Fotografar gorilas na floresta não é exatamente a especialidade de J.R. Duran. O habitat que o catapultou para a notoriedade foi o estúdio. Ou cenários onde sempre mirou suas lentes festejadas para mulheres fascinantes, entre artistas e supermodelos. Mas sempre que perguntam sobre o seu lado B, o fotógrafo catalão rebate, no timbre de seu sotaque charmoso e divertido, que não tem lado. Duran não é segmentado. Sua obra é da família da homeopatia: quer enxergar o todo. De Jorge Amado a Gisele Bündchen. Das letras à moda. Das tribos na Etiópia aos índios do Xingu. Da nudez feminina à vida no sertão. Hoje, mais do que nunca, ele se interessa em registrar, com seu olhar, todos os retratos possíveis do planeta. Por isso é o que é: escritor, editor da sua revista Nacional (publicação semestral que compila sua obra em todas as facetas autorais), um grande autor de retratos, um fotojornalista e ainda um aventureiro nato.

Com esse espírito, Duran partiu para Ruanda, na África, em 2002. Há 13 anos, ele guarda na memória e nas belíssimas fotos aqui publicadas a experiência de ter se embrenhado no coração da África para registrar um santuário de gorilas de montanha em extinção. Numa expedição rumo ao Vale da Lua, na fronteira de Ruanda com a República Democrática do Congo e palco de massacres sangrentos entre as etnias hutu e tutsi durante a Guerra Civil Ruandesa (1990-1994) –, Duran teve entre seus guias soldados do Rwandan Patriotic Front (RPF) para a jornada até as Montanhas Virunga, cenário do filme Na Montanha dos Gorilas, de 1988, no qual a atriz Sigourney Weaver vive a luta real da zoóloga americana Dian Fossey pela preservação da espécie, iniciada noos anos 60 e só encerrada com a sua morte, em 1985.

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Na expedição, os guias que trabalharam para o fotógrafo incluíam soldados do Rwandan Ptriotic Front

“Gosto de ir a lugares fora do GPS usual das pessoas e descobrir geografias que eu desconheça na prática. Tinha lido bastante sobre Ruanda na época em que os hutus massacraram 600 mil tutsis em poucos meses. Li histórias sobre os gorilas que habitam o Parque Nacional dos Vulcões, na fronteira com Uganda e o Congo, além de ter visto o filme. Quando li um dia no International Herald Tribune que se podia fazer a viagem até Ruanda, não duvidei. Dois meses depois estava desembarcando lá”, conta. Duran ficou no Hotel Mille Colines, onde algumas dezenas de tutsis foram protegidas e salvas do massacre durante a guerra civil. “O filme Hotel Ruanda conta a história que se passou no hotel onde me hospedei, mas o país já estava normalizado então, as pessoas não falavam sobre o passado.”

Ameaça persistente

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“Sou um fazedor”, diz Duran. “Quando estava fotografando os gorilas, me preocupava apenas em fazer uma boa foto”

A ação de Dian Fossey ajudou a atrair o interesse pela preservação dos gorilas de montanha, mas a espécie segue muito ameaçada. Hoje há menos de 900 desses animais na natureza. Das lembranças que guarda da expedição, J.R. Duran surpreende. “Na memória está guardada a foto que não fiz. Aliás, todos os fotógrafos se lembram das fotos que não fizeram.” Ele conta que foi um momento de perigo, em que o instinto de sobrevivência venceu o desejo de garantir a imagem. “Sem querer, fiquei no caminho e fechei o passo para um gorila em plena trilha, coisa que os guias recomendam não fazer”, ele se recorda. “O gorila ficou bravo, levantou os braços e mostrou os dentes. Na hora, me agachei. Os guias orientam fazer isso nessa situação de perigo. E eu perdi uma foto espetacular.”

Não foi a primeira vez que Duran se viu a poucos metros de distância de bichos. “Tenho uma pequena lista de rinocerontes, leões, elefantes, hipopótamos com que já cruzei caminho, e bem de perto.” O processo da viagem, e não apenas a foto, faz parte do show. “Numa viagem, em movimento constante, o importante é: ‘the journey is the destination’. Sou um fazedor. Quando estava fotografando os gorilas, me preocupava apenas em fazer uma boa foto.”

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