01/09/2025 - 15:11
Pesquisadores da Universidade Paul Sabatier, na França, publicaram um estudo no periódico Science Advances relatando a descoberta de três esqueletos do período Neolítico que apresentam evidências de morte por estrangulamento em um contexto provavelmente ritualístico.
As ossadas foram originalmente escavadas em 1985 na comuna de Saint‑Paul‑Trois‑Châteaux, no sudeste da França. Os restos mortais pertencem a três mulheres adultas, sendo os corpos depositados em uma cova funerária com indícios de ações deliberadas durante o sepultamento. Uma das mulheres estava de barriga para baixo, com as pernas dobradas e os membros inferiores posicionados junto ao crânio. A segunda estava deitada de barriga para cima, com os membros inferiores igualmente flexionados. A terceira, por sua vez, foi enterrada separadamente, em posição anatômica convencional.
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A análise das posições sugere a aplicação de uma técnica de estrangulamento por ligação de membros inferiores ao pescoço, mecanismo compatível com o que, na modernidade, se denomina “incaprettamento”. Esse método resulta em asfixia postural ou compressão cervical letal por tração dos membros inferiores. Segundo os autores, não há sinais de ferimentos por objetos cortantes ou contundentes ocorridos no momento da morte.
Os pesquisadores consideram que os indivíduos morreram durante ou imediatamente antes do sepultamento, em um evento possivelmente vinculado a práticas funerárias ou rituais com função simbólica ou social. A presença da mó de moinho, instrumento associado à atividade agrícola, pode indicar conexão com ritos de fertilidade ou com ciclos agrários, embora não haja evidência direta de sua finalidade simbólica.
Outros sítios arqueológicos na Europa apresentam evidências semelhantes. Foram identificados ao menos 20 casos com características compatíveis de morte por estrangulamento ritual ou asfixia posicional entre o Neolítico e a Idade do Bronze. Esses dados sugerem a ocorrência recorrente de práticas obituárias envolvendo violência letal sem função clara.
O estudo integra análises de osteologia forense, arqueotanatologia e contextualização funerária. O objetivo dos autores é estabelecer padrões de comportamento mortuário no Neolítico europeu que possam ser associados a ações coletivas com significados rituais, sociais ou políticos ainda em investigação.