Reviravolta artística em um museu holandês: O Erguimento da Cruz, esboço a óleo antes considerado trabalho de um seguidor de Rembrandt (1606-1669) e esquecido num canto do Bredius, em Haia, foi confirmado como sendo obra do próprio mestre. A notícia foi dada nesta quinta-feira (3 de novembro) pelo próprio museu Bredius, onde o trabalho, comprado em 1921, estava exposto desde então.

A confirmação veio após a análise com novas técnicas científicas. “A qualidade dos detalhes é tamanha que estou convencido de que este é um Rembrandt”, disse Johanneke Verhave, que restaurou o esboço. Verhave estudou a obra com Jeroen Giltaij, ex-curador-chefe de pinturas antigas do museu Boijmans Van Beuningen, em Roterdã (Holanda).

Giltaij “redescobriu” o esboço pela primeira vez há cerca de um ano, em meio a pesquisas para um livro sobre Rembrandt. “Olhei para este trabalho de novo e de novo. Nas pinceladas. Eles são brilhantes”, disse ele à AFP. “Apenas algumas pinceladas largas” o convenceram de que o esboço era mesmo uma obra do mestre holandês, segundo ele contou.

Falta de detalhes

A obra foi adquirida em 1921 pelo curador original do museu, Abraham Bredius, que também tinha certeza de que Rembrandt era o autor. Com o passar do tempo, no entanto, o trabalho foi considerado uma “imitação grosseira” por especialistas em arte. Para justificar a análise, eles apontavam a aparente falta de detalhes nas pinceladas. Giltaij observou, porém: “Você tem que lembrar, este é um esboço a óleo. Rembrandt geralmente é muito preciso e refinado, mas isso é muito difícil. A razão é que o esboço a óleo é um esboço preparatório para outra pintura. Ele quer mostrar a composição, uma ideia aproximada de como a pintura real poderia ser”.

Segundo Verhave, o esboço foi submetido a exames por reflectografia infravermelha e raios X, que revelaram elementos bem sugestivos. “A pesquisa mostra que o esboço tem várias alterações feitas pelo próprio artista durante a pintura, o que significa que sua composição foi um processo criativo”, disse ela. “Isso significa que o pintor estava mudando de ideia enquanto trabalhava. Ele claramente não estava copiando outra pintura.” A investigação também mostrou uma similaridade entre a forma como o pintor manuseou seu pincel e a usada por Rembrandt.

Verhave e Giltaij enviaram sua pesquisa ao Rijksmuseum de Amsterdã (o museu nacional da Holanda), que fez um estudo próprio do caso. “Em relação ao uso de materiais, os pesquisadores do Rijksmuseum (…) não encontraram nada que contradiga uma atribuição a Rembrandt”, divulgou o museu Bredius.