Ativista estava em barco interceptado por forças israelenses em águas internacionais e foi deportada voluntariamente. Oito membros da tripulação, incluindo um brasileiro, seguem presos.A ativista sueca Greta Thunberg, detida na segunda-feira (09/06) por Israel junto com outros 11 passageiros de um barco de ajuda humanitária que se encontrava a caminho da Faixa de Gaza, afirmou nesta terça-feira em Paris, onde fez escala antes de chegar à Suécia, que eles foram “ilegalmente atacados e sequestrados” e “transferidos para Israel contra sua vontade”.

Ela afirmou que a ação por parte das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) era “mais uma violação do direito internacional” por parte do país – os militares israelenses interceptaram o barco em águas internacionais, a 185 quilômetros de Gaza, e o rebocaram até o porto de Ashdod, em Israel.

O veleiro, chamado Madleen, levava alimentos e suprimentos essenciais e tinha o objetivo de romper o bloqueio imposto por Israel aos palestinos, e faz parte de uma iniciativa chamada Frota da Liberdade.

A ativista de 22 anos ressaltou que as condições em que ele foi colocada enquanto estava em Israel, antes de ser deportada voluntariamente, não foram “absolutamente nada comparadas ao que as pessoas estão passando agora na Palestina, especialmente em Gaza”.

Ela afirmou que os governos europeus têm o “dever de impedir o que está acontecendo em Gaza” e pediu o fim da “ajuda militar e financeira a Israel” de todos os governos, especialmente da Suécia.

Brasileiro recusou deportação voluntária

Greta Thunberg é um dos quatro membros do veleiro Madleen, da Flotilha da Liberdade, que concordaram voluntariamente em ser deportados para seus países de origem, assim como o espanhol Sergio Toribio e os franceses Omar Faiad e Baptiste Andre.

Os oito ativistas restantes, entre eles o brasileiro Thiago Ávila, recusaram-se a assinar um documento que processa sua deportação voluntária e foram mantidos em uma prisão na cidade de Ramla, perto de Tel Aviv, até que um juiz decida sobre sua possível expulsão do país.

Entre eles está a eurodeputada franco-palestina Rima Hassan, do partido de esquerda A França Insubmissa.

“Não consegui me despedir deles e estou muito preocupada. Recebemos várias mensagens dizendo que eles não estão passando por momentos fáceis e que estão tendo problemas para ver seus advogados”, disse Thunberg, pedindo a ação de “todos que podem se mobilizar” e “exigir sua libertação imediata”.

Turquia chama ação israelense de “ataque hediondo”

A interceptação do Madleen por forças israelenses foi classificada pela Turquia como um “ataque hediondo”, enquanto o Irã afirmou que o ato era “uma forma de pirataria” em águas internacionais.

Francesca Albanese, relatora especial da ONU sobre a situação dos direitos humanos nos territórios palestinos, disse: “A jornada de Madleen pode ter terminado, mas a missão não acabou. Todos os portos do Mediterrâneo devem enviar barcos com ajuda e solidariedade para Gaza”.

Já o Ministério das Relações Exteriores da Autoridade Palestina, que governa trechos não ocupados da Cisjordânia, agradeceu os ativistas pelos seus “esforços para romperem o cerco na Faixa de Gaza”.

Outro barco da Frota da Liberdade, chamado Conscience, foi danificado em maio quando estava em águas internacionais, segundo os ativistas por um ataque de um drone israelense. Em 2010, uma operação militar israelense em um navio turco que também tentava furar o bloqueio a Gaza deixou dez civis mortos.

Para Israel, iniciativa era um “iate do selfie”

Já o ministro da defesa do país, Israel Katz, parabenizou os militares pela interceptação do barco e disse, por meio do seu porta-voz, que os instruiu a exibirem para os ativistas imagens dos ataques terroristas de 7 de outubro executados pelo Hamas.

“A antissemita Greta e seus amigos que apoiam o Hamas devem ver exatamente o que a organização terrorista Hamas, que eles passaram a apoiar e a agir em nome dela, realmente é”, disse Katz. “Eles devem ver as atrocidades cometidas contra mulheres, idosos e crianças, e entender contra quem Israel está lutando para se defender.”

Em uma série de publicações na rede X, o Ministério das Relações Exteriores de Israel criticou a iniciativa da Flotilha da Liberdade, chamando o veleiro Madleen de “iate do selfie” e pintando os ativistas como “celebridades” que tentaram encenar uma “provocação midiática com o único objetivo de ganhar publicidade”.

Pressão para entrada de ajuda humanitária

Israel está enfrentando pressão cada vez maior para permitir a entrada de mais ajuda em Gaza, a fim de aliviar a escassez generalizada de alimentos e suprimentos básicos.

Recentemente, Israel permitiu a retomada de algumas entregas depois de impedi-las por mais de dois meses e começou a trabalhar com a recém-formada Gaza Humanitarian Foundation (GHF), apoiada pelos EUA.

Mas as agências humanitárias criticaram a GHF e as Nações Unidas se recusam a trabalhar com ela, citando preocupações sobre suas práticas e neutralidade. Dezenas de pessoas foram mortas perto dos pontos de distribuição da GHF desde o final de maio, de acordo com a agência de defesa civil de Gaza.

O ataque terrorista do Hamas de 7 de outubro de 2023 que desencadeou a guerra resultou na morte de 1.219 pessoas do lado israelense, a maioria civis, de acordo com uma contagem feita pela agência de notícias AFP a partir de números oficiais.

O ministério da saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, afirma que pelo menos 54.981 pessoas, a maioria civis, foram mortas no território desde o início da guerra. A ONU considera esses números confiáveis.

Dos 251 reféns feitos durante o ataque do Hamas, 54 ainda estão presos em Gaza, incluindo 32 que os militares israelenses dizem estar mortos.

bl (EFE, AFP, AP)