12/04/2025 - 7:38
Preso em março, Mahmoud Khalil participou de protestos na Universidade de Columbia contra guerra em Gaza. Governo Trump argumenta que ativismo, apesar de “legal”, poderia prejudicar política externa dos EUA.Uma juíza de imigração nos Estados Unidos decidiu nesta sexta-feira (11/04) que o ativista palestino Mahmoud Khalil – preso no início de março por autoridades de imigração do governo de Donald Trump apesar de estar no país em situação legal – pode ser deportado, porque as crenças dele supostamente ameaçariam a segurança nacional americana.
Khalil, de 30 anos, é estudante da Universidade de Columbia, uma das mais prestigiosas instituições de ensino superior do país, onde participou de protestos em solidariedade aos palestinos afetados pela guerra entre Israel e o grupo militante Hamas na Faixa de Gaza.
Em sua decisão, a juíza Jamee Comans cita uma carta do chefe da diplomacia americana, o secretário de Estado Marco Rubio, em que ele justifica a deportação alegando risco à segurança nacional – ainda que Khalil esteja agindo dentro da lei ao exercer seu direito à liberdade de expressão e de ativismo. Comans afirma não ter autoridade para se sobrepor a Rubio.
A magistrada, que atua em Louisiana, deu à defesa de Khalil prazo até 23 de abril para recorrer antes de começar a avaliar a emissão de uma ordem de deportação.
Mas segundo a agência de notícias Reuters, Comans não teria a palavra final sobre o destino do estudante. A deportação dele foi bloqueada juízes federais em Nova York e Nova Jersey enquanto eles analisam se a prisão violou ou não o direito do ativista à liberdade de expressão, direito fundamental garantido pela Constituição americana.
Ainda assim, o veredito de Comans representa uma vitória para Trump, que tem atuado para reprimir protestos contra a guerra em Gaza e deportar estudantes pró-palestinos que vivem no país legalmente e, assim como Khalil, não foram acusados pelas autoridades de cometer nenhum crime.
Khalil é detentor de um “green card” – autorização para residir e trabalhar nos EUA em caráter permanente –, e casado com uma cidadã americana, que está no nono mês de gestação. Ele é o primeiro estudante com residência permanente a ser detido como parte da repressão do governo Trump a protestos contra a guerra em Gaza, que se espalharam em universidades americanas no ano passado.
Mais de 300 pessoas ligadas aos protestos teriam tido seus vistos revogados desde que Trump assumiu a Casa Branca, segundo Rubio.
Leis de imigração estão sendo usadas para calar dissidentes, diz defesa
Khalil, um cidadão argelino, nascido de pais palestinos e criado na Síria, não foi acusado de nenhum crime. Ele está em um centro de detenção em Jena, Louisiana, a quase 2 mil quilômetros de distância de seus advogados de defesa e de sua mulher.
Dirigindo-se ao tribunal, o ativista citou uma afirmação anterior de Comans, de que legalmente nada era mais importante do que o devido processo legal e a justiça.
“Claramente, o que vimos hoje, [é que] nenhum desses princípios esteve presente – nem hoje, nem em todo este processo”, disse Khalil. “É exatamente por isso que o governo Trump me enviou a este tribunal, a mil milhas de distância da minha família.”
O governo Trump tem acusado estrangeiros que protestam contra a guerra em Gaza de serem antissemitas ou “pró-Hamas”, grupo que atacou Israel em 7 de outubro de 2023, deflagrando o atual conflito no Oriente Médio. O Hamas é classificado como uma organização terrorista por alguns países, incluindo Estados Unidos e União Europeia.
Os protestos geraram atritos com parte da comunidade judaica universitária, com alguns relatando terem sido importunados por manifestantes pró-palestinos ou discriminados por serem judeus ou por apoiarem Israel.
A Casa Branca acusa Khalil de se “alinhar a terroristas”, mas não apresentou nenhuma evidência que sustentasse essa alegação.
O advogado de Khalil, Marc Van Der Hout, criticou a decisão judicial desta sexta e acusou a Casa Branca de usar a lei de imigração para calar dissidentes. A defesa alega ter tido menos de 48 horas para avaliar os argumentos do governo Trump a favor da deportação, e disse que vai recorrer.
O caso de Khalil teve repercussão nacional, com críticos alertando para possíveis violações a direitos fundamentais assegurados pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA.
ra (AP, AFP, Reuters)