Organização afirma que centros de fraudes cibernéticas que exploram vítimas de tráfico humano se tornaram globais. Criminosos usam cada vez mais ferramentas de IA para aplicar golpes.Fábricas de golpes cibernéticos que exploram vítimas de tráfico humano expandiram significativamente em todo o mundo, segundo um relatório sobre tendências criminais divulgado nesta segunda-feira (30/06) pela Organização Internacional de Polícia Criminal, a Interpol.

Os centros onde as vítimas são forçadas a participar de fraudes online surgiram inicialmente em alguns países do Sudeste Asiático.

Um deles é o KK Park, em Mianmar, de onde dois brasileiros conseguiram escapar em fevereiro deste ano. Países como Camboja e Laos também lidam há anos com quadrilhas especializadas em golpes digitais.

Segundo a Interpol, operações similares agora foram identificadas em pelo menos mais quatro países asiáticos. Há evidências de que o modelo também está se espalhando para outras regiões, como a África Ocidental, onde crimes financeiros cibernéticos já são comuns, o Oriente Médio, e a América Central.

A agência policial descreve o problema como uma “crise global”. As vítimas, originárias de ao menos 66 países de todos os continentes, são frequentemente atraídas por ofertas falsas de emprego e depois mantidas em cativeiro nos complexos de golpes.

Muitas são chantageadas por dívidas, espancadas, exploradas sexualmente e, em alguns casos, torturadas.

Enquanto os primeiros relatos da Interpol apontavam majoritariamente vítimas de língua chinesa, atualmente pessoas traficadas para esses centros de fraude também são oriundas de regiões como América do Sul, África Oriental e Europa Ocidental.

“Enfrentar essa ameaça que se globaliza rapidamente requer uma resposta internacional coordenada”, disse Cyril Gout, chefe interino dos serviços policiais da Interpol.

Cresce o uso de inteligência artificial

Dentro desses centros, as vítimas são obrigadas a executar golpes online, principalmente visando pessoas no exterior para roubar dinheiro. Uma operação liderada pela Interpol em 2024 revelou dezenas de casos como este.

No mesmo ano, a polícia desmantelou um centro de golpes em escala industrial nas Filipinas e outro na Namíbia, onde 88 jovens eram forçados a aplicar golpes.

Já no caso do KK Park, cerca de 7 mil pessoas foram resgatadas após algumas vítimas fugirem do local e o caso ganhar repercussão em 2025.

Tecnologias emergentes estão impulsionando ainda mais essa tendência. A Interpol destaca o aumento do uso de inteligência artificial para a geração de anúncios falsos de emprego ou mesmo criação de perfis deepfake para aplicar golpes como o da “sextorsão”.

Neste tipo de crime, por exemplo, criminosos usam imagens falsas para simular pessoas reais e chantageiam as vítimas com imagens íntimas.

Uso de rotas de tráfico

Em suas conclusões, a Interpol alerta que a expansão dessas redes criminosas exige ação urgente e coordenada para interromper as rotas do tráfico e apoiar as vítimas.

O relatório destacou que esses polos criminosos estão cada vez mais entrelaçados com outros grandes crimes transnacionais, demandando uma resposta global coordenada.

Rotas usadas para tráfico em centros de golpes também estão sendo exploradas para o contrabando de drogas, armas de fogo e espécies ameaçadas de extinção, afirmou a Interpol.

gq (DPA, DW)