Exército de Israel bombardeou alvos no território, indicando fim do frágil cessar-fogo em vigor desde janeiro. Número de mortos passa de 300, de acordo com o governo local, controlado pelo Hamas.As Forças Armadas de Israel iniciaram na madrugada desta terça-feira (18/03) uma nova campanha de ataques a alvos do Hamas na Faixa de Gaza, indicando que o frágil cessar-fogo que imperava na região desde janeiro.

O número de mortos de mortos já passa de 300, de acordo com dados do governo do território, controlado pelo grupo islâmico Hamas – considerado uma organização terrorista pelos EUA, pela União Europeia e por outros países.

O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que os ataques foram iniciados após o Hamas se recusar a libertar reféns que ainda são mantidos pelo grupo em Gaza.

Os militares israelenses disseram que atingiram dezenas de alvos e que os ataques continuariam pelo tempo que fosse necessário e se estenderiam além dos ataques aéreos, aumentando a perspectiva de que as tropas terrestres israelenses possam retomar os combates.

Um membro do Hamas disse à agência Reuters que a retomada dos ataques significavam um rompimento unilateral, por parte de Israel, do acordo de cessar-fogo,

“Várias vítimas sob escombros”

Em comunicado divulgado por sua assessoria de imprensa, o governo de Gaza advertiu que “várias vítimas ainda estão sob os escombros e esforços estão em andamento para resgatá-las”.

“Há dezenas de corpos que ainda não conseguiram chegar aos hospitais”, disse à agência de notícias EFE Zaher al Waheidi, diretor da unidade do Ministério da Saúde de Gaza responsável pela contagem de mortos. Até a manhã desta terça-feira, 254 corpos e 440 feridos haviam chegado aos hospitais.

O governo de Gaza disse que os corpos não estão chegando aos hospitais “devido à difícil situação humanitária no local e à paralisia do setor de transporte por conta da falta de combustível em todas as províncias da Faixa”, referindo-se à atual escassez de combustível no enclave, que piorou quando Israel começou a bloquear completamente o acesso à ajuda no início deste mês.

Israel voltou a bombardear a Faixa de Gaza após um cessar-fogo de quase dois meses, no que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, qualificou como “medidas enérgicas contra a organização terrorista Hamas”, acusando o grupo de não entregar as 59 pessoas sequestradas em 7 de outubro de 2023 que permanecem no território palestino.

Maioria dos mortos seriam mulheres e crianças

De acordo com o governo da Faixa de Gaza, a maioria dos mortos eram mulheres e crianças. Antes do cessar-fogo entrar em vigor em 19 de janeiro, as Nações Unidas estimaram que cerca de 70% dos mortos no enclave eram mulheres e crianças.

“Esses massacres brutais, que a ocupação (israelense) continua a perpetrar, ocorrem em um momento em que a Faixa de Gaza está sob um bloqueio catastrófico e sufocante e com o fechamento total de seus cruzamentos fronteiriços”, lembrou o governo local.

“Afirmamos que nosso povo palestino continuará trabalhando, usando todos os meios legais, políticos e diplomáticos, para expor os crimes da ocupação e pôr fim a essa agressão brutal que é uma vergonha para a humanidade”, acrescentou.

O gabinete de Netanyahu anunciou em um comunicado que o Exército estava atacando alvos do Hamas em Gaza “para alcançar os objetivos da guerra, conforme determinado pela cúpula política, incluindo a libertação de todos os nossos reféns, tanto os vivos como os mortos”.

“A partir de agora, Israel agirá contra o Hamas com força militar cada vez maior”, acrescentou o comunicado, detalhando que o “plano operacional” para retornar à guerra “foi apresentado no último final de semana pelo Exército e aprovado pela cúpula política”.

Os bombardeios começaram depois que Netanyahu anunciou que uma delegação de Israel viajaria ao Cairo para continuar negociando um cessar-fogo com o Hamas.

Famílias acusam Netanyahu de abandonar reféns

O Fórum das Famílias dos Reféns e Desaparecidos, que reúne parentes da maioria dos prisioneiros na israelenses Faixa de Gaza, condenou os bombardeios e acusou o governo de Israel de abandonar os reféns.

Os membros da organização disseram estar “totalmente dececionados” com o ataque.

Em Israel, o Fórum das Famílias que se manifesta semanalmente para exigir o fim da guerra e garantir o regresso dos reféns, afirma que o governo de Benjamin Netanyahu deve regressar ao cessar-fogo que esteve em vigor durante quase dois meses.

“Porque é que não lutam na sala de negociações? Porque é que abandonam o acordo que podia ter trazido todos para casa”, lamentam os familiares dos reféns.

Ainda permanecem 59 cativos na Faixa de Gaza, a maioria sequestrada no ataque do Hamas de 07 de outubro de 2023. No ataque de 2023, o Hamas matou 1.200 pessoas em território israelense e fez 251 reféns.

“O regresso aos combates antes da libertação do último refém será feito à custa dos 59 prisioneiros que permanecem em Gaza e que poderiam ser salvos”, continua o comunicado.

Já o fórum de direita Tikva, um outro grupo que reúne as famílias de alguns dos reféns, apoiou os bombardeios. “Ou tudo ou o inferno”, disse o grupo.

“As últimas semanas provaram o que temos dito: o Hamas não vai devolver os reféns. Só a pressão militar, o bloqueio total, incluindo o corte da eletricidade e da água, e a ocupação dos territórios vão levar o Hamas ao colapso”, indica o comunicado o fórum de direita.

A segunda fase do cessar-fogo em Gaza deveria ter começado no último dia 2 de março, mas Israel e o Hamas nunca chegaram a acordo sobre os termos.

Esta fase incluía o fim duradouro das hostilidades, a retirada das tropas israelenses da Faixa de Gaza e o regresso dos reféns restantes.

Israel exigiu um prolongamento da primeira fase insistindo na manutenção das tropas em Gaza e a libertação dos reféns. O Hamas rejeitou a posição, exigindo o cumprimento do plano originalmente acordado.

Durante a primeira fase do cessar-fogo, o Hamas libertou 33 reféns israelenses e cinco cidadãos tailandeses, o que não estava previsto inicialmente. Israel libertou cerca de 1.800 prisioneiros palestinianos.

md (EFE, Lusa, Reuters, AFP)