07/08/2024 - 11:21
A menor espécie humana conhecida, o Homo floresiensis, pode ser ainda menor do que se imaginava. É o que sugere uma análise realizada em fragmentos de ossos com 700 mil anos de idade encontrados na Ilha Vulcânica de Flores, na Indonésia. A avaliação de restos fossilizados de dois dentes e um osso do braço da espécie foi publicada na revista Nature Communications.
Primo menor do Homo sapiens, o “Homem de Flores” viveu no arquipélago indonésio até cerca de 50 mil anos atrás, quando foi extinto. Quando o primeiro espécime foi desenterrado na caverna Liang Bua, em Flores, em 2003, os arqueólogos ficaram impressionados com o seu tamanho: um adulto teria 106 centímetros de altura, o equivalente a uma criança de quatro anos.
Isso os inspirou a apelidar a espécie de “Homem Hobbit”, devido à sua estatura diminuta e aproveitando a popularidade, na época, dos filmes da saga O Senhor dos Anéis, de Peter Jackson.
Mas a origem da espécie e a causa de sua baixa estatura permanecem um mistério. Agora, essa nova descoberta abalou ainda mais a vinsão sobre os hominídeos de Flores.
Menores humanos do mundo
Encontrar ancestrais humanos na Ilha de Flores é difícil, comenta o arqueólogo Adam Brumm, da Universidade de Griffith, Austrália, que integrou a equipe responsável pela descoberta dos novos fragmentos de ossos.
“Foram anos e anos de escavações, encontrando milhares de fósseis de outros tipos de animais, como estegodontes, dragões de Komodo e ratos gigantes. Mas só achamos essa pequena quantidade de fósseis humanos.”
Há uma década, o grupo de pesquisa de Brumm estava talhando camadas de arenito endurecido em Mata Menge, a 76 quilômetros de Liang Bua, onde o primeiro “Hobbit” foi encontrado, quando descobriram um osso do braço, o úmero.
Eles levaram um tempo para entender o que haviam encontrado, mas a surpresa rapidamente se transformou em alegria. “Não tínhamos certeza do que era, mas era bastante parecido com os fósseis da caverna Liang Bua, que fica na mesma ilha.”
As análises confirmaram que o úmero pertencia a um Homo floresiensis que vivera há cerca de 700 mil anos. Agora, novas comparações com outros espécimes revelaram que o úmero é o menor de qualquer espécie de hominídeo já encontrada.
O indivíduo Homo floresiensis tinha cerca de um metro de altura. Assim, os autores concluem que as características físicas da espécie não mudaram muito antes de sua extinção, há 50 mil anos.
“Agora temos esses três fósseis extras. Quando avançamos 650 mil anos no tempo, as espécies não mudaram tanto, você pode ver que há definitivamente uma relação ancestral com as espécies anteriores”, explica Brumm.
“Regra da ilha” colocada em questão
O homem Hobbit da Ilha das Flores tem intrigado os arqueólogos desde sua primeira descoberta. Algumas teorias sugerem que a espécie já era um hominídeo de pequeno porte antes de chegar à ilha.
O atual estudo defende uma teoria diferente: que os homens hobbits seriam descendentes de uma espécie humana de porte maior que encolheu com o tempo. “Achamos que eles migraram do continente, ficaram presos nessa ilha remota de Flores e aí foram diminuindo ao longo do tempo, seguindo esse princípio conhecido como ‘regra da Ilha'”, diz Brumm.
Segundo essa regra, os mamíferos de grande porte que ficam isolados em ilhas diminuem de tamanho ao longo das gerações. Mas, se esse fosse o caso, os arqueólogos esperariam encontrar outro hominídeo com altura intermediária entre o Homo erectus e o Homo floresiensis, explica Susan Larson, da Universidade Stony Brook, que não participou do estudo.
“O fato é que esse espécime é tão pequeno, se não menor, do que o de Liang Bua, sugerindo que o nanismo ocorreu muito rápido e se manteve por centenas de milhares de anos.” Ela acrescenta que é difícil rastrear a evolução com precisão, pois há a possibilidade de os novos fósseis serem de um indivíduo atípico.
“Quando se tem um espécime isolado, é possível que se tenha um exemplar diferente. No entanto, o fato de esse úmero ser muito semelhante ao úmero LB1 me faz pensar que ele seja bastante típico da espécie”, conclui Larson.
Mais ossos são necessários
Matt Tocheri, um antropó especializado nas origens humanas da Universidade de Lakehead no Canadá, disse que o estudo aumenta o mistério em torno das origens do homem Hobbit.
“A questão é se ele é um descendente anão do Homo erectus, um descendente anão de alguma outra espécie primitiva de Homo (como o Homo habilis), ou simplesmente o descendente de espécies Homo primitivas de pequeno porte. Acho que essa pergunta continua sem resposta”, comenta Tocheri, acrescentando que há muito poucos indícios arqueológicos sobre esses “Hobbits” para que se conheça sua história e suas origens.
“Esses autores argumentam que o ‘nanismo’ deve, portanto, ter ocorrido antes em Flores. É claro que pode ser esse o caso, mas talvez não tenha havido nenhum nanismo, ou talvez seja apenas uma pequena redução de tamanho. Ainda não podemos dizer com certeza”, ressalva Tocheri.
Preencher as lacunas com mais espécimes ajudaria a expandir a história do “Homo Hobbit”, mas isso exigirá tempo – e sorte.