06/07/2025 - 11:05
Correspondente e operador de câmera estavam devidamente identificados com coletes e iam cobrir um protesto de palestinos, mas foram afugentados a pedradas.Uma equipe de jornalistas da DW foi agredida por colonos israelenses na Cisjordânia na última sexta-feira (04/07). A dupla – uma correspondente e um operador de câmera, ambos devidamente identificados com coletes – foi afugentada a pedradas e perseguida durante um ataque ao vilarejo palestino de Sinjil, ao norte de Ramallah.
Eles estavam na região para cobrir um protesto contra a violência de colonos e conseguiram escapar ilesos, mas o carro do câmera teve a lataria amassada e uma janela quebrada. Outros jornalistas de outros veículos também foram perseguidos durante a ação.
O protesto era motivado pela construção recente de uma cerca que restringe a movimentação de moradores do vilarejo. A marcha acabou reprimida com tiros de advertência disparados por militares israelenses, segundo a agência de notícias AFP.
Condições de trabalho para jornalistas cada vez piores na Cisjordânia
O ataque à equipe da DW foi condenado pelo diretor-geral da redação, Peter Limbourg. “O governo israelense precisa garantir a segurança de todos os jornalistas na Cisjordânia”, declarou em nota divulgada neste sábado. “A liberdade de imprensa – e, com ela, a segurança de jornalistas – é um pilar indispensável de toda democracia”, frisou.
A Associação dos Jornalistas Alemães (DJV) também se pronunciou, cobrando explicações do governo israelense e a responsabilização judicial dos envolvidos. “Não é possível que colonos radicais saiam impunemente à caça de jornalistas. Isso não pode ficar sem consequências”, disse o diretor da entidade, Mika Beuster.
Segundo Beuster, jornalistas estrangeiros que atuam na região trabalham sob condições difíceis, e o episódio envolvendo a equipe da DW na última sexta-feira mostra que as autoridades israelenses não estão fazendo o suficiente para protegê-los.
O ataque também foi condenado pelo embaixador alemão em Israel, Steffen Seibert. “A liberdade de imprensa e a segurança de jornalistas precisam ser garantidas. Diante da violência crescente de colonos extremistas, o trabalho deles [imprensa] é imprescindível”, escreveu no X.
Na sexta-feira, Seibert já havia postado na mesma rede que colonos extremistas “assediam e atacam comunidades palestinas regularmente, e isso precisa parar”.
Entidades denunciam aumento da violência na Cisjordânia
A Cisjordânia está desde 1967 sob ocupação israelense, em afronta ao direito internacional. O número de assentamentos israelenses na região tem crescido em ritmo acelerado nos últimos anos, e entidades de defesa dos direitos humanos apontam que isso veio acompanhado de mais violência contra palestinos por parte dos colonos, principalmente depois do início da guerra na Faixa de Gaza.
Os grupos são acusados de invadir repetidamente vilarejos palestinos portando armas de fogo, tacos de beisebol e pedras, incendiando casas e carros, além de campos e olivais.
Há relatos de famílias inteiras expulsas de suas casas durante a noite. Em outros casos, colonos uniformizados como soldados atacam cisternas de água, e bloqueiam vias de acesso para inviabilizar o sustento de agricultores palestinos e forçá-los a sair.
A mídia israelense e testemunhas oculares relatam que as forças armadas israelenses estão intervindo cada vez menos para evitar estes embates. Muitas vezes, dando apoio aos agressores.
“Durante anos os militares não agiram para proteger os palestinos, mas desde o 7 de outubro, quando a guerra começou, temos uma realidade onde as equipes de resposta rápida dos assentamentos, os colonos daqui, foram recrutadas como reservistas, e agora estão uniformizados, armados e totalmente equipados, com a autoridade de soldados”, disse à DW o ativista israelense Yehuda Shaul em novembro de 2023.
Conflitos entre colonos e as Forças de Defesa de Israel também são registrados. Há menos de uma semana, extremistas atacaram uma instalação militar israelense e atearam fogo no local. O ministro da Defesa, Israel Katz, defensor da ampliação de assentamentos, condenou veementemente as ações dos colonos.
A escalada de violência acontece enquanto o governo israelense anuncia novos assentamentos na região. Em maio, o ministro das Finanças de Israel, o político de extrema direita Bezalel Smotrich, afirmou que 22 novas colônias judaicas seriam criadas na Cisjordânia, marcando a maior expansão nesse território palestino em três décadas.
A expansão é defendida por políticos israelenses como uma forma de fortalecer o domínio sobre a região. “Não estamos tomando terras estrangeiras, mas a herança de nossos ancestrais”, disse Smotrich na ocasião.
ra (Reuters, AFP, kna, DW)