O telescópio espacial James Webb, da Nasa, detectou possíveis galáxias supermassivas tão antigas que podem redefinir a compreensão atual sobre a formação de galáxias e a origem do próprio universo, de acordo com um estudo publicado nesta quarta-feira (22/02) pela revista científica Nature. A velocidade com que as galáxias teriam se formado após o Big Bang surpreendeu os cientistas.

Desde que entrou em operação, em julho do ano passado, o telescópio James Webb tem fornecido informações sobre os partes distantes do universo. Os pesquisadores disseram que os dados obtidos revelaram o que parecem ser seis grandes galáxias tão massivas e maduras quanto a Via Láctea.

A massa delas seria equivalente a entre 10 mil e 100 bilhões de vezes à do Sol. Elas existiam entre 540 milhões e 770 milhões de anos após o Big Bang, explosão que deu origem ao universo há 13,8 bilhões de anos.

“Esta é uma descoberta surpreendente e inesperada. Pensávamos que as galáxias se formavam em períodos muito mais longos”, disse Joel Leja, astrofísico da Penn State e coautor do estudo.

Essas possíveis galáxias, uma das quais parece ter uma massa equivalente à da Via Láctea, mas ser 30 vezes mais densa, parecem diferir fundamentalmente das existentes no atual universo.

“Se a Via Láctea fosse um adulto de tamanho normal, por exemplo, com 1,75m e 70kg, esses bebês de um ano pesariam mais ou menos o mesmo, mas mediriam menos de 7cm”, comparou o pesquisador principal do estudo, Ivo Labbe, da Universidade de Tecnologia de Swinburne, na Austrália.

Expectativa era encontrar galáxias menores

Labbe disse que esperava encontrar galáxias muito menores em um período tão perto do início do universo.

“Embora a maioria das galáxias nesta era ainda seja pequena e cresça gradualmente ao longo do tempo, existem alguns ‘monstros’ que atingem a maturidade rapidamente”, destacou.

“Ninguém esperava encontrá-las. Essas candidatas a galáxias são simplesmente evoluídas demais para nossas expectativas. Elas parecem ter evoluído mais rapidamente do que nossos modelos padrão permitem”, ressaltou.

Leja chamou as descobertas de “candidatas a galáxias” porque são necessárias mais observações para confirmar que todas, de fato, são galáxias – e não outra fonte de luz, como um buraco negro supermassivo, por exemplo.

“A parte emocionante é que, mesmo que se confirme que apenas algumas são galáxias massivas, essas coisas são tão massivas que elas sozinhas derrubariam nossas medições da massa total das estrelas. Sugeriria que nesta época existe 10 a 100 vezes mais massa estelar do que o esperado e implicaria que as galáxias se formam muito, muito mais rápido no universo do que se pensava”, explicou Leja.

O mistério da matéria escura

A formação de galáxias após o Big Bang aparentemente dependeu de um material misterioso chamado de “matéria escura”, que é invisível para o olho humano, mas é conhecido pela influência gravitacional que exerce sobre a matéria normal.

“A principal teoria é que um oceano de matéria escura preencheu o universo primitivo após o Big Bang”, explica Labbe.

“Essa matéria escura – não sabemos o que realmente é – começou muito suave, com minúsculas ondas. Estas cresceram ao longo do tempo devido à gravidade e, posteriormente, a matéria escura começou a se acumular em aglomerados concentrados, arrastando o gás hidrogênio ao longo do caminho. Esse hidrogênio gasoso é o que acabou se transformando em estrelas. Aglomerados de matéria escura, gás e estrelas são o que chamamos de galáxia”, acrescentou.

le (AP, EFE, Reuters, AFP)