Ex-procuradora-geral das Forças Armadas teria assumido responsabilidade por divulgação de imagens para a imprensa que mostrariam soldados espancando preso palestino, em caso que enfureceu ultradireita israelense.A ex-procuradora-geral das Forças Armadas de Israel, Yifat Tomer-Yerushalmi, foi presa no âmbito de um inquérito que investiga o vazamento para imprensa de um vídeo que mostraria soldados israelenses praticando tortura contra um detento palestino, segundo informações divulgadas pelo jornal Times of Israel nesta segunda-feira (03/11).

Tomer-Yerushalmi, que renunciou ao cargo na última sexta-feira, é suspeita de obstruir uma investigação policial sobre o vazamento das imagens. Em sua carta de renúncia, ela supostamente assumiu a responsabilidade pelo vazamento do vídeo, dizendo que queria “combater a falsa propaganda dirigida contra as autoridades militares de aplicação da lei”.

“As Forças de Defesa de Israel são um Exército moral e que respeita a lei e, portanto, mesmo durante uma guerra dolorosa e prolongada, devem investigar atos ilegais”, dizia a carta.

A divulgação das imagens gerou protestos violentos de membros da ultradireita israelense contra a detenção dos soldados acusados de torturar o preso.

Soldados sob investigação

A mídia israelense também informou que a ex-procuradora-chefe das Forças Armadas foi detida para interrogatório.

O vídeo, gravado por uma câmera de vigilância, supostamente mostra soldados abusando de um militante do grupo islamista Hamas na prisão militar de Sde Teiman, no sul de Israel.

A suposta agressão não é explicitamente visível, pois os soldados formam uma barreira com seus escudos ao redor do detento. Segundo relatos, o homem foi posteriormente hospitalizado.

Cinco reservistas do Exército foram acusados pelo incidente. Os advogados dos acusados negaram as alegações de que o detento também teria sido agredido sexualmente.

A polícia iniciou uma investigação para determinar se membros da promotoria militar estavam envolvidos na divulgação do vídeo.

Protestos contra as prisões

Em julho, a abertura de um inquérito pelas Forças de Defesa de Israel (FDI) para apurar as suspeitas de tortura gerou reações furiosas entre a extrema direita israelense. Uma multidão formada por ativistas e políticos ultranacionalistas invadiu duas bases do Exército para exigir a soltura de nove soldados que foram inicialmente detidos pela polícia militar no âmbito do caso.

Os manifestantes chegaram a invadir a base de Sde Teiman, no sul do país, que vinha sendo alvo de denúncias de abusos a prisioneiros por parte de ativistas e ONGs.

Vídeos registraram várias pessoas pulando as cercas da base ou forçando os portões. Entre os invasores, segundo o jornal israelense Haaretz, estavam dois deputados e o ministro do Patrimônio Judaico, Amichai Eliyahu, que em novembro do ano passado ficou conhecido internacionalmente ao sugerir que a Faixa de Gaza deveria ser alvo de um ataque nuclear.

A multidão acabou sendo dispersada pelos guardas da base.

Netanyahu condenou vazamentos

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, condenou a divulgação do vídeo, classificando o episódio como “talvez o ataque de relações públicas mais grave que Israel sofreu desde a sua fundação” e anunciou uma investigação independente.

Na sexta-feira, o ministro israelense da Defesa, Israel Katz, comemorou a demissão da procuradora. “Aqueles que difamam soldados das Forças de Defesa de Israel não têm lugar no Exército”, afirmou, segundo um comunicado de seu gabinete.

Em outubro de 2024, uma comissão da ONU constatou que milhares de detidos foram submetidos a “abusos generalizados e sistemáticos” em campos militares e centros de detenção israelenses, o que configuraria um “crime de guerra e crime de tortura contra a humanidade “.

O governo de Israel classificou as acusações como “ultrajantes”, acrescentando que está “totalmente comprometido com os padrões legais internacionais em relação ao tratamento de detidos”.

rc (DPA, AFP)