20/12/2022 - 12:32
Espalhadas por vastas distâncias, as ilhas do Oceano Pacífico tropical teriam sido povoadas por humanos em duas migrações distintas iniciadas há aproximadamente 3.330 anos. A primeira seguiu uma rota ao norte do que é hoje o arquipélago das Filipinas e a segunda seguiu uma rota ao sul de Taiwan e Nova Guiné. As pessoas chegaram às ilhas entre essas rotas – agora formando os Estados Federados da Micronésia – cerca de mil anos depois.
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Mas uma nova descoberta de uma equipe internacional de pesquisadores sugere que as ilhas da Micronésia possivelmente foram colonizadas muito antes do que se supunha e que os viajantes nas duas rotas podem ter interagido uns com os outros. Eles relataram suas pesquisas em artigo publicado na revista PNAS.
Andrew Kemp, professor associado do Departamento de Ciências da Terra e do Clima da Universidade Tufts (EUA), foi à Micronésia para melhorar a compreensão de como a mudança climática afeta a mudança global do nível do mar, coletando novos dados do Oceano Pacífico tropical, que não é tão bem documentado quanto o Oceano Atlântico Norte.
Afundamento das ilhas
Com o apoio da National Science Foundation, a equipe de pesquisa coletou núcleos de sedimentos de mangue nas ilhas de Kosrae e Pohnpei, nos Estados Federados da Micronésia.
Embora o nível relativo do mar – a altura da terra em relação à altura do oceano próximo a ela – tenha caído durante os últimos 5 mil anos em grande parte do Pacífico tropical, na Micronésia a datação por radiocarbono mostrou que o nível relativo do mar aumentou significativamente, cerca de 4,3 metros, porque as ilhas estão afundando.
Os pesquisadores ainda não conseguem explicar completamente por que as duas ilhas estão afundando muito mais rapidamente do que outras no Pacífico. No entanto, eles puderam ver claramente os resultados e seu significado para entender como as pessoas vieram a povoar a remota Oceania.
A equipe – incluindo Juliet Sefton, então pesquisadora de pós-doutorado na Universidade Tufts e agora professora assistente na Universidade Monash (Austrália), e Mark McCoy, professor associado de antropologia na Universidade Metodista do Sul (EUA) – ficou impressionada com as implicações do nível relativo do mar para interpretar as ruínas monumentais de Nan Madol, uma grande série de edifícios de pedra construídos em ilhotas separadas por canais cheios de água do oceano perto da costa da ilha de Pohnpei.
Suposição incorreta
Há muito se presume que as ruínas (agora um Patrimônio Mundial da ONU) são edifícios administrativos ou religiosos construídos há cerca de mil anos para a elite da ilha viver separada da população principal da ilha.
Mas Kemp e seus colegas perceberam que o aumento relativo do nível do mar em longo prazo significava que essa suposição estava incorreta. Quando as estruturas foram construídas, elas estavam na própria ilha, não separadas por água. De acordo com McCoy, a descrição predominante de Nan Madol como a “Veneza do Pacífico” pode não ter sido precisa quando foi concebida.
Isso fez com que os pesquisadores pensassem sobre quando essas ilhas foram de fato colonizadas. Kemp observa que os primeiros marinheiros que chegaram às ilhas provavelmente viviam no litoral – é por isso que os pesquisadores procuram evidências arqueológicas lá, mas não as encontraram para habitações mais antigas.
“Propomos que Pohnpei e Kosrae talvez não tenham sido colonizadas anormalmente tarde, mas sim que foram colonizadas na mesma época que as outras ilhas do Pacífico”, disse Sefton. “As pessoas chegaram e viveram na costa, mas o afundamento das ilhas causou uma elevação relativa do nível do mar, que submergiu as evidências arqueológicas mais antigas. Provavelmente elas estão debaixo d’água, ainda para serem encontradas – se é que algum dia serão encontradas.”
Interação possível
Se for esse o caso, as pessoas nas migrações do norte e do sul podem ter interagido umas com as outras nas ilhas vulcânicas da Micronésia – Kosrae, Pohnpei, Chuuk e Yap.
Não havia nenhuma evidência disso antes porque os pesquisadores estavam construindo suposições erradas sobre quando as ilhas foram habitadas pela primeira vez com base nos níveis do mar. McCoy aponta que os arqueólogos “estão procurando no lugar errado há anos, porque presumimos que o nível relativo do mar estava caindo”.
“Embora não possamos provar que houve interação entre esses dois caminhos, podemos apresentar um argumento que diz que os dados que existem agora sobre a migração no Pacífico são provavelmente muito mais incompletos do que se pensa”, disse Kemp.