Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade Baylor (EUA) e instituições parceiras exploraram uma maneira melhor de administrar medicamentos que não requerem injeções, mas podem ser tão fáceis quanto engolir uma pílula. O estudo foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

“As pessoas não gostam de receber injeções pelo resto de suas vidas”, disse a coautora drª Christine Beeton, professora de fisiologia integrativa na Universidade Baylor. “No trabalho atual, exploramos a possibilidade de usar a bactéria probiótica Lactobacillus reuteri como uma nova plataforma de administração de medicamentos orais para tratar a artrite reumatoide em um modelo animal.”

Trabalhos anteriores do laboratório de Beeton mostraram que um peptídeo (proteína curta) derivado da toxina da anêmona-do-mar reduz de forma eficaz e segura a gravidade da doença em modelos de ratos com artrite reumatoide e pacientes com psoríase em placas. “No entanto, o tratamento com peptídeo requer injeções repetidas, reduzindo a adesão do paciente, e a administração oral direta do peptídeo tem baixa eficácia”, disse Beeton.

Resultados encorajadores

Beeton juntou forças com o dr. Robert A. Britton, professor de virologia molecular e microbiologia na Universidade Baylor. O laboratório de Britton desenvolveu as ferramentas e a experiência para modificar geneticamente bactérias probióticas a fim de produzir e liberar compostos. No estudo atual, a equipe usou bioengenharia no probiótico L. reuteri para secretar o peptídeo ShK-235 derivado da toxina da anêmona-do-mar.

Eles escolheram a L. reuteri porque essas bactérias são nativas do intestino humano e de outros animais. Trata-se de um dos grupos de bactérias do ácido lático que há muito é usado como fábrica de células na indústria de alimentos e é reconhecido como seguro pela Food and Drug Administration (FDA), a agência dos EUA que regula remédios e alimentos. A L. reuteri tem um excelente perfil de segurança em lactentes, crianças, adultos e até mesmo em uma população imunossuprimida.

“Os resultados são encorajadores”, disse Beeton. “A entrega diária dessas bactérias secretoras de peptídeos, chamadas LrS235, reduziu drasticamente os sinais clínicos da doença, incluindo inflamação das articulações, destruição da cartilagem e dano ósseo em um modelo animal de artrite reumatoide.”

Os pesquisadores acompanharam a bactéria LrS235 e o peptídeo ShK-235 que ela secreta dentro do modelo animal. Eles descobriram que depois de alimentar ratos vivos com LrS235 que liberam ShK-235, eles podiam detectar ShK-235 na circulação sanguínea.

Bactérias removíveis

“Outra razão pela qual escolhemos a L. reuteri é que essas bactérias não ficam no intestino permanentemente. Elas são removidas à medida que o intestino renova regularmente sua camada superficial interna à qual as bactérias se ligam”, disse Beeton. “Isso abre a possibilidade de regular a administração do tratamento.”

Mais pesquisas são necessárias para trazer esse novo sistema de administração de medicamentos para a clínica, mas os pesquisadores antecipam que isso pode facilitar o tratamento para os pacientes no futuro. “Essas bactérias podem ser armazenadas em cápsulas que podem ser mantidas no balcão da cozinha”, disse Beeton. “Um paciente pode tomar as cápsulas durante as férias sem a necessidade de refrigeração ou carregar agulhas e continuar o tratamento sem a inconveniência de injeções diárias.”

As descobertas fornecem uma estratégia de entrega alternativa para medicamentos baseados em peptídeos e sugerem que tais técnicas e princípios podem ser aplicados a uma gama mais ampla de medicamentos e ao tratamento de doenças inflamatórias crônicas.