24/10/2025 - 12:25
Nascido há 200 anos, compositor vienense encantou multidões do século 19. Mas teve que superar proibição do pai e resistência contra sentimento revolucionário.Nascido há 200 anos em Viena, na Áustria, Johann Strauss II (também conhecido como Strauss Filho) ficou internacionalmente conhecido como o “Rei da Valsa”. Com sua música dançante em compasso ternário, ele encantava multidões do século 19.
Strauss foi um popstar da sua época, que lotava enormes salões de baile em toda a Europa com públicos jovens. Com o violino na mão, deixava-se celebrar, com direito a produtos de merchandising e acessórios especiais.
Ele compôs a famosa “Danúbio Azul” em 1867 para a Exposição Universal de Paris. Mas conquistaria a fama mundial em 1872, com uma apresentação na abertura do festival “World Peace Jubilee” (Jubileu Mundial da Paz, na tradução livre ao português), em Boston, nos Estados Unidos (EUA).
O vienense então regeu um concerto com 20 mil músicos diante de 100 mil espectadores, com a ajuda de 20 maestros assistentes. Ele também se apresentou para a família imperial russa e fez turnês pelos EUA.
À sombra de Strauss pai
O compositor construiu com sua família um verdadeiro império do entretenimento. Mas, antes disso, Strauss teve de lutar duro para conquistar seu espaço na música.
Seu pai, também Johann Strauss, também era um respeitado maestro e compositor de música popular, conhecido pela Marcha de Radetzky. Ele tentou impedir a carreira musical do filho e chegou a proibi-lo de se apresentar.
Após a morte do pai, em 1845, Strauss conseguiu, aos poucos, emergir na cena vienense. Sua mãe cuidava dos negócios, e os irmãos Josef e Eduard também se envolveram na chamada “dinastia Strauss”.
“Strauss trabalhou com enorme paixão por sua carreira e por sua obra de vida, compondo até altas horas da noite”, explica Marko Deisinger, pesquisador da coleção musical da Biblioteca Nacional da Áustria. Ele colaborou na exposição “Uma estrela mundial movida pela paixão”, que exibe cartas e caricaturas de Strauss por ocasião de seu 200º aniversário.
O estresse do sucesso e as longas noites de trabalho afetaram sua saúde. No palco, ele frequentemente desmaiava e ficava dias inacessível. “Um jornal chegou a mencionar uma forte exaustão nervosa. Ele foi substituído várias vezes por seu irmão em concertos que deveria reger”, conta Deisinger.
Simpatia pela revolução
Outra chave do sucesso da carreira de Strauss foi a sua habilidade para cultivar relações profissionais e sociais. A sua casa se transformaria num ponto de encontro para figuras proeminentes da vida cultural.
Em particular, ele mantinha laços tanto com o compositor, dramaturgo e diretor teatral alemão Richard Wagner quanto com Johannes Brahms, um dos mais importantes compositores alemães.
Mas a carreira de Strauss foi também atrasada pela sua simpatia por sentimentos revolucionários. Exemplo disso foram as suas valsas Canções da Liberdade e Marcha Revolucionária, uma declaração de apoio às insurreições populares que marcaram a Revolução de Março de 1848.
“Então ele caiu em desgraça na corte”, explica Deisinger. Por esse motivo, ele teria se candidatado duas vezes, sem sucesso, ao importante cargo de diretor do baile da corte em Viena. Só em 1863 seria aceito.
Conflitos internos
De um lado, Strauss celebrava grandes sucessos na Europa, na Rússia e nos EUA. De outro, era atormentado por dúvidas e complexos de inferioridade, como revelam suas cartas às esposas.
O compositor se casou três vezes. Algumas dessas cartas fazem parte do acervo da Biblioteca Nacional da Áustria, incluindo uma de 1882 para sua segunda esposa, Angelika, chamada de Lili.
“A carta está incompleta, mas nela descobrimos uma caricatura feita por ele mesmo, até então desconhecida”, explica Deisinger. O desenho mostra Strauss chorando, de pernas finas e sem calças – um retrato de sua vulnerabilidade –, enquanto outras cartas suas demonstram que ele sofria de oscilações de humor. “Essa autoimagem revela sua tristeza, perda de controle, masculinidade ferida e desejo de ser amado.”
A valsa e os nazistas
Até 1870, Strauss Filho escreveu principalmente músicas de dança, como valsas e polcas. Depois, voltou-se para o teatro, compondo operetas famosas como “O Morcego”, “O Barão Cigano” e “Uma Noite em Veneza”. Sua única ópera não teve o mesmo sucesso.
Os nazistas usaram as valsas como ferramenta de propaganda, apresentando-as como danças “tipicamente alemãs”. Durante a Segunda Guerra Mundial, as melodias alegres de Strauss serviram como distração diante dos horrores do conflito.
O ministro da Propaganda, Joseph Goebbels, chegou a falsificar documentos para apagar registros que indicavam origem judaica em sua família.
Até hoje, as valsas de Strauss são tocadas no tradicional Concerto de Ano-Novo da Filarmônica de Viena. Noventa emissoras de TV transmitem o evento para o mundo todo, incluindo Europa, Japão, China, EUA, Brasil, ilhas do Caribe e Quênia.
