Conflito se acirra após eclosão de disputa entre forças sírias, beduínos e drusos no sul do país. Exército da Síria diz que cumprirá um cessar-fogo e vai se retirar da região.Israel lançou uma série de ataques aéreos contra instalações governamentais de Damasco nesta quarta-feira (16/07) no terceiro dia de investidas na Síria. O bombardeio destruiu parte do Ministério da Defesa sírio e atingiu áreas próximas ao palácio presidencial.

Segundo o governo israelense, sua campanha militar é “moderada e responsável” e pretende proteger a minoria drusa instalada na província de Sweida, localizada no sul da Síria. Israel demanda a retirada de forças sírias da região.

No local, milícias drusas entraram em conflito com beduínos sunitas e forças do governo sírio, em uma escalada que levou a uma desordem generalizada e resultou na morte de centenas de pessoas.

A disputa marca um aumento das tensões entre Israel e o governo interino sírio liderado por Ahmed al-Sharaa, apesar da recente tentativa de estreitamento de laços da Síria com os EUA.

Sharaa prometeu repetidamente proteger as minorias do país, mas enfrenta a desconfiança de grupos que temem um governo islamista. O sentimento foi agravado pelos massacres em massa de membros da minoria alauíta em março.

Quem são os drusos?

Os drusos são uma minoria religiosa com raízes no islamismo, caracterizada por um sistema eclético de doutrinas e que mantém laços históricos e culturais com Israel. Eles estão distribuídos entre Síria, Líbano e Israel.

Estima-se que 150 mil drusos tenham cidadania israelense e vivam no país, onde servem regularmente no Exército e são tidos como leais ao governo.

Na Síria, cerca de 700 mil drusos se concentram principalmente em Sweida, palco dos conflitos com combatentes beduínos, povos árabes nômades.

Tropas do Exército sírio foram enviadas ao local, e a disputa levou à morte de ao menos 169 pessoas, segundo a Rede Síria para os Direitos Humanos. Fontes de segurança estimaram o número de mortos em 300.

Segundo o Ministério da Defesa da Síria, o Exército do país começou a se retirar de Sweida nesta quarta-feira, após os bombardeios em Damasco. Um cessar-fogo com os drusos havia sido acordado na última terça-feira, mas até então não havia surtido efeito.

O governo de Sharaa, porém, pediu ao Conselho de Segurança da ONU que “trate das consequências da agressão israelense”.

Já o ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, declarou que o exército israelense “continuará operando vigorosamente em Sweida para destruir as forças que atacaram os drusos até que se retirem completamente.”

Drusos cruzam a fronteira para auxiliar familiares

Nesta quarta-feira, dezenas de drusos israelenses cruzaram a fronteira nordeste do país em direção a Sweida.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que pediu aos cidadãos não realizarem o percurso. O exército israelense informou que estava trabalhando para trazer de volta com segurança os civis que atravessaram para o país vizinho.

O druso israelense Faez Shkeir disse que se sentia impotente ao ver a violência na Síria. “Minha família está na Síria. Minha esposa está na Síria, meus tios são da Síria, em Sweida. Eu não gosto de ver eles sendo mortos. Expulsaram eles de suas casas, roubaram e queimaram as casas, mas eu não posso fazer nada”, contou à agência de notícias Reuters.

Em um comunicado, o governo sírio afirmou que os responsáveis pela desordem em Sweida seriam responsabilizados. Disse também que o governo estava comprometido em proteger os direitos do povo na região.

gq (Reuters, AFP)