20/02/2020 - 12:11
Fátima – Apesar de todo o desenvolvimento da ciência e do surgimento da física quântica, o homem ainda explica o universo a partir da teoria de Newton, formulada no século 17. Por quê?
Casal Andreeta – Porque ele está condicionado a viver neste mundo que nós conhecemos. O homem comum não tem condições de ver a realidade através do prisma da teoria quântica, porque esse conhecimento é extremamente específico. De qualquer maneira, tudo o que você chama de alta tecnologia, o telefone, a televisão, as lâmpadas fluorescentes, o laser, está fundamentado na física quântica.
Fátima – Vamos supor que a física quântica passasse a ser ensinada no colégio e depois na faculdade. Isso não levaria a uma transformação da realidade, já que as crenças seriam diferentes?
Casal Andreeta – Sem dúvida. Você teria um mundo completamente diferente do que ele é. Do ponto de vista da física quântica, a mente prevalece sobre a matéria e não ao contrário, como a ciência está, até certo ponto, acostumada a colocar. Então, se a pessoa começa a ter uma compreensão da realidade fundamentada na física quântica, lógico que a mente tem de prevalecer sobre a matéria, e daí ela vai começar a dominar todo o processo de criação. Na verdade, nós já vivemos antes num mundo parecido com o da física quântica. Nossa primeira infância, por exemplo, era praticamente fundamentada nela. Não tínhamos nenhum condicionamento deste mundo em que nós vivemos, tudo parecia possível. E se continuássemos a acreditar nisso…
Fátima – Tudo seria mesmo possível…
Casal Andreeta – Exatamente! Imagine, por exemplo, uma pessoa que consegue fazer milagres, como Cristo ou um santo qualquer fazia. O que é o milagre? É tornar possível uma coisa que normalmente achamos que é impossível. Na verdade, a mecânica quântica é o reino de todas as possibilidades. O problema é que, na hora em que vamos “aprendendo” a viver neste mundo, vamos nos condicionando; perdemos, por exemplo, as nossas crenças, a fé naquilo que achávamos que podia ser possível. Se levarmos ao pé da letra o nosso entendimento da vida segundo a física quântica, vamos ter a seguinte condição: o mundo é da forma que nós acreditamos que ele seja; nós construímos o nosso meio.
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“A substância quântica é um mar de possibilidades”
Fátima – Curiosamente, há milhares de anos os místicos já conheciam ao menos parte desse universo quântico…
Casal Andreeta – De fato, há quatro mil anos, Buda dizia que a mente prevalece sobre tudo; ela domina e cria tudo. Hoje a mecânica quântica está chegando a esse ponto. Os físicos acreditam que, na hora em que vou medir uma partícula, eu a crio; antes disso, ela tinha uma dualidade, era uma partícula/onda, uma coisa completamente estranha ao que conhecemos. Ou seja, somente quando interferimos com a nossa mente, fazendo uma medição, aquilo que era uma onda colapsa e forma uma partícula de matéria. Vamos dizer que, no nosso universo, existe uma substância universal chamada substância quântica, que você pode chamar de éter ou de qualquer outro nome. Essa substância quântica é um mar de todas as possibilidades; aí tudo é possível.
A primeira coisa que você tem de fazer quando deseja algo é filtrá-lo desse quadro de todas as possibilidades. Depois que filtrou, isso ainda não é a coisa que você quer, é algo meio nebuloso. Então, você vai e o observa. No ato da observação, esse algo nebuloso e mal definido colapsa, se transforma naquilo que você quer, por exemplo, um elétron, um próton. É mais ou menos assim que a coisa funciona.
Fátima – Se transportamos para o macrocosmo essa questão da vontade em relação aos átomos, podemos dizer que temos a capacidade de modificar a realidade…
Casal Andreeta – Sem dúvida! Hoje a ciência já sabe que existe uma realidade maior que dá sustentabilidade a essa realidade newtoniana em que nós vivemos. Ou seja, os fenômenos quânticos é que vão dar origem a tudo o que existe. Só que eles têm tamanha complexidade que não podem ser compreendidos pelo intelecto humano; eles o transcendem. O cérebro foi criado para compreender o tridimensional, aquilo que nós vivemos no corpo físico. Para a física quântica, por exemplo, não existe mais um universo objetivo, quer dizer, eu aqui e o meu experimento lá; tudo é subjetivo, porque eu sou parte do experimento.
Fátima – Os átomos fluem, continuamente, de um corpo sólido a outro, incluindo-se aí o corpo humano, o que acaba nos tornando parte de um grande todo. Isso explicaria por que somos contaminados, por exemplo, pela violência ou pelo amor à nossa volta?
Casal Andreeta – Existem aí dois aspectos. O físico já sabe que o corpo humano troca todos os átomos a cada 2,5 anos. Como nós nos lembramos de coisas do nosso passado, deve existir alguma coisa além da energia e dos átomos que formam o nosso corpo físico: a mente. Nós acreditamos que não há como refutar a existência da mente. O que deve, portanto, transmitir as lembranças e os sentimentos talvez não seja a matéria (onde se acham os átomos), mas a mente.
Por outro lado, saindo um pouquinho da física e indo mais para a psicologia, Jung dizia que todo conhecimento está colocado em arquétipos. Quando você acessa esses arquétipos, é como se entrasse em uma biblioteca, abrisse um livro, tomasse consciência dos conhecimentos ali arquivados e, quando saísse dali, o deixasse aberto sobre uma mesa. Qualquer pessoa que entrasse ali leria o livro que você leu. Segundo a teoria junguiana, esses programas de televisão que dizem ser contra a violência, mas mostram violência o tempo todo, na verdade estão abrindo esse arquétipo, ou seja, criando mais violência.
“Poderemos ter um corpo saudável por um longo tempo”
Fátima – Se todo o nosso organismo é atomicamente recriado a cada 2,5 anos, nós não deveríamos ser pessoas sempre saudáveis?
Casal Andreeta – Veja bem, você está reconstruindo o seu corpo físico a cada instante. Mas como seria essa reconstrução? Se partir da premissa de que tudo é da forma que você acredita que seja, cada um tem o seu próprio mundo, dotado de elementos diferentes. Tudo o que acontece na nossa vida é aquilo que nós acreditamos que é inevitável, aquilo que temos certeza que vai acontecer. Se eu sei, por exemplo, que vou envelhecer e morrer, e não tenho o mínimo conflito sobre isso, isso é inevitável para mim.
átima – Em outras palavras, você está me dizendo que, se um dia conseguirmos acreditar piamente que a morte física não existe, nós vamos conseguir ser eternos…
Casal Andreeta – Não diria que seríamos eternos, porque parece que as células do corpo físico têm um tempo de vida limitado. Essa afirmação, no entanto, pode ser também mais um dos nossos condicionamentos. De qualquer maneira, poderemos ter um corpo saudável por um longo tempo. Se eu tiver plena convicção de que posso transformar esse gravador numa rosa, isso deve acontecer. Não tem essa, porém, de eu fingir que acredito. Parece que a nossa mente só cria aquilo que nós realmente acreditamos, e não aquilo que fingimos crer. Se eu estou com um problema no estômago, por exemplo, é porque acredito que tenho esse problema. E como dizem: mente sã, corpo são…
Fátima – Como a física quântica explica o caso de cura espontânea?
Casal Andreeta – Se você fizer essa pergunta, por exemplo, para um físico, ele vai dizer que não tem explicação para isso. Mas nós achamos que, se a mente prevalece sobre a matéria, se a sua mente acreditar na possibilidade de ser curado e não tiver conflito, você vai conseguir se curar. Agora, muitas pessoas vão dizer: “Não, física quântica é muito interessante, mas ela só funciona para o mundo microscópico e, na nossa realidade macroscópica, predominam as leis de Newton.” Para nós, isso é a mesma coisa que você dizer que um prédio é feito de tijolos, mas as propriedades do prédio não têm nada a ver com as dos tijolos.
“Se a mente não sobreviver, tudo fica sem sentido”
Fátima – De acordo com os conhecimentos que têm hoje, vocês diriam que a sobrevivência do espírito pode ser uma realidade?
Casal Andreeta – Evidentemente, a física quântica não consegue comprovar isso. Mas existe outro tipo de argumento que se deve colocar aí. Se não existe nada além da morte, para que vamos ser bons? Para que querer entender a natureza? Para que o conhecimento? Fica tudo sem sentido. Aliás, nós já sabemos que a mente existe e não morre; se ela não sobreviver, fica tudo sem sentido.
Fátima – E a reencarnação, é viável?
Casal Andreeta – Em princípio, nós achamos que essa é uma das teorias mais prováveis em relação ao que acontece depois da morte. Pelo menos é a mais científica. Seria até injusto não ter reencarnação. Por exemplo, imagine um a pessoa da favela para quem matar, estuprar e roubar é normal. Ela faz tudo isso porque o seu meio proporciona isso. Então ela morre, é julgada e vai para o inferno. E eu, que vivi em outro meio, recebendo um embasamento moral, vou para o céu. Eu creio que, se não tivesse uma reencarnação, estaria se cometendo uma injustiça com o bandido, pois ele não teve culpa de ter nascido naquele meio.