12/11/2025 - 11:26
Em crise anunciada e agravada por sucateamento da infraestrutura, reservatórios sofrem com baixa sem precedente, ameaçando suprimento de água para milhões de pessoas e levando regime a cogitar evacuar a capital, Teerã.Metade do Irã não vê cair uma gota de chuva desde setembro, quando terminou o verão. A estação já tinha trazido calor extremo e agravado problemas de abastecimento de água.
Dados oficiais, que começam a medir a precipitação anualmente a partir de 23 de setembro, mostram que nenhuma chuva foi registrada desde então em 15 das 31 províncias do país.
A crise se transformou agora numa seca sem precedentes e leva as autoridades a racionar água. A capital Teerã impôs restrições alternadas no fornecimento para “evitar desperdícios”, segundo o ministro de Energia, Abbas Ali Abad.
Os moradores foram orientados a usar reservatórios e bombas de água. Para muitos, esta é uma história já conhecida. A população de Teerã cresce constantemente, com quase 18 milhões de residentes na região metropolitana, mas a infraestrutura hídrica permanece antiga e deteriorada.
Esforços insuficientes
Quem vive no centro da cidade enfrenta restrições de água não anunciadas há vários meses, com autoridades alegando que a causa são reparos no sistema. Os reservatórios estão no nível mais baixo em décadas.
“Nossa água ainda não foi cortada, mas estamos usando bombas de água no prédio há algum tempo, porque a pressão é muito baixa”, disse à DW uma aposentada da capital iraniana.
O governo afirma que as residências já diminuíram o consumo de água em 12%, aquém da meta prevista. Autoridades dizem que é preciso chegar a 20% até o inverno para evitar escassez, atribuindo o problema às condições climáticas e à seca persistente.
Este é o sexto ano consecutivo de seca no Irã. “Reduzir o consumo da população está longe de ser suficiente para superar esta crise”, afirmou a pesquisadora ambiental Azam Bahrami.
Ela explica que o setor agrícola, um importante componente da economia nacional, é responsável por 80% a 90% do consumo de água no país. “Enquanto outros setores forem priorizados, as medidas de economia não terão muito sucesso.”
Bilhões de toneladas perdidas
O Irã sempre foi um país relativamente seco. A baixa atual nos reservatórios, entretanto, resulta também de décadas de uso excessivo, irrigação ineficiente e infraestrutura defeituosa.
Desde 2002, o país tem perdido aproximadamente 16 bilhões de toneladas de água por ano, segundo o pesquisador Mohammad Javad Tourian, da Universidade de Stuttgart. No total, cerca de 370 bilhões de toneladas desapareceram nos últimos 23 anos. “Isso mostra que o problema é muito sério”, disse ele à DW.
Analistas ambientais tentam convencer as autoridades iranianas de que o país não pode mais sustentar o crescimento populacional nem ser autossuficiente na produção de alimentos. A resposta do governo foi sistematicamente eliminar estes especialistas do processo de tomada de decisões e substitui-los.
Sem perspectiva de fim para a crise hídrica, o debate se intensifica na sociedade. O jornal reformista Etemad atribuiu culpa a “gestores sem qualificação em instituições-chave”, enquanto a publicação diária Schargh afirmou que a proteção do clima foi “sacrificada à política”.
Muitos também criticam o presidente Masoud Pezeshkian, que sugeriu que Teerã poderia ser evacuada devido à crise hídrica. As autoridades iranianas não explicaram como milhões de moradores da cidade sairiam nem para onde seriam encaminhados.
Soluções de curto e longo prazo
Priorizar a água potável em cidades como Teerã e desviar temporariamente o uso menos urgente podem ser eficazes rapidamente como medidas de curto prazo, prosseguiu o pesquisador Tourian. “O que importa, no entanto, são ações decisivas para uma solução sustentável da crise hídrica.”
O uso de imagens de satélite ajudaria a formar uma visão clara e independente das perdas de água em todo o país e ajudaria a quantificar os orçamentos hídricos de forma realista, acrescentou. Outro passo crucial seria transformar a agricultura do Irã e orientá-la para culturas adequadas ao clima, combinadas com um sistema de irrigação mais eficiente.
“Todas essas medidas, no entanto, são mais fáceis de articular do que implementar. Elas exigem reformas institucionais, capacidade técnica, estruturas de dados confiáveis e vontade política — e esses fatores muitas vezes são mais difíceis de criar na prática do que a própria solução técnica”, afirma.
Ainda não há um plano claro do governo para superar a crise, para além de impor restrições no fornecimento de água e aguardar a chuva.