27/11/2025 - 7:25
Bombeiros continuam procurando centenas de moradores no complexo habitacional ainda em chamas, mais de 24 horas após o início de um incêndio que devastou os arranha-céus, matando ao menos 55 pessoas. Três foram presos.Bombeiros continuam nesta quinta-feira (27/11) a busca por centenas de desaparecidos em um complexo de apartamentos ainda em chamas em Hong Kong , um dia após o início de um incêndio que devastou os arranha-céus, matando ao menos 55 pessoas.
O incêndio começou na tarde de quarta-feira em um conjunto habitacional de oito prédios com 2 mil apartamentos e mais de 4.600 moradores e causou comoção na cidade, que possui alguns dos blocos residenciais mais densamente povoados e mais altos do mundo.
Nesta quinta-feira, uma densa fumaça continuava a sair do complexo Wang Fuk Court, no distrito de Tai Po, um subúrbio ao norte de Hong Kong, próximo à fronteira com o continente.
Os bombeiros lutam para controlar as chamas desde o meio da tarde de quarta-feira, quando o incêndio começou e se espalhou por sete dos oito edifícios do complexo. Mais de 24 horas depois do início do incêndio, o fogo havia sido extinto em quatro edifícios, e as chamas nas três torres restantes ainda estavam ativas, mas sob controle, de acordo com as autoridades na tarde de quinta-feira. Elas afirmaram que a operação poderia durar até a noite.
Multidões se reuniram nas ruas e áreas públicas próximas para organizar ajuda aos moradores desabrigados e aos bombeiros, parte de um esforço espontâneo que atraiu pessoas de toda a cidade.
“É realmente comovente. O espírito do povo de Hong Kong é que, quando alguém está em apuros, todos se unem para ajudar… Isso mostra que o povo de Hong Kong é cheio de amor”, disse Stone Ngai, de 38 anos, um dos organizadores de um posto de socorro improvisado.
Três presos
A polícia informou na manhã de quinta-feira que prendeu três homens em conexão com o incêndio, depois que materiais inflamáveis deixados durante trabalhos de manutenção e reformas fizeram com que as chamas “se espalhassem rapidamente e ficassem fora de controle”.
Os diretores e um consultor de engenharia de uma construtora foram presos sob suspeita de homicídio culposo. A polícia não divulgou diretamente o nome da empresa onde trabalham. “Temos motivos para acreditar que os responsáveis pela construtora foram extremamente negligentes”, disse Eileen Chung, superintendente sênior da polícia.
Na quinta-feira, a polícia também revistou o escritório da Prestige Construction & Engineering Company, que, segundo a agência de notícias AP, era responsável pelas reformas no complexo de torres. A polícia apreendeu caixas de documentos como provas, de acordo com a mídia local. Os telefones da Prestige não atenderam.
As autoridades suspeitam que alguns materiais nas paredes externas dos edifícios não atendiam aos padrões de resistência ao fogo, permitindo a propagação excepcionalmente rápida do incêndio.
A polícia também disse ter encontrado isopor – material altamente inflamável – fixado nas janelas de cada andar perto do hall do elevador da única torre que não foi afetada. Acredita-se que tenha sido instalado pela empresa de construção, mas o propósito não estava claro.
As autoridades de Hong Kong inspecionarão imediatamente todos os conjuntos habitacionais que passam por grandes obras após o desastre, disse o chefe do Executivo, John Lee .
Incêndio começou em andaime
O incêndio começou no andaime externo de uma torre de 32 andares, e se espalhou pelos andaimes de bambu e pelas telas de proteção da construção até o interior do prédio e, em seguida, para os outros edifícios, provavelmente auxiliado pelas condições de vento. Os bombeiros lançaram água contra as chamas intensas a partir de caminhões com escadas, mas as condições para combater o incêndio e resgatar pessoas eram difíceis.
Um especialista em segurança contra incêndio disse que o incidente “é bastante chocante”, já que as normas em geral exigem que os edifícios sejam espaçados para evitar que os incêndios se espalhem de um prédio para o outro. “Normalmente, eles não se espalham além do prédio de origem”, disse Alex Webb, engenheiro de segurança contra incêndio da CSIRO Infrastructure Technologies na Austrália, afirmando que os materiais citados pela polícia poderiam explicar por que os incêndios se espalharam.
Os andaimes de bambu são um elemento básico da arquitetura tradicional chinesa, sendo comuns em projetos de construção e reforma de prédios em Hong Kong, embora o governo tenha dito no início deste ano que começaria a eliminá-los gradualmente de projetos públicos devido a preocupações com a segurança.
Batendo nas portas
Vários moradores do complexo residencial disseram que não ouviram nenhum alarme de incêndio e tiveram que ir de porta em porta para alertar os vizinhos sobre o perigo. “O fogo se alastrou muito rápido. Vi uma mangueira tentando salvar vários prédios e achei que estava muito lento”, disse um homem de sobrenome Suen, relembrando seu sofrimento no dia anterior. “Tocando campainhas, batendo nas portas, alertando os vizinhos, dizendo para eles saírem – era assim que a situação estava.”
O morador Lawrence Lee aguardava notícias de sua esposa, que ainda estava presa em seu apartamento. “Quando o incêndio começou, eu disse a ela por telefone para sair de lá. Mas assim que ela deixou o apartamento, o corredor e as escadas estavam tomados pela fumaça e tudo estava escuro, então ela não teve escolha a não ser voltar para o apartamento”, disse ele, enquanto esperava notícias em um dos abrigos durante a noite.
Outro morador desalojado, Wong Sik-kam, lembrou como seu filho era um dos bombeiros enviados ao local. “Meu filho me ligou e me contou sobre o incêndio… Achei que fosse apenas um incêndio normal, como um acidente na cozinha que seria apagado. Quem diria que ficaria tão grave?”, disse Wong.
O Corpo de Bombeiros de Hong Kong elevou o número de mortos para 55 na manhã de quinta-feira. Entre os mortos estava um bombeiro de 37 anos, que foi encontrado com queimaduras no rosto meia hora depois de perder contato com os colegas, segundo o diretor do Corpo de Bombeiros, Andy Yeung.
Um porta-voz do governo que 61 pessoas estavam sendo tratadas em hospitais. Quinze estavam em estado crítico, 27 em estado grave e 19 em estado estável.
O governo local afirmou disse na madrugada de quinta-feira que 279 pessoas estavam desaparecidas, embora os bombeiros tenham afirmado posteriormente que haviam estabelecido contato com algumas delas. As autoridades informaram que mais de 900 pessoas buscaram refúgio em abrigos temporários durante a noite.
O consulado indonésio informou por volta do meio-dia que dois dos mortos eram indonésios que trabalhavam como empregados domésticos migrantes.
“Sem conseguir contato com as pessoas”
Na noite de quarta-feira, partes de andaimes carbonizados caíram dos prédios em chamas e as chamas podiam ser vistas dentro dos apartamentos, às vezes saindo pelas janelas para o céu noturno, lançando um brilho alaranjado sobre os edifícios ao redor.
“A temperatura no local está muito alta e há alguns andares onde não conseguimos entrar em contato com as pessoas que pediam ajuda, mas continuaremos tentando”, disse Derek Armstrong Chan, vice-diretor de operações do corpo de bombeiros.
Ele disse que o vento e os destroços provavelmente espalharam o fogo de um prédio para outro, embora tenha acrescentado que as autoridades estão investigando a causa do incêndio.
O presidente chinês, Xi Jinping , expressou condolências às vítimas, incluindo “o bombeiro que morreu em serviço”, segundo a mídia estatal.
Na tarde de quinta-feira, alguns moradores de blocos adjacentes que haviam sido evacuados por precaução puderam retornar para suas casas. Voluntários distribuíram roupas e marmitas no saguão aberto de um shopping próximo, enquanto algumas pessoas distribuíam panfletos com informações sobre pessoas desaparecidas.
O incêndio é o pior a afetar o centro financeiro em décadas. Em novembro de 1996, 41 pessoas morreram em um prédio comercial em Kowloon em um incêndio que durou cerca de 20 horas. Incêndios com mortes já foram um flagelo comum na densamente povoada Hong Kong, especialmente em bairros mais pobres. No entanto, as medidas de segurança foram intensificadas nas últimas décadas e esses incêndios se tornaram muito menos frequentes.
md/cn (AFP, AP, Reuters)
