31/07/2025 - 19:37
Jornais citam “assalto à democracia” e “pressão contra o Estado de Direito”. Tarifas de 50% impostas por Trump contrariariam interesses estratégicos dos EUA na região, empurrando o Brasil para o colo da China.The Guardian: “Trump exporta para o Brasil seu assalto à democracia”
“Nos últimos seis meses, Donald Trump foi acusado de arrastar rapidamente a maior democracia das Américas rumo ao autoritarismo. Agora, o ex-presidente dos EUA parece decidido a minar também a segunda maior democracia da região”, afirmou o The Guardian nesta quinta-feira (31/07), ao comentar a tarifa de 50% imposta pelo presidente americano às exportações do Brasil no dia anterior.
O tarifaço e as sanções ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes são, nas palavras do jornal britânico, um “ataque extraordinário às instituições brasileiras”, “em parte como retaliação pelo que ele [Trump] chamou de perseguição política ao seu aliado Jair Bolsonaro”, réu no caso da trama golpista.
“O esforço de Trump para ajudar Bolsonaro a escapar da justiça […], pressionando o governo e o STF, empolgou os apoiadores do ex-presidente”, afirma o Guardian, “mas enfureceu milhões de brasileiros […] que estão indignados com o que chamam de manobra estrangeira intolerável para subverter sua democracia 40 anos depois de ela ter sido restaurada, após duas décadas de ditadura”.
Frankfurter Allgemeine Zeitung: “Tarifas contrariam interesses estratégicos de Trump na América Latina”
“Que Trump não persegue apenas objetivos econômicos com suas tarifas, isso já se viu algumas vezes”, afirma o jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung em comentário publicado nesta quinta-feira.
Se, nas mãos de Trump, as tarifas viram “uma espécie de arma de uso geral na política externa, situada em algum lugar entre a diplomacia clássica e os meios militares”, elas só funcionam se “o consumidor americano estiver disposto, a longo prazo, a arcar com os custos”, e se os “governos visados se deixarem impressionar”, o que não parece ser o caso do Brasil.
“Politicamente, resistir aos EUA é até vantajoso para o presidente Lula. Afinal, trata-se da América Latina.”
“As tarifas também contradizem os objetivos estratégicos de Trump. Ele quer expulsar a China do hemisfério ocidental – vide Panamá e Groenlândia. Mas se agora ele busca o confronto por causa de seu velho amigo Bolsonaro, acaba apenas empurrando ainda mais o Brasil, membro do Brics, para os braços de Pequim.”
The New York Times: “Sinal claro de que o governo Trump está pronto para um confronto com o Brasil”
“Lula disse ao NYT na terça-feira [29/07] que seu governo vinha estudando tarifas retaliatórias sobre alguns produtos americanos caso Trump cumprisse suas ameaças. Agora, ele terá que decidir se lança ou não uma guerra comercial contra o segundo maior parceiro comercial do Brasil”, escreveu o jornal americano.
“Dadas as amplas isenções tarifárias, as medidas de quarta-feira podem acabar sendo menos prejudiciais do que parecem – mas são um sinal claro de que o governo Trump está pronto para um confronto com o Brasil.”
Tagesschau: “Tarifas são instrumento de pressão contra o Estado de Direito do Brasil”
“O tom está se tornando mais áspero, a pressão aumenta. Os Estados Unidos e o Brasil enfrentam a pior crise diplomática em décadas – e não há fim à vista”, observou o portal alemão Tagesschau.
“Pouco antes de o governo Trump cumprir sua ameaça tarifária na quarta-feira, ele também impôs sanções contra o ministro do STF que se tornou o rosto do processo contra Bolsonaro: Alexandre de Moraes.”
“Lula, por sua vez, mostrou-se inflexível – e combativo […]. O ataque de Trump e a firme defesa da soberania brasileira deram a Lula um impulso inesperado de popularidade […].”
“E mesmo que as tarifas atinjam duramente o Brasil, o país é economicamente menos dependente das exportações para os EUA do que outros da região. Quem mais se beneficiará será justamente o país que Trump mais combate: a China, que hoje já é o principal parceiro comercial do Brasil.”
ra (ots)