Inglaterra, Irlanda do Norte, Escócia e País de Gales tentam recuperar fluxo de turistas anos após saída da UE. Visitas de europeus caíram com novas barreiras para entrada nos países britânicos.Frustrado com a saída do Reino Unido da União Europeia em fevereiro de 2020, o britânico John Francis solicitou a cidadania alemã e, assim, pôde continuar viajando como cidadão da UE. Agora, ele mora na pequena cidade alemã de Obertshausen, onde dirige sua própria empresa, a Britain.de, que organiza casas de férias para turistas na Inglaterra, Escócia e País de Gales.

Contudo, para muitos moradores da União Europeia que não possuem o benefício da dupla cidadania, viajar a turismo para o Reino Unido se tornou inviável.

“Às vezes, havia muita incerteza entre meus clientes”, diz ele. “Eles tinham muitas perguntas, como, por exemplo: ‘O que será necessário para entrar no país no futuro? Haverá necessidade de visto? Precisa de um passaporte?”

A confusão geral sobre as novas mudanças, sem dúvida, levou a uma queda no número de pessoas que optaram por sair de férias na Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte.

No entanto, é difícil quantificar as consequências do Brexit no setor de viagens, já que a saída do Reino Unido do bloco coincidiu com uma queda no turismo devido à pandemia da covid-19.

“Não é possível dizer exatamente qual o impacto que o Brexit teve em termos de número”, disse à DW um porta-voz da agência oficial de turismo britânica VisitBritain. “Os acontecimentos dos últimos anos são complexos demais para isso.”

Entrada mais complicada para cidadãos da UE

A agência britânico defende que o movimento recente é oposto, com um aumento no fluxo de visitantes observados nos últimos meses.

As estatísticas mostram, porém, que países como Itália, Espanha e França escalaram seu número de visitantes mais cedo, com chegadas recordes de turistas registradas logo após arrefecimento da pandemia, em 2023. Naquele ano, o Reino Unido ainda recebia 38 milhões de visitantes anuais, quase 3 milhões a menos do que o registrado em 2019.

Além disso, em 2023, turistas dos EUA, Canadá e Austrália passaram a ocupar o espaço antes dominado pelos europeus no número de visitas ao Reino Unido. Comparado a 2019, houve uma redução no fluxo de viajantes da União Europeia para o país.

Viagens escolares despencam

Empresas que organizam viagens escolares do exterior para o Reino Unido também sofreram um impacto na era pós-Brexit.

Uma das mudanças trazidas pelo movimento é que os cidadãos da União Europeia agora precisam ter um passaporte para entrar no Reino Unido, enquanto antes era necessário apenas uma carteira de identidade.

A Tourism Alliance, associação comercial que representa o setor de turismo nos países britânicos, afirma que a nova regra levou a uma queda nas viagens escolares, resultando em perdas de milhões de libras em receita.

Christoph Knobloch, diretor administrativo da empresa alemã CTS Reisen, especializada em viagens de estudo e em grupo, também observou uma queda nas reservas devido à exigência do passaporte.

O custo adicional necessário para obter um passaporte funciona como um impedimento, especialmente para os estudantes mais jovens. E, diferentemente do que ocorria antes, alunos sem cidadania da UE também podem precisar de um visto, o que acarreta custos de até 300 euros, (R$ 1.860), diz Knobloch.

Não é nem mesmo garantido que o candidato ao visto será aceito. “Isso exige muita organização e muitos professores não querem correr esse risco”, afirma.

Escassez de mão de obra

As consequências são ainda mais evidentes na escassez de mão de obra.

Como os cidadãos da UE agora precisam de um visto para trabalhar no Reino Unido, dezenas de milhares de trabalhadores deixaram os países britânicos. De acordo com um relatório do governo escocês sobre os efeitos do Brexit, a falta de pessoal foi relatada por 45% das empresas de turismo nas áreas de Highland e Ilhas da Escócia devido à perda do trânsito livre.

Novo sistema de registro estará operacional a partir de 2 de abril

As mudanças que estão por vir podem dissuadir ainda mais os turistas.

A partir de 2 de abril de 2025, será obrigatório que os cidadãos da UE tenham uma Autorização Eletrônica de Viagem (ETA, na sigla em inglês), uma permissão digital para viajar ao Reino Unido.

Os visitantes do Reino Unido que atualmente não precisam de visto para estadias curtas, como os europeus, ou que ainda não têm status de imigração no território britânico, deverão solicitar a ETA antes de viajar.

Para obter o ETA, os viajantes devem se registrar por meio de um aplicativo on-line, o que pode ser um problema para aqueles que não têm muita experiência em tecnologia, dizem alguns críticos do novo plano.

O custo inicial do ETA será de 10 libras (R$ 74), embora um aumento planejado para 16 libras (R$ 118) já tenha sido anunciado. A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) criticou duramente a medida. “Não faz sentido desencorajar os visitantes com altos custos antes mesmo de eles colocarem os pés no país.”

Britânicos também enfrentam desafios

Por sua vez, os residentes do Reino Unido também enfrentam desafios de viagem à União Europeia, além da exigências do passaporte.

A UE também está introduzindo uma nova autorização de viagem, o Sistema Europeu de Informação e Autorização de Viagem, para viajantes provenientes de países que não precisam de visto para entrar na UE para fins de turismo, como o Brasil. Essa autorização deverá entrar em vigor em 2026 e custará 7 euros (R$ 43), embora alguns viajantes estejam isentos do pagamento da taxa.

Os viajantes também precisarão usar um sistema de registro on-line, o Entry/Exit System, EES, que deverá estar operacional em outubro de 2025.