País escandinavo é o segundo a aderir à aliança na esteira da invasão da Ucrânia pela Rússia, pondo fim a tradição de neutralidade. Com isso, Otan passa a 32 membros, englobando quase todo o Mar Báltico.Após quase dois anos de espera, a Suécia viu seu último obstáculo à entrada na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ser removido nesta segunda-feira (26/02), com a aprovação, pelo Parlamento da Hungria, da expansão da aliança de 31 para 32 países-membros. A validação foi quase unânime, por 188 votos contra seis.

Comemorada pelo primeiro-ministro sueco Ulf Kristersson como “um dia histórico”, a votação pôs um fim à tradição de neutralidade do país escandinavo que, até então, havia resistido a duas guerras mundiais e à Guerra Fria.

“A Suécia está pronta para assumir sua responsabilidade pela segurança euro-atlântica”, escreveu Kristersson na rede social X. A chegada da Suécia deixa o Mar Báltico quase inteiramente cercado por países da Otan – com exceção da costa da Rússia e seu exclave de Caliningrado.

A Suécia tem uma força aérea e marinha modernas, com submarinos de ponta, feitos para atuarem no Báltico, e uma frota considerável de caças Gripen de fabricação própria – e que já foram vendidos ao Brasil. O país tem elevado seus gastos militares e deve atingir o patamar fixado pela Otan de 2% do PIB ainda em 2024.

“A Otan ganha um membro que é sério e capaz, e remove um fator de incerteza no norte da Europa”, comenta Robert Dalsjo, analista-chefe da Agência Sueca de Pesquisa em Defesa, um think tank governamental. Em troca, a Suécia ganharia “segurança em grupo” e o apoio nuclear americano.

A chegada da Suécia vem em meio à crescente incerteza sobre o futuro da Otan, caso os Estados Unidos voltem a ser governados por Donald Trump. O republicano tem sugerido que pode vir a deixar à própria sorte, em caso de conflito, os países que, a seu ver, não contribuam o suficiente para a segurança.

Negociações com Hungria duraram mais de um ano e meio

Após mais de um ano e meio de negociações com Budapeste, a resistência do premiê húngaro Viktor Orbán à entrada da Suécia na Otan foi vencida pouco dias atrás, com a assinatura de um acordo bilateral no setor de armamentos.

Assim como no caso da Finlândia, que entrou para a Otan em 2023, a adesão sueca foi motivada pela invasão russa em larga escala da Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022. A Suécia não faz fronteira direta com a Rússia, mas compartilha do Mar Báltico e, em alguns pontos, está a pouco mais de uma centena de quilômetros do território russo.

O ingresso de Finlândia e Suécia é a mais significativa expansão da aliança desde a sua entrada no leste europeu, na década de 1990. E embora Estocolmo já viesse cooperando com a Otan nas últimas décadas – no Afeganistão, por exemplo –, o apoio da opinião pública que viabilizou a candidatura formal à aliança só veio com a ameaça de expansão da guerra na Ucrânia.

Mas a adesão dependia da aprovação de todos os membros da aliança, e dois deles – Turquia e Hungria – acabaram atrasando o processo Ancara deu seu aval no final de janeiro, após o endurecimento de leis suecas que deverão tornar mais difícil a vida de exilados que se opõem ao regime de Recep Tayyip Erdogan, bem como com o acesso facilitado a armas e caças de fabricação sueca.

Com Budapeste, porém, as negociações se arrastaram por mais tempo. O regime de Orbán tem adotado uma postura mais pró-Rússia desde a eclosão da guerra, mas acabou aceitando a candidatura sueca após Estocolmo prometer vender quatro novos caças Gripen para reforçar a frota de 14 aeronaves já existente.

ra/av (Reuters, AP, ots)