Apesar da opinião de músicas ser subjetiva e variar para cada um, pesquisadores conseguiram determinar que os novos lançamentos possuem letras mais simples e repetitivas quando comparados aos últimos 40 maiores sucessos das últimas décadas da indústria fonográfica. O estudo foi divulgado na quinta-feira, 4. As informações são da Scientific American.

A cientista da computação da Universidade de Innsbruck, na Áustria, Eva Zangerle, também sugeriu que as músicas atuais contam com mais rimas e refrões do que as das últimas décadas. “Nós basicamente descobrimos que as letras ficaram mais fáceis de se compreender”. A mudança pôde ser observada nos cinco gêneros mais populares da língua inglesa – Pop, Rock, Rap, R&B e Country – desde 1970.

Foram compiladas 353.320 músicas lançadas de 1970 até 2020 e foi utilizado o machine learning para que as principais características de cada obra fossem analisadas e contabilizadas. Foram avaliadas questões como a repetição, o emocional, a legibilidade e a riqueza do vocabulário.

O estudo chegou à conclusão de que repetitividade dobrou nas músicas pop e aumentou ainda mais no rap, bem como a quantidade e tamanho dos refrões. Além disso, a pesquisa demonstrou que as músicas da atualidade trazem mais emoções negativas e usam o pronome “eu” com maior frequência.

Apesar disso, a pesquisa foi alvo de questionamentos, já que analisa apenas as músicas de língua inglesa e a complexidade das letras ou sentimentos que ela passa são subjetivos, já que obras que parecem raivosas ou violentas podem se mostrar de outras formas, conforme Robin James, um estudioso independente da música e da filosofia, e Michael Varnum, um psicólogo cultural da Universidade do Arizona – ambos não participaram da pesquisa.

Os especialistas ainda ressaltam que letras que podem parecer simples na realidade representam um jogo de palavras. Além disso, a composição é apenas uma das partes de uma obra e, de acordo com o etnomusicólogo do Wellesley College, Kaleb Goldschmitt, outras parcelas das músicas estão se tornando cada vez mais complexas.

Segundo Michael Varnum, tal mudança na música pode acontecer pelo fato de as pessoas estarem recebendo uma quantidade muito grande de obras, e portanto, tendem a preferir algo mais fácil de compreender e “digerir”. Outro fator importante de acordo com o psicólogo cultural é que muitos costumam consumir conteúdo da indústria fonográfica enquanto fazem outras coisas, deixando as músicas de fundo.

Eva Zangerle sugere que o streaming também mudou a forma como artistas interagem com o mercado, já que os ouvintes não precisam mais ouvir um álbum inteiro para escutar a faixa que querem, o que aumentaria uma pressão sobre os músicos para a produção de obras chamativas.