quarto dela na manhã seguinte, ela disse à polícia que viu sua filha deitada na cama com “a boca aberta e a mão esquerda balançando para um lado”. Ela disse que Suraj também estava no quarto.
“Por que você não verificou se ela estava acordada?”, perguntou ela ao genro. “Eu não queria perturbar o sono dela”, respondeu Suraj. A família levou Uthra às pressas para o hospital, onde os médicos a declararam morta por envenenamento e chamaram a polícia.
O relatório da autópsia encontrou dois pares de feridas de punção, com menos de uma polegada de distância, em seu antebraço esquerdo. Amostras de sangue e vísceras revelaram a presença de veneno de cobra e medicamentos sedativos. O veneno da cobra pode matar em horas, paralisando os músculos respiratórios.
A polícia prendeu Suraj em 24 de maio em conexão com a morte incomum de sua esposa. Depois de uma investigação de 78 dias e com acusações em mais de 1.000 páginas, o julgamento começou.
A investigação descobriu uma cobra morta exumada do jardim dos fundos, um estoque de sedativos no carro da família e evidências de que ele comprou não uma, mas duas cobras. Segundo os investigadores, a víbora de Russell que havia mordido Uthra há alguns meses também foi comprada por Suraj.
Um herpetologista disse ao tribunal que era altamente improvável que uma cobra tivesse entrado no quarto do casal por uma janela. A cena do crime foi até recriada, usando uma cobra viva, um tratador de cobras e um manequim em uma cama para simular o corpo da vítima.
“As cobras não são muito ativas à noite. Cada vez que largávamos uma cobra no manequim, ela escorregava para o chão e ia para um canto escuro da sala”, disse o herpetologista Mavish Kumar. “Mesmo quando provocamos a cobra, ela não tentou morder.”
Nesta semana, o juiz Manoj sentenciou Suraj à prisão perpétua, dizendo que ele planejou matar Uthra e “disfarçar como uma morte por mordida acidental de uma cobra”. De acordo com os investigadores, a mordida fatal da cobra foi a terceira, não a segunda tentativa de Suraj de matar sua esposa em apenas quatro meses.
Suraj comprou a víbora de Russell por 10.000 rúpias (aproximadamente R$ 741) em fevereiro do ano passado do mesmo caçador de cobras que comprou a naja que a assassinou.
Ele levou a cobra para casa em um recipiente de plástico e escondeu-a sob uma pilha de lenha em um galpão. Em 27 de fevereiro, Suraj soltou a cobra no primeiro andar de sua casa, disseram os investigadores, e pediu que sua esposa subisse para buscar seu telefone celular. Uthra viu a víbora enrolada no chão de mármore e deu o alarme, disse sua mãe à polícia. Suraj apareceu, pegou a cobra com uma vara e saiu de casa. Ele a colocou de volta no recipiente.
Na noite de 2 de março, Suraj tentou novamente. Ele misturou o pudim de sua esposa com sedativos e soltou a víbora no quarto enquanto ela dormia. Desta vez, disseram os investigadores, a cobra atacou. Uthra acordou gritando de dor e Suraj jogou a cobra pela janela.
Enquanto ela estava no hospital para um tratamento intensivo, Suraj já estava tramando novamente. “Suraj estava vasculhando a internet sobre como lidar com cobras e aprender sobre o veneno de cobra”, disse Anoop Krishna, um dos investigadores.
Suraj supostamente disse a seus amigos que sua esposa foi “assombrada pela maldição de uma serpente” em seus sonhos, nos quais ela estava “destinada a morrer por picada de cobra”. Mas, na realidade, Suraj estava determinado a matar sua esposa, roubar seu dinheiro e se casar com outra mulher, disseram os investigadores.
“Ele planejou tudo meticulosamente e teve sucesso na terceira tentativa”, disse Apukuttan Ashok, o principal policial investigador. O promotor público Mohanraj Gopalakrishnan chamou o caso de “um marco nas investigações policiais na Índia, quando os promotores puderam provar de forma decisiva que um animal foi usado como arma de assassinato”.